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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

UMA CÂMARA LENTA... NOS 501 ANOS DA CIDADE

Hoje é dia de aniversário da Cidade do Funchal. Mais um ano da minha cidade e mais um ano de total desencanto. Mais um ano com responsáveis autárquicos a disfarçarem clamorosos erros de planeamento, de abandono e de progressiva destruição do nosso património, de discursos enganadores e de promessas não cumpridas. O habitual. Há trinta e tal anos que é assim. Trinta e tal anos com a chancela da mesma cor política e, portanto, com toda a responsabilidade dos que por lá andam na Presidência e respectiva Vereação a tempo inteiro, obviamente, fazendo ouvidos de mercador ao que outros afirmam à mesa das sessões plenárias e, publicamente, têm vindo a alertar.
Nos últimos dias tenho tido a possibilidade de visitar cidades de grande e de média dimensão bem como localidades da Finlândia e da Estónia. Felizmente, todos os anos, por esta altura, dedico um tempo de férias para conhecer, perguntar, ler e inteirar-me sobre as cidades, aldeias e culturas, que a vida me tem proporcionado visitar e compreender. Não há momento que não olhe para qualquer coisa que me desperta a atenção e que, simultaneamente, não traga em memória, por comparação, o que se passa na minha cidade. E a pergunta que me assalta é sempre a mesma: por que raio somos assim, que nem os bons exemplos de preservação e de respeito pela identidade somos capazes de adoptar? Por que raio alguns políticos só vêem nos materiais de construção o desenvolvimento? Por que raio não entendem que cada vez menos as pessoas visitam as cidades onde tudo é igual às outras, no nosso caso, muitas vezes para pior? Por que raio não entendem que a "cimentização" da paisagem (a zona do Lido, por exemplo, está um completo descalabro) cada vez vende menos e a cultura, isto é, a identidade das cidades, cada vez vende mais? Por que raio não respeitam o sentido de escala da nossa cidade? Por que raio querem fazer de uma cidade pequena, implantada numa orografia complexa, um espaço de megalomanias sem sentido, sem alma, isto é, uma cidade cheia de coisas mas vazia de significado? Por que raio ainda não entenderam que as zonas altas da cidade não precisam, num primeiro momento, da oferta aos mais pobres, qual dádiva com os olhos postos no dia das eleições, de projectos, de telha, cimento, areia, blocos e ferro? Que, o que é fundamental, em primeiro lugar, é requalificar de forma integrada, no sentido de, a prazo, dispormos de uma cidade equilibrada na organização espacial e infra-estrutural. É difícil entender por que raio não entendem! Mas eu entendo, tal como tantos outros que se preocupam com a cidade.
Embora distante, li, esta manhã, o Dr. Bruno Pereira, Vice-presidente da Câmara, dizer que "(...) sem querer transformar estas questões numa lista de obras, a verdade é que gastamos por 250 mil euros em alargamentos de veredas, temos 13 centros comunitários, ginásios seniores. Fazemos o que é possível com o dinheiro que temos. Entendo que é difícil explicar a uma população que leva a garrafa de gás as costas que tem de esperar mais um tempo pelo alargamento da vereda (...)". Ora bem, com o devido respeito que tenho pela pessoa e pelo autarca, teria sido melhor que não dissesse nada. Porque este tipo de declaração prova que a Câmara não tem uma ideia para o futuro da cidade. Ela está ao nível do alargamento da vereda, o que é lamentável. Ela está estreita, cada vez mais estreita no seu pensamento estratégico. Mas diz mais, repetindo o que disse há um ano: "(...) deve existir solidariedade regional para com as zonas mais afastadas e com menos população, mas o Governo Regional deve ter sempre em conta a proporcionalidade na distribuição de verbas. Deve existir um equilíbrio entre estes dois princípios". Ora, isto que é hoje sublinhado pelo Dr. Bruno Pereira, a vereação do PS na Câmara anda a dizer e a deixar escrito em acta há dezasseis anos. Portanto, porque são da mesma cor política (e mesmo que não fossem) digo, agora, ENTENDAM-SE!
A cidade não pode ser uma coutada de uns poucos, mas na verdade é. A cidade não pode ser vendida aos bocados e aos interesses, mas na verdade é. A cidade não basta estar "bonita" ("limpinha") por fora quando está corroída por dentro nos planos económico, social e cultural. A cidade deveria ser hoje muito mais do que automóveis em circulação, intranquilidade, poluição visual e sonora, mas na verdade é. A cidade não deveria ser pobre (a população) mas na verdade é pelos desequilíbrios gerados no seu crescimento pela ausência de planeamento. A cidade não deveria desprezar um compromisso com o emprego, mas, infelizmente encolhe os ombros. A cidade deveria cuidar dos centros históricos, das acessibilidades, do tráfego e dos transportes, e de facto não cuida.
Esta cidade, a continuar assim, está condenada. Há uma absoluta necessidade de mudar de actores políticos. Mudar para outros que garantam pelo seu entusiasmo, inovação, criatividade e sentido de responsabilidade uma cidade onde valha a pena viver. Está nas mãos dos eleitores.

1 comentário:

Fernando Letra disse...

E no entanto, os eleitos pelo PS-M estiveram presentes naquela fantochada antidemocrática...