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segunda-feira, 13 de julho de 2009

MAIS UM ANO PERDIDO: CONTINUAM A PADRONIZAR DO SISTEMA EDUCATIVO

A Revolução Industrial centrou-se, na feliz síntese de A. Toffler, em seis princípios: concentração, centralização, especialização, estandardização, maximização e sincronização. Podemos dizer que estes princípios entraram, também, na escola e, passados mais de duzentos anos (basta ler a ideia expressa por Adam Smith, em Pesquisa Sobre a Noção e as Causas da Riqueza das Nações), embora pintados de fresco, continuam a constituir a sua matriz orientadora.
F. Taylor, H. Fayol, Elton Mayo, Max Werber e Von Bertalanfy, entre outros, desenvolveram várias teorias da organização, gestão e administração, todavia, a Escola, ou melhor dizendo, o sistema educativo, manteve-se, grosso modo, condicionado a esse código da Civilização Industrial consubstanciado naquelas seis palavras-chave:
CONCENTRAÇÃO
O século XIX e a primeira metade do século XX foram caracterizados por grandes concentrações, provocadoras de grandes enclausuramentos. O princípio concentracionário que foi determinado pela divisão do trabalho o que possibilitou padrões de eficiência mais elevados. Foi o tempo da construção de grandes escolas; dos grandes estádios construídos para milhares de espectadores; foi o tempo da macrocefalia dos grandes centros.
Comentário: por aqui continuam a apostar em estabelecimentos de ensino para 1.000, 1.500 e mais de 2.000 alunos, numa lógica contrária às exigências gestionárias dos novos tempos.
CENTRALIZAÇÃO
A Centralização do poder dominou toda a Sociedade Industrial. Refiro-me à centralização do comando e da informação. O sistema era simples pois processava-se da unidade de comando à descentralização da execução. Há autores que designam essa centralização como uma espécie de “psicomotricidade organizacional”, em que existe um órgão que pensa e vários que executam.
Comentário: A Escola continua como há muitos anos. Tome-se em consideração, por exemplo, a configuração dos organigramas que se desenvolvem mais no sentido vertical do que no sentido horizontal. O Doutor Licínio Lima, da Universidade do Porto, tem uma síntese que ilustra esta situação: "sejam autónomos nas decisões que já tomámos por vós". Enfim, continuamos com processos centralizados e pesados de gestão sendo sensível a ausência de coragem para encetar novos processos organizacionais através dos quais se procure a eficiência e a eficácia no quadro da liberdade de agir, com responsabilidade, claro.
ESPECIALIZAÇÃO
A especialização, no essencial, determina o grau em que o trabalho é dividido (Chievenato, 1979). Mas isto pode conduzir e conduziu à completa desumanização. Henry Fayol observou que em 7882 postos de trabalho: 944 requeriam homens fortes; 3338 homens vulgares; 670 por homens sem pernas;2637 por homens só com uma perna; 2 por homens sem braços; 10 por homens cegos. Este princípio também foi aplicado a tantas áreas profissionais quer ao nível micro como ao nível da macro das organizações. Trata-se do trabalho triturador e racionalizado. Digamos que correspondeu ao indivíduo hiper-especializado mas esmigalhado, agente passivo e exclusivo de uma operação que visa o alto rendimento (Brohm, 1972).

Comentário: Riccardo Petrella, Conselheiro na Comissão Europeia e Professor na Universidade Católica de Louvain (Bélgica), fala das cinco armadilhas para a educação e de uma cultura de guerra, a saber:
1. Primeira armadilha: “A crescente instrumentalização da educação ao serviço da formação dos recursos humanos”. Isto é, o recurso humano, habilmente, passou a ser considerado como uma mercadoria económica. Melhor dizendo, direitos a um canto, porque o que interessa é o rendimento do Homem ao serviço da economia;
2. Segunda armadilha: “A passagem da educação do campo do não mercador para o do mercador”. É a educação considerada como um grande mercado;
3. Terceira armadilha: a educação “é apresentada como um instrumento-chave da sobrevivência de cada indivíduo” (...) nesta era de competitividade mundial. No essencial, dir-se-á que a escola está transformada no lugar onde, subtilmente, se aprende uma cultura de guerra;
4. Quarta armadilha: a da “subordinação da educação à tecnologia”. Ora, a mundialização é filha do processo tecnológico pelo que resta à educação fornecer os instrumentos de adaptação ao pensamento único;
5. Quinta armadilha: “a utilização do sistema educativo enquanto meio de legitimação de novas formas de divisão social”, isto é, uma sociedade dividida entre qualificados e não qualificados, entre os que dominam o conhecimento e os excluídos desse acesso.
ESTANDARDIZAÇÃO

