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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

VIOLÊNCIA NA INSTRUÇÃO PODE SER CASO PATOLÓGICO


Portugal estava envolvido na guerra colonial. Fiz, tal como milhares, serviço militar obrigatório. A preparação para a dureza da guerra, à excepção dos Comandos de cariz muito mais exigente, decorria durante cerca de seis meses, três de recruta e três de especialidade. Fui atirador de infantaria. Passei por Mafra, Caldas da Rainha, Santarém, Funchal e daqui fui mobilizado para a Guiné Bissau. Aqui chegado, "despacharam-me" para a muito pouco agradável Guilége na fronteira com a Guiné Conacry. Seguiram-se meses de isolamento e tormento nas matas ao comando de um pelotão açoriano. Depois, uma passagem por Nhacra, Bissau e, finalmente, o regresso. Vivi momentos tensos que obrigaram a uma enorme amizade e solidariedade. Hoje, Portugal não está em guerra, apenas participa em missões de paz, algumas complexas, é certo. Apesar do quadro ser totalmente diferente, vejo militares morrerem nos Comandos e até para ingressar na GNR fomos há dias confrontados com actos de selvajaria na actividade de instrução. Ininteligível.


Em tempo de guerra, falo da minha experiência, nunca fui vítima de qualquer situação que excedesse aquilo que considero normal na instrução visando a hipótese de um teatro de guerra. Como é possível, interrogo-me, morrer durante a instrução, por uma violência gratuita? Estes casos, muito mais do que envolvê-los em inquéritos e penalizações, deveriam ser exaustivamente analisados a outros níveis. Afinal, o que se esconde por detrás das personalidades que actuam, recorrentemente, de uma maneira feroz, demonstrando comportamentos desajustados e absolutamente desequilibrados? Quais as perturbações de personalidade que definem os traços comportamentais de todo o quadro de responsáveis pela instrução? Não existirá nos casos que têm sido públicos razões de natureza patológica? E sendo assim, qual o eventual grau de angústias pessoais que conduzem alguns a ultrapassar o limite imposto pelo bom senso e respeito pelos outros? Não deveriam os instrutores serem submetidos a exames médicos de avaliação do seu estado mental? Pessoalmente, penso que sim.
No serviço militar e não só, tratamos os outros por "camaradas". E o significado desta palavra significa companheiro, amigo, pessoa tolerante e compreensiva. Se aquilo é ser "camarada", mesmo em um quadro de instrução, vou ali e já volto!
Ilustração: Google Imagens/JN     

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