No governo anterior e alguns outros mais para trás era o secretário do Ambiente e dos Recursos Naturais que, politicamente, fazia questão de estar em todas. Distribuía acenos de simpatia e muitos milhões para os "senhores agricultores". Ele era festa da anona, do pero, do limão, da cebola, da banana, eu sei lá, não havia fruta, bolbo ou cabeça de gado que escapasse para poder falar ao povo. Mudou o governo, a agricultura anda discreta, mas emergiu uma secretária da dita Inclusão e dos Assuntos Sociais que não fala de milhões, mas todos os dias tem qualquer coisita para acrescentar. A agenda é meticulosamente decomposta de tal maneira que um mesmo assunto ou a ele relacionado dá pano para mangas no plano político. Enche a semana. Nem conta se dá que tal exposição mediática e muitas vezes oca, por um lado, cansa e torna-se insuportável (e de que maneira!); por outro, fica à mercê das fragilidades da governação, quando a atenção é dirigida para as margens e não para o fundamental.
O tal ex-secretário, desaparecido do combate político (não apenas ele), prometia milhões e acredito que muitos chegaram aos "senhores agricultores"; a secretária da Inclusão e da Segurança Social, todos os dias, ilumina o céu político com uma girândola de iniciativas, desde conferências a encontros aqui e ali, mas de concreto, isto é, aquelas medidas com repercussão directa nas pessoas não são nem visíveis nem sensíveis.
Qualquer um é capaz de assumir: "Coesão social, um desígnio regional"; "Temos consciência que existem dificuldades e que a pobreza chega a muitas famílias"; "a inclusão e a igualdade de oportunidades decorrem forçosamente de uma aproximação à realidade e do conhecimento. Sem estas sobra a ignorância"; "Vamos valorizar e proteger a população menos jovem". Ora bem, qualquer pessoa, repito, diria o mesmo. Trata-se de um tipo de discurso politicamente correcto, o problema é que tantos disseram o mesmo ou coisa semelhante ao longo de quarenta anos de uma tal "estabilidade política". Não obstante, o número de pobres aumentou, o número de instituições de solidariedade social disparou, o desemprego descambou, a emigração é aquilo que se sabe, os jovens saem da Região e os que por aqui ficam andam desesperados, os idosos pensionistas perderam a esperança, enfim, quero eu dizer com isto que basta de palavras e mais palavras, basta de encontros e conferências que nada adiantam, apenas repisam posições centenas de vezes assumidas na Assembleia, quer no plenário quer na Comissão Especializada de Assuntos Sociais e, sucessivamente, chumbadas pela maioria PSD. Basta de espavento e de protagonismo sem mérito, pois aquilo que as pessoas desejam são as definições políticas claras, rigorosas, transversais, profundas e estruturantes que consigam resolver, a prazo, os vários défices sentidos pelas pessoas. A secretária da Inclusão, após um ano de mandato, o que denuncia é que a exclusão continuará a ser, infelizmente, o caminho para uma significativa parte do nosso povo. Não é com uma política de aparências, de palavras e de fotografia que os dramas sociais se resolvem.
Aliás, sendo a questão social transversal a vários sectores da governação, o que seria óbvio esperar era uma dinâmica que aglutinasse sectores, áreas e domínios em uma convergência programática. Mas isso não está a acontecer. É perceptível que a secretaria da Inclusão e dos Assuntos Sociais corre, alegremente, na sua própria pista, sem uma preocupação integradora. Corre, corre muito, para onde, não se sabe. Mas corre! E é lamentável, porque se há sector da governação, que a par da Educação e da Saúde, deveria merecer grande preocupação, menos paleio e mais acção, parece-me indiscutível que a Inclusão e os Assuntos Sociais deveria estar no topo.
NOTA
A propósito de um texto que aqui publiquei sobre o Banco Alimentar e o Laboratório Social, recebi um comentário que aqui deixo. Agradeço, uma vez que a minha leitura dos acontecimentos é partilhada por outros que, sem qualquer jogo partidário, apenas pretendem o melhor para a nossa comunidade.
"Anónimo disse...
Concordo totalmente com o teor do seu texto. Sem dúvida que há uma sede enorme de tudo controlar. Parceria? Cooperação? Pelas ruas da amargura... Oxalá esteja a ver mal e a entender pior, mas estamos a retroceder. Vale tudo para aparecer, é a corrida, a feira, os grupo de trabalhos de tanta coisa, a conferência, o workshop, o cabaz, os ranchos das casas do povo, a formação para voluntários, etc. É só acompanhar diariamente a comunicação social. Um frenesim estonteante. Não deixando de valorizar muitas destas iniciativas a pergunta é, o essencial está a ser cuidado? A pobreza continua a aumentar, os maus tratos também, há cada vez mais idosos sós e dependentes,o desemprego é grande, o trabalho precário veio para ficar, etc. (...)".
Ilustração: Google Imagens.
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