Eu sei que o Governo está liso, tem o cofre vazio por culpa própria, porém, gostaria de ouvir a sua voz, enquanto deputado, exigindo o pagamento de quase seis milhões de dívidas aos professores por diferenças de salários em atraso; gostaria de ouvi-lo falar dos cortes nos orçamentos dos estabelecimentos de educação e de ensino que estão a levar, todos os anos, à transição de preocupantes saldos negativos; gostaria de ouvi-lo falar dos sistemáticos cortes nos telefones por falta de pagamento; gostaria de ouvi-lo falar da vergonhosa portaria da acção social educativa; gostaria de ouvi-lo, já agora, porque tem todo o "tempo do mundo" (o regimento da Assembleia permite-lhe), numa intervenção no período antes da ordem do dia, sobre as piscinas junto às escolas que não funcionam, sobre os manuais escolares que ainda não foram entregues aos alunos mais carenciados, sobre a falta de pagamento das facturas da água e da electricidade, do que falta nas reprografias, das visitas de estudo que não se fazem, sobre os projectos educativos que não se cumprem por falta de financiamento, sobre o desemprego dos professores quando tão necessários são, sobre os terríveis números do abandono e do insucesso, sobre os pais que emigram e cujos filhos rompem com a escola, sobre a escola remediadora social em que está transformada, a um outro nível, sobre o número de alunos por escola e por turma. Já agora, porque é da sua lavra na Comissão a que preside na Assembleia, sobre a vergonhosa situação na qual mergulhou o desporto escolar e desporto associativo e sobre os milhões em dívida às instituições desportivas que colapsaram. Como vê o senhor deputado tem muito por onde falar. Pergunto-lhe: será "perda de tempo" ou está calado porque a cadeirinha dá jeito?
Com que então... discutir a EDUCAÇÃO é uma "perda de tempo". Disse-o o deputado do PSD-Madeira, face a uma proposta apresentada pelo PS-Madeira. Estava em causa o Estatuto da Carreira Docente, onde se encontram muitos aspectos estruturantes do próprio sistema educativo. E das duas, uma: ou o deputado, Dr. Emanuel Gomes, professor, mas há muito afastado de tais lides, não leu o documento, ou, então, está completamente desfasado dos problemas da educação e, concomitantemente, dos professores. Num caso ou noutro, mandaria uma pontinha de bom senso que tal frase não tivesse sido dita. Simplesmente porque a Educação, agora, mais do que nunca, deve ser, politicamente, debatida. Todas as oportunidades devem ser aproveitadas para reflectir e acrescentar, jamais para esconder, negar, remeter para o arquivo os assuntos que tanto preocupam os professores em geral e os parceiros sociais em particular. Ainda por cima aquele senhor é, pasme-se, presidente da respectiva Comissão Especializada de Educação da Assembleia Legislativa da Madeira!
No plenário tomou a palavra não para, de certa forma, ofender os professores, mas para não justificar o lugar que ocupa na Assembleia, onde todos os assuntos apresentados devem ser motivo de exaustivo, honesto e profundo debate. Mesmo que, no final, a votação do partido maioritário (por enquanto) acabe por ser determinante. Para o deputado que representa uma bancada de quero, posso e mando, exactamente os comportamentos que há uns anos dizia combater, não existia urgência no debate, porventura, sequer, que aquele diploma regresse ao plenário. É "perda de tempo", considera! Recordo, com tristeza, que esta proposta de diploma apresentada pelo PS-M podia ter sido discutida em simultâneo com uma outra apresentada pelo governo, se considerarmos que ambas entraram sensivelmente ao mesmo tempo nos serviços da Assembleia. E sendo assim, podiam ter sido, em sede de Comissão Especializada, estudadas e conjugadas no sentido da criação de um diploma mais consistente, melhor estruturado e mais próximo das necessidades reivindicativas dos parceiros sociais. Mas, não, o PSD-M foi célere a aprovar a proposta do governo, lamentavelmente, deixou arrastar no tempo a proposta do PS-Madeira para, finalmente, assumir que é uma "perda de tempo" a reflexão que continua a se impôr. Que tristeza, senhor deputado! O senhor, certamente, que estará aí sentado e assistirá não a uma proposta de alteração ao ECD por parte da oposição, mas a mais uma proposta do governo do seu partido de alteração ao que recentemente aprovaram de olhos vendados. É uma questão de tempo.
A política destes senhores está cada vez mais podre. |
Depois, sublinhou na sua frágil, muito frágil argumentação, que o diploma apresentado pelo PS-Madeira, implicaria "maior despesa". Falso. Completamente falso e só pode dizer isso quem não estudou o diploma, quem seguiu outras vozes de encomenda ou, pura e simplesmente, para o exterior quis encontrar uma forma de impedir a discussão com o argumento da crise e da falta de dinheiro. O mesmo argumento ouvi, na Assembleia, em 2007. Tocou a mesma, repetida e velha tecla.
Eu sei que o Governo está liso, tem o cofre vazio por culpa própria, porém, gostaria de ouvir a sua voz, enquanto deputado, exigindo o pagamento de quase seis milhões de dívidas aos professores por diferenças de salários em atraso; gostaria de ouvi-lo falar dos cortes nos orçamentos dos estabelecimentos de educação e de ensino que estão a levar, todos os anos, à transição de preocupantes saldos negativos; gostaria de ouvi-lo falar dos sistemáticos cortes nos telefones por falta de pagamento; gostaria de ouvi-lo falar da vergonhosa portaria da acção social educativa; gostaria de ouvi-lo, já agora, porque tem todo o "tempo do mundo" (o regimento da Assembleia permite-lhe), numa intervenção no período antes da ordem do dia, sobre as piscinas junto às escolas que não funcionam, sobre os manuais escolares que ainda não foram entregues aos alunos mais carenciados, sobre a falta de pagamento das facturas da água e da electricidade, do que falta nas reprografias, das visitas de estudo que não se fazem, sobre os projectos educativos que não se cumprem por falta de financiamento, sobre o desemprego dos professores quando tão necessários são, sobre os terríveis números do abandono e do insucesso, sobre os pais que emigram e cujos filhos rompem com a escola, sobre a escola remediadora social em que está transformada, a um outro nível, sobre o número de alunos por escola e por turma. Já agora, porque é da sua lavra na Comissão a que preside na Assembleia, sobre a vergonhosa situação na qual mergulhou o desporto escolar e desporto associativo e sobre os milhões em dívida às instituições desportivas que colapsaram. Como vê o senhor deputado tem muito por onde falar. Pergunto-lhe: será "perda de tempo" ou está calado porque a cadeirinha dá jeito? Acredite que sinto vergonha, enquanto professor que fui, durante quarenta anos, escutar um deputado, professor, assumir que é "perda de tempo" discutir o sector ao qual profissionalmente pertence. Olhe que mais cedo que tarde poderá ter que regressar à sua escola, claro, a não ser que se aposente.
Ilustração: Google Imagens.
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