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domingo, 23 de setembro de 2018

JOÃO CÉSAR DAS NEVES NÃO SABE NADA DE POBREZA, NÃO SABE O QUE É TER FOME!


O economista João César das Neves não sabe nada de pobreza. Ontem, sentenciou: "(...) Aumentar salário mínimo "é estragar vida aos pobres". Não foi a primeira vez que o disse. Repetiu, agora, com ar de absoluta convicção, embrulhando palavras e conceitos, ao jeito de uma caterpílar com parafusos soltos. Seja em que contexto for, por mais que a frase tenha um alegado enquadramento técnico, a frase constitui uma agressão a quem "a cada mês lhe falta mais mês. Pode ter um doutoramento e vários mestrados, pode ser catedrático, pode ter escrito muitos livros, pode ter sido, até, técnico superior do Banco de Portugal, de pobreza nada sabe. Nada sabe de fome. Há frases que não se dizem e muito menos se repetem. Elas transportam uma carga ofensiva de quem tem alguma disponibilidade para enfrentar as responsabilidades da vida, relativamente aos que lutam, diariamente, para poder sobreviver.

Nos tempos da crise ele disse isto!

Não sou economista, mas sou cidadão. Durante muitos anos, percorri ruas, becos, travessas, impasses, bairros sociais, escutei desabafos de pessoas, alguns que me comoveram, profundamente, porque sempre parti do pressuposto: se sou feliz por que razão os outros não têm essa possibilidade? Pressuposto, obviamente, que nos conduz a múltiplas análises de natureza, económica, financeira, cultural e social. Visitas que fiz e que muito me fizeram pensar, cruzar informação e estruturar um pensamento relativamente à pobreza. Pobreza em todos os sentidos. Ora, porque tenho a felicidade de transportar esses sentimentos vividos, não tenho a menor dúvida que o economista João César das Neves é um verdadeiro "pobre".
Tenho presente um caso muito recente. Uma família de três pessoas. O marido, infelizmente, cegou já em idade adulta. Um filho estuda música. A mãe desdobra-se entre um horário de cozinha em uma empresa e um serviço de apoio a uma casa. Os € 200,00 mensais que recebe pelos trabalhos de limpeza, palavras dela, transformaram a sua vida. Quem ganha € 600,00, e há tantos que nem a esse patamar chega, qualquer euro a mais pode fazer disfarçar as carências sentidas, em um país de gritante desigualdade. 
Não possuo dados de 2018, mas, em 2017, estava em situação de pobreza e exclusão 23,3% da população. Eram 25,1% em 2016, 26,6 em 2015, 27,5% em 2014. Quase 2,4 milhões de pessoas em risco de pobreza ou de exclusão social. Porém, para o Professor Doutor João César das Neves, é "estragar a vida dos pobres" o aumento do salário mínimo! É espantoso o que este homem anda a transmitir aos alunos. Se ele tirasse umas semanas e andasse pelo país real, apercebendo-se, na prática, o significado da "pobreza monetária" calculada em função dos rendimentos das famílias e o conceito de "privação material", medido pela incapacidade "de pagar a tempo e horas rendas e outras despesas, ou pela incapacidade de ter uma refeição de carne, peixe ou equivalente, de dois em dois dias", provavelmente seria comedido nas suas declarações. 
Não sei, apenas pressuponho, que aquele economista não sabe, porque não sente na carteira, o que é pobreza monetária e a privação material, uma vez que, um Professor Catedrático tem como salário entre € 4.664,97 e € 5.401,54 conforme os escalões em que se situe. Não está em causa o salário do Catedrático, para mim o que está em causa é quem aufere € 580,00 e que tem de pagar casa, energia, água, alimentação, comunicações, vestir, calçar, filhos e outras despesas com prestações, etc.. Portanto, João César das Neves, não sabe nada de pobreza. O problema é que lhe dão palco para ofender as pessoas.
Eu não vou tecer mais considerações sobre as Neves perenes deste César "imperador do conhecimento", apenas vou deixar aqui uma carta publicada, em Novembro de 2013, por Carlos Paz, também economista, a propósito da "maior parte dos pensionistas não serem pobres, fingem". 

Carta Aberta a um MENTECAPTO: 

Meu Caro João,
Ouvi-te brevemente nos noticiários da TSF no fim-de-semana e não acreditei no que estava a ouvir.
Confesso que pensei que fossem “excertos”, fora de contexto, de alguém a tentar destruir o (pouco) prestígio de Economista (que ainda te resta).
Mas depois tive a enorme surpresa: fui ler, no Diário de Notícias a tua entrevista (ou deverei dizer: o arrazoado de DISPARATES que resolveste vomitar para os microfones de quem teve a suprema paciência de te ouvir). E, afinal, disseste mesmo aquilo que disseste, CONVICTO e em contexto.
Tu não fazes a menor ideia do que é a vida fora da redoma protegida em que vives:
- Não sabes o que é ser pobre;
- Não sabes o que é ter fome;
- Não sabes o que é ter a certeza de não ter um futuro.
Pior que isso, João, não sabes, NEM QUERES SABER!
Limitas-te a vomitar ódio sobre TODOS aqueles que não pertencem ao teu meio. Sobes aquele teu tom de voz nasalado (aqui para nós que ninguém nos ouve: um bocado amaricado) para despejares a tua IGNORÂNCIA arvorada em ciência.
Que de Economia NADA sabes, isso já tinha sido provado ao longo dos MUITOS anos em que foste assessor do teu amigo Aníbal e o ajudaste a tomar as BRILHANTES decisões de DESTRUIR o Aparelho Produtivo Nacional (Indústria, Agricultura e Pescas).
És tu (com ele) um dos PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS de sermos um País SEM FUTURO.
De Economia NADA sabes e, pelos vistos, da VIDA REAL, sabes ainda MENOS! (...)"
Regresso ao princípio, a João César das Neves e ao Papa Francisco, porque César disse que existe "um aproveitamento ideológico da visão do Papa", quando no seu ponto de vista "o Papa não está a falar de economia, ele não pretende falar de economia, aliás diz que é alérgico à economia, o objectivo dele é anunciar Jesus Cristo, é a anunciar uma maneira diferente de fazer economia". Que paradoxo de um "académico"! Então, "anunciar uma maneira diferente de fazer economia" não corresponde a posicionar-se sobre a economia, sobre essa economia que nos trouxe "à miséria humana" (palavras suas e contextualizadas) e aos porquês das vagas de "imigrantes, refugiados, pobreza e escravatura" (palavras suas e contextualizadas)?.
Irrita-me este senhor que critica quem fale ou se aproveite das posições do Papa Francisco, quando é o próprio Papa a dizer que "esta economia mata". Não há paciência para este Professor de Economia! Parafraseando a máxima do Professor Abel Salazar, Patrono do Instituto de Ciências Biomédicas, embora em um contexto médico: "Economista que só sabe de Economia nem de Economia sabe."
Ilustração: Google Imagens.

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