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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A pedrada no charco

 

Confesso que é assunto que não me interessa, mas não deixei de considerá-lo politicamente interessante (aqui). Sobretudo quando toca a um partido historicamente hermético, onde, lê-se e ouve-se, que a unidade de pensamento nunca está em causa, quando atira para os outros da praça política os desentendimentos, divisões e as jogatanas de bastidores. É curioso, por isso, quando, por um lado, se constata que na panela se encontram ingredientes incompatíveis que dão um amargo à coisa, por outro, porque se trata de engrenagens já divulgadas, desta vez, pasme-se, pela boca de uma figura do aparelho em exercício de funções! A curiosidade talvez resida aqui.



E lá vieram impropérios na defesa da tal suposta unidade. Desde "sonso" a "pessoa que não presta", até ao subtil convite à saída do partido, um pouco de tudo li. Eu diria que o Senhor Deputado na Assembleia da República foi sincero, disse a sua verdade com honestidade, e aqui não é aceitável a posterior desculpa que tais declarações foram produzidas em "off". Foram assumidas e, certamente, correspondem à sua leitura de processo. Compreendo a necessidade de um pouco de água sobre o fogo que gerou, mas não existe, deduzo eu, leviandade no sentimento. 

A grande questão aqui é outra e complementar. Não é a da pontinha do icebergue que interessa, mas a transparência de toda a história construída ao longo de 47 anos de poder consecutivo. Há, obviamente, momentos marcantes que ajudam a compreender o exercício da política, os desentendimentos estritamente derivados dos relacionamentos internos, absolutamente naturais em qualquer organização, até aos outros, mais complexos, que jogam no tabuleiro dos alegados interesses económicos, financeiros, dos favorecimentos, das protecções ao jeito de toma lá dá cá, dos designados enriquecimentos "mal explicados", utilizando a expressão do falecido Professor Virgílio Pereira, o rasto e interdependência da monumental dívida contraída de 6.3 mil milhões (quando se dizia que não passava de 2 mil milhões) que levou o Dr. Vítor Gaspar, Ministro das Finanças, a assumir que: "a situação da Madeira é insustentável". O que está para baixo da pontinha do icebergue é que julgo ser importante que, aliás, nas eleições regionais de 2011, levou o Dr. Maximiano Martins, candidato do PS, a produzir uma síntese de enorme significado político, quando falou de uma "conspiração do silêncio". Isso é que me parece relevante. No fundo, conhecer a história dos sucessivos governos, aquilo que é relevante, com toda a transparência possível.

Não por uma atitude persecutória, de abrir armários e deixar cair os esqueletos, mas o de conhecer "segredos embaraçosos" que os há, com toda a certeza e que pesam sobre toda a população. Há uma imensidão de laços e de entrelaços. Convicto estou, por isso, que entre o que se apresenta na montra e aquilo que se encontra no armazém há uma substancial diferença. 

Não sei se será um pormenor ou um pormaior o que disse o presidente e companheiro de partido: "(...) sempre que sentires umas pedras nas costas, lembra-te da última pessoa a quem fizeste o bem". Esta frase, no plano interno e, porque não, externo, transporta o cheiro do favor e não o da competência; transporta, também, a preocupação de toma lá e cala-te, exactamente aquilo que, no discurso político, é severamente criticado nos outros.

Enfim, o problema é que este episódio da novela valerá por si. Não terá continuidade, sobretudo porque não existe investigação séria numa região que, neste particular, é um caso de estudo (em todos os quadrantes). É mais fácil aniquilar o mensageiro do que perceber a mensagem! E a vida continua...

Ilustração: Google Imagens.

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