Li o artigo de opinião do Dr. Paulo Neves, Deputado do PSD-Madeira na Assembleia da República, publicado na edição de hoje do DN-Madeira. Trata-se de uma opinião, respeitável, como tantas outras. Como a minha, por exemplo. Mas, da mesma forma que eu, certamente, tantas vezes, incorri no erro de escrever sobre assuntos sobre os quais fui leviano, por ausência de conhecimento sustentável, aquilo com que fui confrontado é de um total desconhecimento sobre o que deve ser a Escola que responda aos desafios do presente e do futuro.
Li: "(...) só um governo irresponsável e refém do sindicato comunista dos professores - cujo líder pertence ao Comité Central do PCP - é que poderia aceitar acabar com momentos de avaliação. Fui aluno durante muitos anos, sou professor há muitos anos e tenho filhos a estudar e não tenho a menor dúvida que um bom ensino tem que ser muito rigoroso na disciplina e na avaliação. Aliás é a base da vida profissional. Logo também deveria ser a base do ensino para essa mesma vida. O facilitismo não prepara ninguém. Pelo contrário. Pois em Portugal o ensino continua a ser facilitista. Não avaliar com rigor o sistema, os professores e os alunos acaba por ser criminoso. As grandes vítimas são, naturalmente, os alunos. Em especial aqueles que não têm acesso aos bons colégios e às boas escolas. O futuro fica assim comprometido para milhares de jovens. É uma tremenda exclusão logo à partida. É por isso que nos rankings aparecem sempre escolas privadas à frente. Porquê? porque são mais exigentes com os professores e com os alunos. O governo PS-bloco-comunistas de António Costa cedeu nesta matéria anulando as reformas estruturais (poucas) feitas nos últimos anos nesta matéria. (...)".
Em política educativa, sinceramente, do ponto de vista do debate político, nunca tinha lido tamanha sequência de posições contrárias ao que está a acontecer por todo o lado, consequência da investigação. Poderia aqui deixar inúmeros exemplos de textos, livros, documentários, as análises profundas de investigadores e de autores em ciências da educação, as posições de filósofos, sociólogos, psicólogos, pedopsiquiatras, tantos que têm um olhar completamente diferente do Senhor Deputado Paulo Neves. Ao ler parte daquele texto do Deputado senti-me entre os séculos XVIII e XX. Não vou regressar ao meu pensamento sobre esta matéria, do tanto que tenho, humildemente, escrito a partir do que vou lendo, observando e questionando. Deixo, apenas um conjunto de perguntas, só a título de exemplo, que não se inscrevem na teoria do "facilitismo", da avaliação pela avaliação, mas do rigor de uma Escola que desperta para os "fenómenos complexos" da vida. Conhece o Senhor Deputado as bases mais elementares da estrutura do sistema educativo da generalidade dos países que apresentam resultados globais positivos na aprendizagem? Sabe o Senhor Deputado, que depois dos finlandeses, entre outros, os "jesuítas eliminaram as disciplinas, os testes e os horários das suas escolas? (...) Que nos colégios da Catalunha, nos quais estudam mais de 13.000 estudantes e que começaram a implementar um novo modelo de ensino que transformou as salas de aula em espaços de trabalho, onde as crianças adquirem conhecimento através de projetos conjuntos? (...) Que existe "um novo modelo pedagógico do qual desapareceram as palestras, as mesas de trabalho, os deveres e as aulas tradicionais, num projecto que começou no quinto ano da primária e primeiro da ESO em três das suas escolas e que será estendido para as restantes? (...) Que para "a realização do projecto, designado por "Horizonte 2020", os jesuítas derrubaram as paredes de suas salas de aula e tornaram-nas em grandes espaços para o trabalho em equipa, umas ágoras onde há sofás, carrinhos, muita luz, cores, mesas organizadas para o trabalho em grupo e acesso às novas tecnologias? (...) Que não têm disciplinas, nem horários, as saídas para o pátio acontecem quando os alunos decidem que estão cansados"? Que, segundo Aragay, "a escola é o lugar onde mais se fala em trabalho em equipa mas onde menos se pratica", situação que se soluciona com este método?" Que "antes de o implementar, os jesuítas recolheram 56.000 ideias de alunos, pais e mães e professores para melhorar a educação? Que "educar não é só transmitir conhecimentos", disse o diretor-geral do FJE, Josep Menendez? Que o "projecto promove "as inteligências múltiplas e extrai todo o potencial" dos alunos que fazem as actividades de aprendizagem de acordo com suas capacidades? Que "as disciplinas foram substituídas por projectos? "Por exemplo, se fizermos um projeto sobre o Império Romano, aprendemos arte, história, latim, religião e geografia", detalhou Menendez, e se há que aprender raízes quadradas para realizar um outro projecto, os alunos podem recorrer às unidades didáticas? Que "os alunos começam o dia com 20 minutos de introspeção e reflexão para considerar os desafios do dia e terminam com mais 20 minutos de discussão sobre se os objectivos foram alcançados?
O Senhor Deputado que leia aqui tudo o resto. Mas este é, APENAS, um exemplo. Em Portugal há trabalho, com resultados, seguindo vias diferentes. Na Escola Pública e em algumas escolas privadas, note bem. Ah, dá muito mais trabalho, lá isso dá, Senhor Deputado, mudar estruturas de pensamento, rotinas, convicções, currículos, programas e pedagogias. Aprendem melhor, pois aprendem. Passa a existir menos absentismo, mais gosto pela Escola, melhores resultados, menos repetências e menos abandono, também é verdade. Que há governos que lutam pelos direitos sociais para que a Escola não seja "remediadora social", também é verdade. Portanto, Senhor Deputado Paulo Neves, na política NÃO VALE TUDO. E antes de falarmos temos o dever de estudar, profundamente, os temas que desejamos abordar. Mas disto, pouco ou nada sei. Perante o que escreveu, enquanto representante do povo que o elegeu, certamente que eu, que apenas vou lendo o que outros escrevem e dizem, eu, repito, é que devo estar errado!
Ilustração: Google Imagens.
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