Adsense

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ESCOLA A TEMPO INTEIRO, NÃO, OBRIGADO!

Já aqui teci algumas considerações sobre a designada "Escola a Tempo Inteiro" (ETI). Trata-se de uma matéria complexa sobretudo porque ela surge como resposta à desorganização social que vimos a assistir. A ETI é, de facto, uma excelente resposta para um problema equacionado de forma errada. Tenho vindo a amadurecer este tema através de leituras de trabalhos de investigação académica e de diálogos com colegas de profissão. O poder político pode não gostar mas esta é uma questão sensível e que deveria entrar na ordem do dia. Simplesmente porque não basta acenar com algumas actividades escolares complementares, quando o que temos de fazer, em consciência, é colocar nos pratos da balança as vantagens e os inconvenientes da Escola a Tempo Inteiro. E desde há muito que muitos investigadores sublinham o rol de desvantagens relativamente aos benefícios. Ainda ontem li um trabalho assinado pelos investigadores Joaquim Marques (Instituto das Comunidades Educativas) e Rui Pedro Silva (Centro de Investigação em Ciências Sociais da Universidade do Minho), sob o título "Pais preocupados com a escola a tempo inteiro e... novas oportunidades", no qual assumem: "(...) Além do tratamento indiscriminado que globalmente apresenta de educação e ensino, trata-se de um discurso falacioso que, sob a capa de crítica à instituição escolar, mais não faz do que veicular despudoradamente a lógica neoliberal e conservadora de responsabilização das vítimas pelos seus próprios insucessos.
Entre outras dimensões ou vectores de análise esquece que muitas das crianças e jovens que hoje integram o Sistema Escolar são, literalmente, filhos do insucesso e do abandono. Embora longe de perspectivas determinísticas ou fatalistas da análise social, queremos com isto dizer que basta resgatar para essa análise as estatísticas sobre o insucesso e o abandono escolares das últimas décadas para rapidamente se poder concluir que o que realmente está em causa é a injustiça social que tem grassado na sociedade portuguesa e, consequentemente, a desigualdade no acesso aos mais diversos meios indutores e facilitadores do desenvolvimento".
E mais adiante, completando o raciocínio, os autores assumem: "(...) Desde logo, o acompanhamento que os pais fazem da vida escolar dos seus filhos, quando a actual equipa do Ministério da Educação enaltece as virtualidades do denominado programa de “Escola a tempo inteiro” e o dirigente máximo da Confederação Nacional das Associações de Pais advoga o alargamento do período de funcionamento das escolas da rede pública para as doze horas diárias. Pois, se somos defensores de uma escola pública que vá ao encontro das necessidades dos cidadãos, sejam eles pais trabalhadores com horários de trabalho alargados e desregulados, ou crianças provenientes de estratos sociais desfavorecidos que de outra forma não teriam acesso a uma refeição quente ou a aulas de Educação Musical, questionamos vivamente toda uma organização societal que tem reduzido a níveis muito preocupantes o tempo de convívio diário entre pais e filhos".
Daqui se infere que a ETI constitui um monumental erro e que os políticos com responsabilidades governativas antes deveriam estar preocupados com as medidas de reorganização social em simultâneo com a reorganização de todo o sistema educativo e implementação das necessárias políticas de família. Políticas com resultados a prazo que não se compadecem com orientações claramente reactivas. Aliás, o problema é muito vasto e merece, por isso mesmo, uma aprofundada reflexão. Só que não há coragem para a fazer nem massa crítica para dizer basta!
Foto: Google Imagens.

2 comentários:

António Trancoso disse...

Caro André Escórcio

Parabéns!Nem mais.
Um abraço.

André Escórcio disse...

Muito obrigado.
Um abraço.