A história da suspensão "a divinis" do Padre José Martins Júnior é conhecidíssima. É uma história que envergonha, desde logo, os três bispos após o 25 de Abril (Santana, Teodoro e Carrilho) e, por extensão, a própria Igreja da Madeira. Há, neste processo, um silêncio cúmplice de muita gente, em um evidente favor ao poder político, que acaba por ser desprestigiante para uma Igreja que fala e fala de amor e de misericórdia. Ora bem, digo eu, marimbem-se para as questões do Direito Canónico, e se, em tempo útil, o padre Martins não reclamou para as instituições superiores aquela não sustentada pena eclesiástica, imposta por um bispo em fúria, tenham a coragem de o julgar (o inalienável direito ao contraditório) ou verguem-se e peçam perdão pelas atitudes tomadas nos anos 70. Só é grande quem é humilde e isto vale para pessoas ou instituições. É execrável que andem há quarenta anos a triturá-lo, contra a vontade do povo da Ribeira Seca, a perseguir um Homem de enorme sensibilidade e humanidade. Tomara que muitos líderes seguissem o seu exemplo. Ainda ontem ouvi uma entrevista com o especialista em assuntos religiosos, Manuel Vilas Boas, jornalista da TSF que, a determinada altura, enalteceu: o Padre José Martins Júnior "colocou-se no sítio certo... ao lado do povo".
Parabéns à SIC pelo programa "Vidas Suspensas", uma oportunidade de todo o país conhecer a história e o pensamento de um Homem da Igreja, vítima do poder subterrâneo e submisso dessa Igreja, como disse Vilas Boas, "que não tem a mesma sensibilidade" para estar junto do povo. E é verdade. É sensível um genérico desajustamento entre a Palavra e a prática.
É claro que, do meu ponto de vista, o Padre Martins Júnior não tem a sua vida suspensa. É um Homem culto, característica que falta a muitos da hierarquia católica. Está consciente dos valores que o guiam e da missão que abraçou e desenvolve. O Povo gosta dele. Quem está no lado errado são aqueles que deram o primeiro passo, que atiraram a primeira pedra, negaram a Verdade, rasgaram a História e contrariaram a Palavra, por egoísmo e serviço ao poder político-partidário. Com isso ganharam umas migalhas. Parafraseando José Martins Júnior, a hierarquia reza, não pensa!
Martins Júnior foi suspenso porque "era comunista", alegou o bispo Santana. E que fosse! O bispo Santana referiu que até "sabia o número dele" no PCP! Ao ponto que chegou a mesquinhez. Martins Júnior é, sim, e tais bispos sabem, um Homem da solidariedade que serve a Igreja, que serviu o País na guerra colonial, serviu a Região enquanto autarca e deputado e até serviu o sistema educativo. Um Homem que não se deixou acorrentar aos tortuosos caminhos de um poder político castrador do pensamento. É um Homem de pensamento LIVRE. E isso teve e tem os seus custos.
Mas se fosse um homem vinculado a um partido político de direita, aí sim, teria sido abençoado e colocado no altar dos interesses da Igreja. Tudo isto deixa-me triste pelo Amigo, mas sobretudo pela triste imagem que a Igreja oferece. Aos bispos Teodoro e Carrilho, confessem-se, não se refugiem no Direito Canónico, peçam perdão, tal como o Papa Francisco o fez por outros motivos e circunstâncias. Respeitem mais de 50 anos de sacerdócio do Padre Martins Júnior. O Bispo António Carrilho deveria ter presente que muitos têm consciência das suas palavras relativas ao Bispo Francisco Santana, quando falou das suas qualidades humanas e da sua "lucidez e coragem" por ter defendido "intrepidamente as suas ovelhas" (05/03/2011). Está tudo dito. Se o problema nunca foi resolvido foi por conivência e plena aceitação dos interesses político-partidários.
Da minha parte fica aqui a confissão: estou cada vez mais próximo da Palavra de Cristo e cada vez mais distante dos homens que a violam. Porque uma coisa é ter Cristo como orientador dos princípios de vida; outra, é ser um católico vítima de uma instituição que se vende aos bocados. E por aí não vou.
NOTA
Ver texto do Padre Martins Júnior no seu blogue senso&consenso.
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