Não faz o meu jeito retirar frases do contexto que as encerra. É perigoso, desonesto para além de induzir os leitores em erro. Portanto, não vou pegar nas palavras do Senhor Bispo Carrilho e conduzi-las ao meu moinho de escrita. O que está em causa é mais profundo, é a Mensagem de quase nulo significado. E tanto que há para dizer, do ponto de vista social, económico, financeiro e cultural de forma contextualizada com a Palavra. Fixei esta frase: "(...) importa, sem dúvida, conservar e renovar no seu verdadeiro espírito e significado as belas tradições natalícias (...)". Pois, em abstracto, qualquer pessoa concordará, mas não podia e não deveria ter ficado por aí e por mais algumas coisitas de somenos importância. Lamento dizê-lo, mas já não consigo aceitar generalidades, muito menos banalidades das hierarquias políticas e religiosas. Continuo a querer aprender! Quando repetem, das duas uma, ou não têm nada para dizer ou tentam esconder alguma coisa. Porque não interessa, certamente.
Devia o Senhor Bispo António Carrilho ter lido os últimos dois textos do Senhor Padre José Martins Júnior, publicados no blogue "senso&consenso" e aí encontraria o fio condutor de uma intervenção com a qualidade necessária aos tempos conturbados que estamos a viver. Deliciei-me a ler tais textos e, certamente, a muitos teria sido importante escutar a Palavra cheia de Mensagem. Eis um excerto: "(...) É de ver e pasmar a atenção dos mirones para as originalidades e ‘originalidezes’ de cada espécime de presépio, do mais rude ao mais pintado. E ninguém se lembra de interpelar aquela Criança, para fazer a única e necessária pergunta: “Que vens fazer aqui, Menino?.. Que é que te fez nascer por estas bandas?... Qual é o teu projecto de vida”?. (...)" E a partir daqui tanto, mas tanto teria para dizer aos fiéis.
O Senhor Bispo prefere a repetição que, de uma forma exemplar, o DN-Madeira, tem já algum tempo, publicou, comparando, julgo que dez anos de homilias, de onde concluiu que elas são "repetitivas". Percebo que não tenha tempo nem queira ler o Padre José Martins Júnior. Nem esse nem o Padre José Luís, nem outros que com exímia coragem e frontalidade escrevem e falam do exemplo de Cristo. Ainda por cima, o Padre da Ribeira Seca continua, com a "benção" do Senhor Bispo António Carrilho, vergonhosamente suspenso "a divinis". Percebo a dificuldade de pedir o perdão reconciliador, mas se a tal Justiça Divina existe, o Senhor Bispo Carrilho e os que o antecederam têm continhas a ajustar. E percebo também o porquê de, subtilmente, naquela frase inicial que deu o mote a este texto, ter falado em "conservar e renovar". Repito, não quero descontextualizar, mas, eu diria que, politicamente, fugiu-lhe a língua para a sua verdade: manter os que vieram em nome da "renovação" e, por isso, subliminarmente, que Deus os "conserve". As palavras são traiçoeiras e exprimem, muitas vezes, aquilo que trazemos em pensamento. As palavras não são neutras.
Seja como for, amanhã, no Te-Deum de Acção de Graças, com os eleitos perfilados frente ao altar, agradeça, Senhor Bispo, aos governantes, o facto deste povo catalogado de "superior", constituir a segunda região mais pobre do País. Agradeça-lhes um Sistema de Saúde que mantém 60.000 actos médicos em lista de espera (DN de hoje). Agradeça-lhes o facto da Madeira apresentar taxas que nos envergonham no abandono e insucesso escolar (65% da população da Madeira, com 15 ou mais anos, tem apenas até o 9º ano de escolaridade). Agradeça-lhes o facto de, passados tantos anos, não ser possível pagar, através do Orçamento Regional, um complemento de pensão a quem dispõe de prestações geradoras de pobreza. Agradeça-lhes terem produzido gente que enriqueceu à custa da Autonomia e da degradação dos direitos de quem trabalha. Agradeça-lhes a existência de quase 30% de pobres. Agradeça-lhes a produção em massa de gente deprimida. Fale disso e, por favor, não fale de fé e caridade! Até porque Cristo não tem nada a ver com os desmandos políticos.
Ilustração: Google Imagens.
NOTA
Endereços dos artigos do Padre José Martins Júnior:
http://sensoconsenso.blogspot.com/2018/12/natal-da-decepcao.html
http://sensoconsenso.blogspot.com/2018/12/devotos-destruidores-de-todos-os.html
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