Não basta ter o instrumento, interessa saber como criar e gerir o pensamento estratégico, pois como sublinhou Mark Twain, quando se tem apenas um martelo como instrumento, todos os problemas parecem pregos! É isso que se passa com este governo regional.
Mais competências, disse o Presidente do Governo. A palavra pode ter dois sentidos, desde logo, pode ser interpretada como necessidade do governo da Madeira precisar de pessoas com mais competência para governar melhor; pode também significar, no âmbito da revisão Constitucional (que não se sabe se acontecerá), o homem que sonha com uma Constituição própria, queira, entrementes, mais poderes para governar como quer e entende. Pode ter este sentido político. Mas como a revisão Constitucional arrastar-se-á porque os dois maiores partidos não se entendem nesta matéria, e ainda bem, parece-me crivel que as mudanças constitucionais não acontecerão tão cedo. E se houver revisão estou convencido que será minimalista. Sobressai, então, do que venho a escrever, a necessidade de mais competências, isto é, a existência de personalidades com maior capacidade para governar. Políticos com mais COMPETÊNCIA(S), com uma outra visão, outra postura e uma outra capacidade política.
Aliás, regressando à Revisão Constitucional, pergunto, para quê maior transferência de poderes se, os poderes que a Região adquiriu através da revisão de 2004, ainda estão, há seis anos, por plasmar no texto do Estatuto Político-Administrativo da Região? De facto, a experiência do dia-a-dia político diz-me que estas sucessivas declarações do presidente do governo e seus "companheiros", no âmbito da revisão constitucional, mais não são do que fait-divers para distrair o povo do que é mais importante. Música estridente para os ouvidos para que suplante aquilo que Zeca Afonso, escreveu:
"Quando um homem dorme na valeta
O que faz falta
Quando dizem que isto é tudo treta
O que faz falta
O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta"
Revisão para quê, quando não se sabe utilizar as largas competências político-administrativas que estão ao nosso dispor? Quando brincam com a vida das pessoas como se tudo isto se assemelhasse àquele jogo infantil: tem a rosa, falta o cravo; tem o cravo falta o antúrio; tem o antúrio falta a orquídea. Isto é, a este PSD falta sempre qualquer coisa e o jogo nunca termina!
Ora, não foi a Constituição e a "limitação" dos poderes atribuídos que impediu a construção da tal "Madeira Nova". Não é esta Constituição a responsável pela pobreza, pelo desemprego, pela aflição dos empresários, pelo descontrolo do Centro Internacional de Negócios da Madeira e pelo abandono e insucesso escolar. Não foi a Constituição que impediu que a dívida da Região chegasse aos seis mil milhões de Euros. Portanto, essa história da revisão constitucional constitui uma treta política. O problema reside no paradigma de governação, na definição de prioridades, no equilibrio e sustentabilidade das decisões no quadro de uma estratégia portadora de futuro. O resto é conversa.
É evidente que se me disserem que aqui e ali, podemos corrigir um ou outro artigo, estou absolutamente de acordo. Aceito, pacificamente, por exemplo, que as bases do sistema educativo deixem de constituir reserva absoluta da Assembleia da República e passe para o âmbito da reserva relativa, o que permitirá uma melhor capacidade legislativa regional. Só que não basta isso, o mais importante é saber o que fazer com o sistema educativo. E isso, prova-se, que este governo não sabe. Não basta ter o instrumento, interessa saber como criar e gerir o pensamento estratégico, pois como sublinhou Mark Twain, quando se tem apenas um martelo como instrumento, todos os problemas parecem pregos! É isso que se passa com este governo regional.
Ilustração: Google Imagens.
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