A iniciativa "Conferências do Casino" tem, obviamente, um enorme mérito. Quanto mais se discutir, neste caso, a Educação e o Sistema Educativo, melhor para o futuro de todos nós. Só através deste pressuposto poder-se-á romper o círculo vicioso da pobreza. E só assim pode a região almejar empresas mais consistentes, competitivas, de boa e estável empregabilidade, crescimento e desenvolvimento económico. É óbvio e não será necessário um grande conhecimento do sector educativo para entender isso. Portanto, parabéns ao Diário pela iniciativa. Mas uma coisa é a iniciativa, outra o que lá foi dito. Confesso que não tive a oportunidade de assistir, uma vez que, à mesma hora, encontrava-me envolvido em um debate do Gabinete Estratégico do PS-Madeira sobre o interesse ou não de um Representante da República na Madeira. Mas li o trabalho apresentado pelo DN que, julgo eu, traduziu a síntese dos aspectos mais relevantes assumidos pelos protagonistas desta primeira sessão das "Conferências do Casino". Se o objectivo foi gerar, à semelhança das Conferências do Casino (1871) a afirmação de um movimento de ideias que venha a contribuir para que os governantes não continuem surdos à investigação sobre os caminhos da sociedade, digo eu, então, que tal não me parece que tenha sido conseguido. É pena.
Ao ler a reportagem fiquei com a sensação que o Diário abriu o jogo e os convidados, qual metáfora, de baliza escancarada, ao invés de fazerem golos, acabaram por enviar bolas à trave e bolas claramente para fora. Sublinho isto porque a questão da educação e do sistema educativo, constituindo um processo com vertentes múltiplas e complexas, não se esgota na escola. Tem início na família, nos diversos constrangimentos geradores de pobreza, mentalidade, abandono e insucesso, os quais entram escola adentro, invadindo-a com esse conjunto de circunstâncias negativas. A questão central é, portanto, perceber e determinar como romper este círculo vicioso de forma integrada. E pasmo quando o secretário da Educação coloca o acento tónico na "empregabilidade que está relacionada com os resultados da educação". Pergunto, com a educação (qual educação?) ou com o sistema educativo compaginado com todos os outros sistemas? Disse mais, que não tem uma "varinha de condão". Digo eu, ao contrário do que sublinhou, que tem e que todos os antecessores tiveram esse poder da "varinha", mas não quiseram ou não souberam operacionalizar as mudanças transversais necessárias ao desenvolvimento.
Mudanças que não se circunscrevem ao "desajustamento existente entre a oferta formativa dos estabelecimentos de ensino e as necessidades do mercado de trabalho", como terá sublinhado Rui Bettencourt, director territorial e líder de projectos do Conselho Regional d’Île de France. O sistema educativo, caro Senhor, não prepara para as empresas e para muito trabalho escravo que por aí anda, antes prepara para a vida que é multifacetada. E assim sendo, constitui um erro político grosseiro o secretário pretender ajustar o sistema educativo às necessidades do mercado, com o tal "currículo formativo perfeito". Estes posicionamentos revelam alguma falta de esclarecimento sobre a compaginação entre as questões da Educação e as do Sistema Educativo. E a prova está no posicionamento de "Jaime Morais Sarmento, director de Recursos Humanos do Grupo Pestana que garantiu que muitos não estão preparados para aquelas que são as necessidades reais das empresas (...) e que caberá também aos estabelecimentos de ensino dotar os seus estudantes das ferramentas e noções necessárias para colmatar essa questão". Parece-me óbvio, uma vez mais, o desacerto conceptual sobre esta delicada matéria.
Se a sociedade está mal, meus senhores, a escola não pode estar melhor. O que realmente gostaria de ter lido, sobretudo por parte do secretário, era o seu projecto para o sistema educativo, em simultâneo, com as preocupações do governo para a educação que é muito mais do que a Escola. Simplesmente porque, pergunto, de que vale falar do fim de linha, quando os factores que estão a montante (económicos, financeiros, sociais e culturais) são, sistematicamente, ignorados, porém determinantes no êxito do sistema? Ora, se o sistema repete o passado, e se a organização social permanece nesse passado, o que podemos esperar no futuro? Apenas os mesmos resultados de ontem e de hoje. Em conclusão, é o sistema educativo que exige mudanças, a par de um profundo trabalho que terá de ser realizado a montante da escola. Um trabalho que, face à sua complexidade, é para muitos anos. Mas que terá de ser feito.
Se a sociedade está mal, meus senhores, a escola não pode estar melhor. O que realmente gostaria de ter lido, sobretudo por parte do secretário, era o seu projecto para o sistema educativo, em simultâneo, com as preocupações do governo para a educação que é muito mais do que a Escola. Simplesmente porque, pergunto, de que vale falar do fim de linha, quando os factores que estão a montante (económicos, financeiros, sociais e culturais) são, sistematicamente, ignorados, porém determinantes no êxito do sistema? Ora, se o sistema repete o passado, e se a organização social permanece nesse passado, o que podemos esperar no futuro? Apenas os mesmos resultados de ontem e de hoje. Em conclusão, é o sistema educativo que exige mudanças, a par de um profundo trabalho que terá de ser realizado a montante da escola. Um trabalho que, face à sua complexidade, é para muitos anos. Mas que terá de ser feito.
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário