Com a solidariedade não só não se brinca, como não podem subsistir dúvidas quanto à aplicação dos meios. Por um lado, porque a fome de tanta coisa não pode esperar, por outro, porque descredibiliza as instituições ao ponto de poder contaminar, negativamente, quem demonstra ser solidário. Isto a propósito de duas notícias que li: "Governo Regional reforça acção social com dinheiro do futebol - descida do União à II Liga vai permitir reforçar o apoio financeiro à acção social escolar"; "Cáritas ainda tem 200 mil euros em donativos do 20 de Fevereiro - José Manuel Barbeito confirma os valores em caixa, mas acusa o governo de ainda não ter decidido o que fazer com as casas em situação de risco".
Estas duas notícias determinam que esta foi a semana do número 200, com a "terminação" 20 do fatídico Fevereiro de 2010. Na primeira, a leitura política que se pode fazer é que o futebol profissional, o tal que deveria estar enquadrado na secretaria da Economia e não na da Educação (as Sociedades Anónimas Desportivas são empresas) esteve e está em primeiro lugar do que o ataque à pobreza. Se sempre foi assim, só o facto do União ter descido de divisão é que possibilitará que a diferença de estatuto permita que a Acção Social Educativa, pelo menos teoricamente, este ano, venha a sentir o efeito dessa despromoção. E na próxima época, se o União subir, não sei, mas tudo leva a crer que os € 200.000,00 regressem aos cofres do futebol profissional. Duzentos mil euros que desta forma parecem constituir uma dádiva para quem passa fome, quando tais empresas que exploram o futebol levam, dos nossos impostos, 4,2 milhões de euros por ano.
A segunda notícia, hoje publicada, também assume foros de algum escândalo repartido, alegadamente, entre a Cáritas Diocesana da Madeira e o Governo Regional. Dos donativos de 2010, a Cáritas ainda dispõe de € 200.000,00 em caixa, o que não abona a favor da referida instituição. É óbvio que tem de existir rigor e prioridades na aplicação dos donativos "de um total de 1,8 milhões de euros recebidos entre 2010 e 2011", mas já são passados seis anos após a tragédia. Podem ser apontadas mil e uma questões relativamente à aplicação dessa verba, o que porém se sabe é que há pessoas que continuam, desesperadamente, à espera para reerguerem as suas vidas. Pese embora a meritória acção da Cáritas, o DN relembra que, a 24 de Setembro de 2013, esta instituição "tinha armazenado diverso mobiliário na cave do parque de estacionamento da freguesia da Serra de Água quando existiam agregados a necessitar por este tipo de utensílios". Se ontem foi chocante, hoje, continua a sê-lo.
Enfim, uma e outra situações dão que pensar.
Ilustração: Google Imagens.
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