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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

OU SIM OU SOPAS...


Na altura já tínhamos quase vinte anos de jardinismo e esse facto implicava a definição de uma estratégia de poder devidamente concertada. Lutámos por isso, mas as contingências políticas impediram sempre que essa estratégia fosse assumida quer os socialistas estivessem no poder ou na oposição. Dir-se-á que senti sempre que o PS nacional preferia que "merecessemos para ter" ao invés de "semear para recolher".


Há uma história de luta contra certos procedimentos. Lembro-me, em 1996, por aí, em nome da direcção do Dr. Mota Torres, assinado por todo o Secretariado, ter escrito uma carta ao Engº António Guterres. Já lá vão 15 anos. Nessa carta equacionámos as relações entre o PS Nacional e a Federação do PS na Região Autónoma. Um longo dossier de preocupações devidamente sistematizadas. Já nessa altura e até muitos anos antes, todos sentíamos um certo desconforto nas relações institucionais. Dessa exaustiva carta resultou um encontro com o Dr. Jorge Coelho (na Madeira), um outro com o Dr. António José Seguro (na sede Nacional) e, mais tarde, o Engº José Sócrates acabou por ficar com a responsabilidade da articulação entre o Secretariado Nacional e a Direcção do PS na Madeira. Lembro-me, inclusive, de uma reunião que tivemos na velha sede na Rua do Surdo, ao longo de uma manhã de Sábado, com José Sócrates. Isto para dizer que, por aqui, nunca houve um sentimento de se vergar a uma posição nacional. Dir-se-á que fomos engolindo e calando. Sentíamos que uma coisa era seguir princípios ideológicos, outra a condução política regional. E sublinho que sempre esteve presente uma rejeição a qualquer paternalismo, até porque nos competia resolver os problemas locais, todavia, não aceitávamos que complicassem a nossa actuação política. 
Na altura, já tínhamos quase vinte anos de jardinismo e esse facto implicava a definição de uma estratégia de poder devidamente concertada. Lutámos por esse desiderato, mas as contingências políticas impediram sempre que essa estratégia fosse assumida quer os socialistas estivessem no poder ou na oposição. Dir-se-á que senti sempre que o PS nacional preferia que "merecessemos para ter" ao invés de "semear para recolher". E mais, alimentei o sentimento que para o PS-Nacional, a Madeira era um caso perdido. Daí a onda de ministros a tecerem loas ao governo da Região que culminou com o disparate político do Dr. Jaime Gama no Congresso Nacional das Juntas de Freguesia. Todos se lembrarão que de “Bokassa da Madeira”, Jaime Gama promoveu o Dr. Jardim a “notável (…), responsável por uma “conquista extraordinária” e por “um feito ímpar” na Região".
É evidente que não podem ser assacadas todas as culpas ao PS Nacional. Nós tivemos as nossas fragilidades e não foram poucas. Alguma turbulência interna, consequência dos inêxitos eleitorais. Mas a verdade é que o saco foi enchendo e, hoje, já não há saco que aguente a ausência de articulação, daí tornar-se para mim muito clara a necessidade de uma ruptura, pois uma coisa é a matriz ideológica que une os socialistas, outra é o caminho que, na Madeira, o partido deve seguir em função dos contextos políticos locais. E o partido, neste aspecto, nunca percebeu, ou se percebeu alheou-se, que esta não é uma Federação qualquer, igual à do distrito de Lisboa, Santarém ou Porto. Bastará que se "pese" a produção de trabalho político diário entre esta e qualquer outra Federação. Ademais, é uma Federação sediada numa Região Autónoma, com um governo ininterrupto do mesmo partido, com uma monumental teia de interesses, onde o medo se instalou, onde existe uma governamentalização de todas as instituições, onde a sociedade civil foi capturada e onde tentam condicionar a comunicação social. Ora, isto implicaria, necessariamente, uma estratégia partidária concertada que passaria, inevitavelmente, por múltiplas variáveis. Estou a falar de relações partidárias, diferenciando, por isso, as relações dessa natureza com as relações institucionais que se colocam governo a governo. Mas não sejamos anjinhos neste processo! Há ministros e secretários de Estado que se esquecem que são militantes do PS e se o são devem-no ao PS.
Daí que entenda este "grito" que o Dr. Jacinto Serrão pretende dar com a apresentação de uma Moção de Estratégia Global no próximo Congresso Nacional. Tem riscos, obviamente que sim. Mas são riscos calculados e menores. A História faz-se também de rupturas com o passado. Não está em causa, pelo menos defendo isso, afrontar a liderança do actual Secretário-Geral Engº José Sócrrates, mas no espaço próprio dizer o que vai na alma dos socialistas da Madeira o que, pelas vias normais, durante anos nunca foi entendido. Talvez, assim, acordem e o quadro mude.
Desta Moção, ou melhor, desta atitude de frontalidade política, penso que tem de ficar claro, junto de todos os madeirenses e porto-santenses que o PS, na Madeira, tem uma estratégia política própria para a Região. Demarca-se do PS Nacional, no quadro da sua autonomia partidária, não se confunde com as orientações tendencialmente neo-liberais, tem, convictamente, uma posição de centro-esquerda que não se confunde com o centro-direita. E mais do que isso, tem uma concepção alargada e séria da AUTONOMIA político-administrativa da Região, mas de raíz não conflitual. Penso que tudo isto terá de ficar muito claro. A bola, portanto, está do lado de José Sócrates. Ou manda para fora ou aproveita a oportunidade para conjugar esforços no sentido da actividade socialista na Madeira ganhar rumo.
O Dr. Jacinto Serrão tem em mãos uma tarefa muito difícil até pelos laços de amizade que tem nos diversos órgãos nacionais do PS. Mas também é verdade que é ali, no Congresso, que o Partido deve resolver os seus problemas internos. A Democracia interna dispensa "missas", antes faz apelo à frontalidade e à correcção das orientações.
Ilustração: Google Imagens.

