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sábado, 7 de janeiro de 2023

Ai os telhados de vidro...

 

A propósito de uma série de desagradáveis e quase inexplicáveis situações que conduziram à demissão de alguns governantes na república, o presidente do governo regional da Madeira assumiu, no decorrer de uma visita ao campo de golfe do Santo da Serra: "(...) Muito tempo no poder (...) perdem a noção da realidade. É o que está a acontecer". 



Não deixam de ser politicamente curiosas as declarações proferidas. Imagine-se um partido com 47 anos de poder ininterrupto comparado com um outro de participação intermitente e que apenas ocupa a liderança do país nos últimos sete anos. São quase sete vezes mais, se considerarmos a permanência ininterrupta! Imagine-se, pois, as ligações "(...) a amigos e parentes" ao longo de quase meio século consecutivo! Parece-me óbvio que, ao contrário do país continental, onde a liberdade na comunicação social conduz a que os portugueses tenham conhecimento de situações absolutamente criticáveis, por aqui, na Madeira, se outras fossem as possibilidades em esmiuçar o que se se esconde por detrás da cortina, proporcionalmente, porventura descobrir-se-iam sete vezes mais os podrezitos da governação. 

Mas isso é, para já, impossível. A teia foi urdida durante muitos anos, a malha é, por um lado, extremamente larga o que possibilita fugas imensas ao escrutínio; por outro, as interdependências familiares e muitas outras são tão significativas que ninguém, para além de umas tentativas na Assembleia Legislativa, se atreve a dizer "alto e parem o baile". Porque há medo na população em geral. Há ausência de sentido crítico. Há iliteracia política e há pobreza. E se é empresário pior, ainda, convém manter a serenidade. Neste quadro, é óbvio que não há necessidade de mudar seja lá quem for (até por incompetência), não podem existir escândalos, para mais quando é sabido que uma hipotética denúncia é logo silenciada. Daí o desaforo de quem julga que não tem telhados de vidro.

Não sei até quando os muitos silêncios perdurarão. Se olharmos para a História talvez haja esperança, uma vez que são cíclicas as revoluções. Quando uma delas acontecer será caso para assumir que "(...) por muito tempo no poder (...) perderam a noção da realidade". 

Ilustração: Google Imagens.   

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