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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

ONDE SE FALA DE RADIAÇÕES POLÍTICAS NEFANDAS DO PORTUGUÊS, DA MATEMÁTICA, DAS EXPRESSÕES E DA INCAPACIDADE DE ALGUNS PARA PERCEBEREM QUE A ESCOLA TEM DE MUDAR


Estou a ler, página a página, absorvendo todos os conteúdos que as interlinhas da notável revista A PÁGINA me traz. A edição de Verão leva-me a ler e a regressar aos textos. Hoje cruzei três posições que me escorreram como mel. A primeira, de José Rafael Tormenta: "Tiago Brandão Rodrigues (ministro da Educação) herdou uma espécie de Chernobyl. O conservador Nuno Crato estendeu as radiações de efeitos nefandos às gerações vindouras; os caminhos para colmatar tudo isso não são simples nem evidentes. Ninguém desde o tempo de Salazar, o tinha conseguido de forma tão abrupta e num curto espaço de tempo. Crato não o fez só por opção política, mas sobretudo por uma sobranceria frequentemente própria de quem tem desconhecimento, neste caso das mais recentes teorias das Ciências da Educação".


A segunda , assinada por Lurdes Figueiral, da Associação de Professores de Matemática. Sobre a valorização do Português e da Matemática em relação às Expressões, sublinha: "(...) Esse é um caso que até parece que nos valoriza, mas é uma má valorização. Retirar a Matemática e o Português do equilíbrio curricular dá-lhes importância, sobretudo, de uma função selecionadora. Não quero meter-me na questão do Português, que não conheço em termos de didática, mas parece que o ensino do Português é um bocado perturbado pela mentalidade muito pragmática de obter resultados rapidamente, quando o importante, sobretudo nos primeiros anos de ensino, é o desenvolvimento equilibrado, harmonioso e completo das crianças (...) O futuro constrói-se no presente"; finalmente, Isabel Menezes, Catedrática da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação: "(...) John Dewey tem uma referência engraçada no "Democracia e Educação" sobre como, na escola, só admitimos que os corpos das crianças possam existir se estiverem sentados e quietos" (...) mas "se a gente reconhecer que os corpos deles podem fazer outras coisas (...) que as crianças aprendem muito a brincar (...)", digo eu, assistiríamos a processos de aprendizagem complexos e portadores de futuro. 
O problema de tudo isto, desta notória incapacidade para mudar o sistema, proporcionando-lhe espaço para uma aprendizagem que está muito para além dos manuais, é que "para quem só tem um martelo como instrumento todo o problema parece um prego". Frase tantas vezes repetida, mas sempre actual. E assim, o novo ano lectivo aí está, igualzinho aos anteriores, porque mudar, sobretudo para certas cabeças, dá muito trabalho. Esta Escola, ainda com resquícios de Nuno Crato, tal como salientou a minha Amiga Socióloga Ana Benavente, há cinco anos: "(...) nem prepara para o trabalho, nem para a vida, nem para a cidadania nem muito menos valoriza pessoas cultas, criativas, que gostam de ler e de aprofundar o que sabem (...)"
Ilustração: Google Imagens.

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