O artigo de opinião da Professora Marília Azevedo, Coordenadora do Sindicato de Professores da Madeira, hoje publicado na edição do DN, contitui um "tiro" certeiro no problema da indisciplina e de alguma violência que já envolve a Escola na Região. Há, de facto, uma "anemia de pensamento" de quem tem responsabilidades governativas face a um problema que cresce mas que continua a ser desvalorizado, em função da propaganda que quer fazer passar aos olhos das pessoas uma inexistente normalidade comportamental. Sublinha a Professora:
"(...) O problema da indisciplina e da violência escolar não se resolve por decreto, embora a legislação deva dar sinais claros nesse sentido. Passa, sobretudo, por pensar a escola e a organização da sociedade. Passa, igualmente, por pensar no que existe e no que é o fundo das coisas. Reflectir se a organização interna, curricular e programática da escola que temos hoje, se enquadra na tessitura social que a envolve. Esta anemia de pensamento, esta renúncia a valores estruturantes promove, sem estranheza, a escalada de indisciplina e violência no espaço escolar".
Exacto, não se resolve por decreto até porque o problema é multifactorial e, sendo assim, só pode ser esbatido de forma pensada e integrada. Ademais, o estudo dos comportamentos é complexo e a resposta às atitudes inadequadas dependem de um vasto conjunto de aspectos que devem ser harmoniosamente observados e conjugados. Um incêndio começa sempre por uma ignição de menor significado. A prevenção e o estado de permanente alerta podem evitar danos maiores. Sabe-se que é assim. Só que a tendência é para a facilidade e, no caso dos comportamentos, é sensível que se perde dia-a-dia o rigor e a educação na liberdade, perdem-se, paulatinamente, princípios, valores e o respeito. De cedência em cedência vamos construindo a indisciplina e, daí, os focos de violência. Esquecemo-nos que, para aí chegar, percorreu-se um caminho de pequenos nadas, aparentemente sem significado.
É evidente que a organização social é determinante, a reorganização (total) do sistema educativo afigura-se-me fundamental mas, na Escola, é possível dar passos significativos no sentido do respeito e dos comportamentos adequados. Apenas um exemplo: enquanto exerci a docência, intencionalmente, fiz sempre o possível de ser o primeiro a chegar ao espaço de aula. Obrigatoriamente, todos me cumprimentavam com um aperto de mão e com um audível bom dia ou boa tarde. À saída era eu que os cumprimentava desejando a continuação de uma boa semana ou de um fim de semana agradável. Estranhei, por isso, um dia, em conversa com uma jovem colega de outra disciplina, que não exigia tal comportamento quando chegava à sala de aula. "Que isso era chato!" - disse-me. Pois é, respondi-lhe, a LIBERDADE constrói-se, também, através dos comportamentos apropriados e do respeito. Há princípios e valores dos quais não devemos abrir mão. E disse-lhe mais: é por isso que nos cruzamo nos corredores da escola e poucos colegas se cumprimentam. Há um vazio comportamental, há uma frieza e uma distância que depois transmitimos aos alunos e que se multiplica na sociedade.
Enfim, o sentimento que tenho é que anda muita gente a varrer para debaixo do tapete, a esconder a realidade e, portanto, embora sendo multifactorial, não se queixem se, tarde ou cedo, os problemas se agudizem.
Foto: Google Imagens.
2 comentários:
Senhor Professor
Mestre que não se dê ao respeito(tanto do ponto de vista científico como do sócio-pedagógico)acaba,inevitavelmente,no esquecimento, ou na "lembrança do desprezo", daqueles que tiveram a infelicidade de de o suportar.
Porém,em circunstância alguma se admite a violência(física ou verbal)como medida correctora de (mútuas) insuficiências.
A Educação(não necessariamente a Instrução)terá de ser o pilar de uma sociedade saudável.
O que,no entanto,não é justo é que a,ainda, componente doente,demagogicamente, se sobreponha a tudo e a todos.
Deste modo, não me parece desasjustada a medida(por Decreto) que o Governo Espanhol tomou para conter a selvajaria que se pretende erradicada.
Polémica,mas...para grandes males...
Obrigado pelo seu comentário.
Para grandes males...
Exacto. Concordo e, politicamente devagarinho, lá chegaremos.
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