Fui lendo, pacientemente, as dezasseis páginas do caderno publicitário (incluído na edição do DN de Sábado último) da responsabilidade da secretaria regional da Educação. Números e mais números que me fizeram pensar três coisas: primeira, será que ando distraído e temos eleições para a semana? É que, normalmente, este tipo de encarte tem lugar em tempo de campanha eleitoral! Não, as eleições ainda vêm longe. Em segundo lugar, então, para quê este bombardeamento de números estatísticos à mistura com algum blá, blá, quando, qualquer pessoa atenta, grosso modo, os conhece? Finalmente, a explicação: perante tanta trapalhada que a comunicação social tem divulgado, perante um total vazio de ideias para a adequação do sistema educativo ao conhecimento que os séculos XX e XXI trouxeram, emerge, então, a necessidade deste "fogo de artifício" que espanta mas nada resolve. Os dados estatísticos existentes (incluindo aqueles que nos envergonham) dariam para encher o dobro das páginas. Só que hoje, passadas 48 horas, já ninguém se lembra do citado panfleto, porém, certo é o facto do sistema educativo continuar doente e ligado à máquina. Vegeta!
Julgo que só pode existir esta leitura. Li, no blogue "os renovadinhos", de autor não identificado, que esta iniciativa terá custado vinte mil euros. Se é esse o valor não sei. Gratuito, certamente que não foi. Lamento o gasto (não se tratou de um investimento), quando as escolas andam à míngua e quando o governo regional mantém uma indecorosa acção social educativa. Mas não é apenas isto que me choca. Pior é o vazio conceptual daquelas dezasseis páginas. Seria aceitável o investimento se trouxesse um pensamento estruturado sobre o futuro, se sentíssemos que ali estava a "ponta da meada" e que existia um sentido prospectivo cuja divulgação se justificava. Mas, nada disso, apenas a transposição da estatística pincelada a tons garridos, escondendo a que envergonha. Uma tristeza que acentua a gravidade de um dinheiro sem retorno.
Tudo isto faz parte de uma encenação. Foi o caderno, claramente, partidário, pago por todos nós e, hoje, o cortejo continua, de escola em escola, de visitas despidas de qualquer significado. O ano escolar já foi motivo de uma "cerimónia de abertura", portanto, pergunto, seja em que parte for, o que é que justifica, este rodopio dos políticos de escola em escola? Propaganda, apenas propaganda, quando há tanto a fazer por um sistema que privilegie a escola pública, direito de todos, assente na qualidade e na felicidade de toda a comunidade.
Ilustração: Google Imagens.
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