A Sociedade Industrial estandardizou tudo: os salários, benefícios, horas de trabalho, tempo de repouso, inquéritos, livro de reclamações, currículos, testes de inteligência, normas de admissão, padrões de conhecimento, línguas, pesos, medidas, etc. Também a Escola foi estandardizada. Há elementos que o provam: os sistemas de valores, insígnias, regras, normas, distintivos, emblemas, rituais, cerimónias e crenças que motivam e projectam as actividades escolares. É, podemos dizer, o próprio quadro normativo (o regulamento interno) que, em última análise, acaba por configurar o envolvimento cultural do sistema educativo. A questão que se coloca é a de saber até que ponto se deve estardardizar.
Comentário: Continuam a padronizar as funções, com a consequente formalização consubstanciada em rígidos documentos, manuais, instruções, procedimentos e regras, limitadores da autonomia das escolas e do exercício da função docente, que vão ao ponto de quererem todas as escolas a cumprir o que é ditado por uma pressuposta "cúpula pensante".
MAXIMIZAÇÃO
A Sociedade Industrial deixou-nos a ideia que o grande é belo. Hoje sabe-se que o grande levanta graves problemas de gestão. Grande significa complexidade que em termos organizacionais resulta em ineficiência, burocracia e comunicações estranguladas. Tofller avança com a ideia que a sociedade da 2ª Vaga é portadora de uma macrofilia obsessiva.

Comentário: O grande e se possível o maior tornou-se sinónimo de êxito, de eficiência, de sucesso, de utilidade e de prestígio. Hoje já não pode ser assim. As pequenas unidades destinadas a uma comunidade educativa numericamente pouco expressiva apresentam incalculáveis vantagens. A Escola deixa de ser números para centrar-se nas pessoas, enfim, as relações e o sentido de pertença aumentam.
SINCRONIZAÇÃO
Na Sociedade Agrícola, a sincronia necessária ao trabalho era determinada pelos ritmos da natureza e pelos cantares populares durante as horas de trabalho. O sistema estava ligado à noção de tempo, nas suas diversas categorias, a partir das quais se organizava a vida dos homens e das sociedades. O mundo industrial, esse, passou a ser dominado pela máquina e pelo cronómetro, isto é, um tempo associado ao dinheiro, portanto, a um custo de utilização do tempo. Hoje, assiste-se a uma nova perspectiva do tempo: o desenvolvimento do sector dos serviços; a entrada das mulheres no mundo do trabalho; as novas estruturas familiares; os novos hábitos recreativos e o impacto das novas tecnologias. Tudo isto implicou e implica que, de facto, tenhamos de estruturar a organização do sistema educativo para tempos que são obviamente de mudança contínua.
Comentário: Ora a Escola não está preparada para este novo tempo, pois continua livresca e de "manual de instruções" quando deve ser permeável e situar-se, defendo eu, na teoria da Escola Organizacional Sistémica que tem por mentor Von Bertalanfy (1950/1968). É uma escola que considera mecanismos de retroacção, de imput e output. Estamos, portanto, na Teoria Geral dos Sistemas que considera a organização como um ente vivo que processa informação. Sistema aqui entendido como um conjunto de unidades reciprocamente relacionadas que envolve os conceitos de: propósito ou objectivo a atingir; globalismo, isto é, o sistema com uma natureza orgânica onde qualquer estimulação em qualquer unidade afecte as demais; entropia, isto é, uma tendência para o desgaste, desintegração e aumento do aleatório, o que significa a necessidade de uma permanente alimentação informativa; homeostasia, estabelecido no equilíbrio dinâmico entre as partes do sistema. Significa isto que a Escola deveria constituir-se n
um Sistema Aberto onde se verifiquem relações de intercâmbio com o ambiente. Um sistema destes é adaptativo, não vive no isolamento. Porém, o que hoje se constata é que a Escola está isolada, não consegue adaptar-se pois segue as lógicas em que se fundaram os princípios da Sociedade Industrial.
CONCLUSÃO:
Este Sistema e esta Escola NÃO TÊM FUTURO, pois, globalmente, é uma Escola para dar respostas aos problemas do passado. Nós precisamos de uma Escola que antecipe e de respostas ao futuro!

2 comentários:

António José Trancoso disse...

Caro André Escórcio

Muito bem! Brilhante!

No entanto,para a "culta" nomenklatura açambarcadora,este estudo não será muito mais hermético que um discurso em chinês?!

André Escórcio disse...

Obrigado, Caríssimo Amigo.