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terça-feira, 26 de abril de 2016

O QUE FAZER PARA QUE AS ESCOLAS DEIXEM DE SER CATEDRAIS DO TÉDIO. O ENSINO COMO UMA LINHA DE MONTAGEM.


O jornal Público através da sua jornalista Clara Viana apresentou, ontem, um trabalho que merece ser lido. Não é que traga algo substancialmente novo, mas vem colocar, uma vez mais, o dedo na ferida de um sistema educativo que há muito sangra. As escolas, por mais voltas que tentem dar, criando estratégias e projectos, são hoje, claramente, "Catedrais do Tédio". Uma expressão feliz que sentencia uma ideia final: "As escolas têm de aprender a ensinar no século XXI, sob pena de se tornarem dispensáveis". Dizendo de outra forma, ou mudam ou serão mudadas. este contexto, pergunto: e os professores estarão atentos ao que se está a passar?


Tal como estão, "as escolas tornam-se, para inúmeras crianças e adolescentes, verdadeiras catedrais do tédio”, alerta Ilídia Cabral, docente da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, com vários trabalhos realizados sobre o insucesso escolar no ensino básico e secundário. E isto acontece, frisa, porque se “ensina hoje como se ensinava há 200 anos”, seguindo uma estrutura construída com o advento da Revolução Industrial e que se traduz num “modelo de organização escolar padronizado, de inspiração fabril, do tipo linha de montagem, que permitiu às escolas darem o mesmo a todos”. Porém, prossegue esta investigadora, os alunos de hoje são bem diferentes do que eram há dois séculos. “São alunos cada vez mais heterogéneos, com acesso quase imediato a inúmeras fontes de informação, nativos digitais para quem as metodologias de ensino tendencialmente expositivas e fragmentadoras do conhecimento se revelam, muitas vezes, totalmente desadequadas e muito pouco apelativas”, diz. E é assim que o tempo escolar se “torna, em muitos casos, um tempo vazio de significado para os alunos, por se encontrar completamente afastado da sua realidade, dos seus interesses e das suas necessidades”.
Leio, ainda, nesse trabalho: "Em vez de estarmos sempre a ouvir um professor, devíamos ter autonomia para também descobrirmos por nós próprios", assume Nelson Rebelo, de 16 anos. Outra: "(...) Estou um pouco desanimada”, desabafa Daniela Guilherme a propósito da sua experiência escolar. “Não temos voz nas aulas e devíamos ter. É uma das formas de expressão mais importantes, mas nós só escrevemos. Existe muito pouco diálogo entre alunos e professores e a confiança é assim quase nula”. Regresso a uma pergunta: os políticos não têm esta percepção? Que o modelo está completamente esgotado, uma vez que potencia o abandono e o insucesso? São cegos e surdos perante o que tantos investigadores e autores dizem?
Há, todavia, um aspecto que me agrada, é que, com alguma regularidade, a comunicação social está a trazer para o centro do debate as questões de política educativa. E isso, embora com muitos anos de atraso, é muito bom.
Ilustração: Google Imagens.

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