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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

UMA INDESEJADA VISITANTE


Só há uma palavra que caracterize a situação: hipocrisia. No essencial, ela (Merkel) personifica, é um dos rostos que abordam a questão da "reforma" dos Estados, mas sempre na óptica de satisfazer os grandes interesses que se escondem por detrás das palavras. Tanto assim é que assumiu que "(...) neste momento, não há motivos para uma renegociação (programa de ajustamento), exactamente na lógica de um tal Ulrich que, relativamente à austeridade, sustentou que Portugal "aguenta" ainda mais! Aguenta, aguenta, digo eu, pois até à miséria total ainda há um caminho. Pura hipocrisia e vergonha. Não estranho, pois, os laços de identificação política entre Passos Coelho, Paulo Portas e Merkel, quando os três falam de "reformas" estruturais, dando como exemplo o "mercado laboral" e as "privatizações". Se descodificarmos estas palavras facilmente se chega à conclusão do que ela e outros pretendem.
 
 
Esta mão pode dizer muito!
O Dr. Jorge Sampaio, ex-Presidente da República Portuguesa, disse-o e bem que Portugal não é uma estação de caminho de ferro onde se espera algum tempo entre a chegada e a partida de um combóio. Portugal tem quase 900 anos de História e uma visita de Estado não pode circunscrever-se a cinco horas de estada. É uma provocação.
Sei que ao mais alto nível político não é fácil gerir uma agenda face aos compromissos, mas deslocar-se para "assinar o ponto" é desprezível. Confesso que, tal como milhares de portugueses, não nutro qualquer simpatia pela Chanceler alemã Angela Merkel. É evidente que não a diabolizo, ela é uma peça de uma monumental engrenagem, todavia, no actual contexto, parece-me ser uma peça fundamental. Na entrevista concedida à RTP atirou as responsabilidades da gravíssima austeridade para as instituições que constituem a troika, mas ninguém é parvo ao ponto de perceber que ela nada tem a ver com isto. Disse: "não são ideias minhas", mas antes o "resultado da convicção de que Portugal tem de fazer reformas, combater o défice e reforçar a base económica". Pois, pouco interessa que o povo esteja a passar mal, muito mal, que de austeridade em austeridade cada vez mais o povo empobreça, viva ou sobreviva das migalhas dos poderosos e das instituições de solidariedade social, o que lhe interessa é o convencimento que Portugal está no caminho das tais "reformas" que interessam à direita política europeia, daí que recuse, liminarmente, "a necessidade de dar mais tempo para Portugal implementar o seu programa de ajustamento". Não tem nada a ver com as imposições, mas adianta que não podemos pagar à medida das nossas possibilidades e fragilidades. Só há uma palavra que caracterize a situação: hipocrisia. No essencial, ela personifica, é um dos rostos que abordam a questão da "reforma" dos Estados, mas sempre na óptica de satisfazer os grandes interesses que se escondem por detrás das palavras. Tanto assim é que assumiu que "(...) neste momento, não há motivos para uma renegociação (programa de ajustamento), exactamente na lógica de um tal Ulrich que, relativamente à austeridade, sustentou  que Portugal "aguenta" ainda mais! Aguenta, aguenta, digo eu, pois até à miséria total ainda há um caminho. Pura hipocrisia e vergonha. Não estranho, pois, os laços de identificação política entre Passos Coelho e Merkel, quando ambos falam de "reformas" estruturais, dando como exemplo o "mercado laboral" e as "privatizações". Se descodificarmos estas palavras facilmente se chega à conclusão do que ela e outros pretendem.
"Até um dia" escreve, hoje, Paulo Gomes, em incisivo artigo de opinião no DN-Madeira: "Parece que este governo não se importa de estar a criar um povo que, mais dia, menos dia, não terá nada a perder e em vez de se meter em manifestações pacíficas vai começar a partir tudo de cima a baixo. Quando não restar nem um pingo de dignidade onde alguém se possa agarrar, é que vão ser elas. Nada vai escapar e é pena, porque é um erro desatar a queimar carros e pilhar lojas quando esses bens são de cidadãos que também são afetados pelas austeridades loucas do país. O povo quando se revolta deveria atirar-se ao património daqueles que o defraudaram e roubaram, os políticos e os corruptos que pululam nos jet sets, a corja que acabou com a classe média e transforma, mais depressa do que se pensa, Portugal num país miserável. A Grécia só tem capacidade para gerir o país por mais uma semana e mendiga mais um cheque à troika. Portugal carrega nos impostos e vai perpetuando o sacrifício e aflição de milhões que nenhuma culpa tiveram (...)".
Obviamente que, em cinco horas, não dá para analisar a realidade portuguesa. Nem lhe interessa! A agenda oculta internacional dos poderosos, dessas seitas gulosas e insensíveis, os tais que aplicam o chavão que "vivemos acima das nossas possibilidades", como se Portugal não tivesse cerca de dois em cada cinco a viver mal e muito mal, mesmo antes da crise, essa agenda, sublinho, esmaga tudo e todos. É por isso que defendo uma nova ordem internacional e que, nesse quadro, Portugal se dê ao respeito. Infelizmente, não se dá. Nem temos Presidente da República, ou melhor, como ouvi nos discursos de encerramento do congresso do Bloco de Esquerda, se o Presidente ainda existe, porventura, é no Facebook. E é verdade.
Nota:
Nada me move contra o povo alemão. Conheço a Alemanha de Norte a Sul e tenha por aquele povo uma elevadíssima estima. Não confundo o povo com as políticas de alguns dos seus dignitários políticos.
Ilustração: Google Imagens.

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