6 comentários:

Capitão de Mar disse...

Pode haver a interpretação dos "ratos" a fugir do navio que se afunda.
Sócrates é uma letra vencida.
Só está lá para ter que ser ele a tomar as medidas que se impõem (afinal foi ele e o PS que levaram o País a essa necessidade).
Os que vierem a seguir deverão arrancar do zero (abaixo disso) mas as medidas duras devem ficar com quem as procurou (o PS e Sócrates).
Claro que agora, todos vão se demarcar do descalabro que aí vem para o PS.
Todos vão se escapar do barco (ou do taxi a que deverá ficar reduzido o partido)...
Soares, Benavente, Lacão, César, Serrão...
Claro que todos vão tentar encontrar razões e justificações, mais ou menos longas, para o abandono do barco. Como esta.
Mas todos entendemos.

Ramos disse...

Pois. Todos os produtos têm um prazo de validade. Sócrates já era. Toca a descartar.

André Escórcio disse...

Obrigado pelos vossos comentários.
Sabem,certamente, que eu nunca fiz da política uma profissão. Mais. Nunca fui de estar por oportunismo, mas conheço, por aí, muito boa gente que me confidencia coisas do PSD, mas que não têm coragem para assumir. As minhas posições dizem-me respeito e ponto final.
Mas quero dizer-vos que manda a honestidade intelectual que José Sócrates não tem culpa da complexa situação internacional. O mesmo Primeiro-Ministro que reduziu o défice de quase 7% (PSD) para menos de 3% (PS) é o mesmo político que hoje se confronta com uma situação financeira complexa. Isto para não ir mais atrás, aos tempos do Professor Cavaco, cujo défice andou pelos 9%. Talvez, por isso mesmo, existindo muitas culpas no cartório, o PSD não queira, ainda, ir "ao pote".
Depois, penso que foi claro na minha abordagem: não está em causa a estabilidade que pretendo para o País; está em causa sim problemas de relacionameto interno, se quiserem, de estratégia. E os problemas internos resolvem-se nos órgãos próprios do Partido e, por extensão, no Congresso. Era o que faltava eu não ter essa liberdade de dizer o que penso.
Pior está o partido cujos militantes não podem falar...

Pica-Miolos II disse...

Senhor Professor

"Mais vale tarde,que nunca!"

Espaço do João disse...

Meu caro André.
Tenho seguido seus passos mesmo à distância e, reconheço-lhe um especial valor.
Estou completamente de acordo consigo. Aliás o ditado está sempre presente:- Uma só andorinha não faz Verão, mas anuncia a sua proximidade.
Acredito na sua combatividade, mas só não chega. É preciso que o rectângulo puxe também e, não só... Conhecendo os poderes instalados, as negociatas, os favoritismos,os apadrinhamentos, é tempo de dizer basta.
A Madeira, é um JARDIM, não é do jardim.
Um solidário abraço.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário, João.
Agradeço as suas palavras. De facto, sem colocar em causa princípios, a situação a que esta terra chegou, de tentáculos por todo o sítio, precisa de uma estratégia comum, de ligações que ajudem ou, pelo menos, não desajudem!
Não gosto, meu Caro, de combater para dentro porque o adversário político está fora. Mas há momentos que necessitamos, no sítio próprio, agitar consciências adormecidas.