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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ENSINO PROFISSIONAL: O ESTIGMA DAS MÃOS, MAIS DO QUE A CABEÇA


"(...) A este nível de intimidade mental o leitor descobrirá certamente inesperadas afinidades com a mente de filósofo (da educação) que se lhe revela, uma inteligência que "não é um engendroso sistema de respostas, mas um incansável sistema de perguntas, tal como outro filósofo (J. A. Marina) definiu a inteligência humana. E decerto também lamentará, com a Autora, que a cultura educional - a Escola, que é "suposto ensinar a pensar" - tenha abandonado o ensino da reflexão filosófica, tornando-se assim responsável pela "degradação do pensamento, e portanto da educação".


Na tarde de ontem assisti à apresentação do livro da Professora Doutora Liliana Rodrigues, docente da Universidade da Madeira. Apresentou-o, magistralmente, a Professora Diana Pimentel. No decorrer da sessão, com casa cheia, senti-me feliz por dois motivos essenciais: primeiro, pela oportunidade do tema e valor da obra que, aliás, em traços gerais, já a conhecia da sua tese de doutoramento; em segundo lugar, porque ali confirmei quando esta Mulher tem a dar à sua terra. Ela que fez parte de um governo alternativo nas últimas eleições legislativas regionais, indicada para a pasta da Educação, Ciência e Cultura, e que o povo não considerou, preferindo optar por imitações das pedras preciosas que a Região tem e que o Dr. Maximiano Martins apresentou.
Triste, por outro lado, acrescento ao correr do pensamento, por não ter visto na plateia aqueles que, ainda recentemente, na televisão pública (não sei se o programa tem grande audiência), menosprezando, disseram que o PS-M foi buscar para um governo alternativo um conjunto de pessoas que ninguém conhece. Ora, os que assim analisam, deveriam ali ter comparecido para perceberem a importância e a profundidade do conhecimento que se escondem por detrás das pessoas "que ninguém conhece". E mais do que isso, a importância e a profundidade do conhecimento face ao desastre do Sistema Educativo na Madeira, onde quase tudo está por fazer. Deveriam lá estar, sentados a ouvir, para perceberem o que faz falta nesse caos que é o sistema educativo e, por extensão, quem poderia trazer o novo e a qualidade portadora de futuro. Mais do que isso, deveriam adquirir o livro e lê-lo de fio a pavio, simplesmente porque precisamos da Educação como de pão para a boca e porque só por essa via a Madeira poderá romper com o círculo vicioso da pobreza. É através da Educação, do conhecimento, que os madeirenses conseguirão se libertar das amarras que outros lhes impuseram ao longo de trinta anos.
E a este propósito leio no prefácio do Professor Agostinho Ribeiro: "(...) A este nível de intimidade mental o leitor descobrirá certamente inesperadas afinidades com a mente de filósofo (da educação) que se lhe revela, uma inteligência que "não é um engendroso sistema de respostas, mas um incansável sistema de perguntas, tal como outro filósofo (J. A. Marina) definiu a inteligência humana. E decerto também lamentará, com a Autora, que a cultura educional - a Escola, que é "suposto ensinar a pensar" - tenha abandonado o ensino da reflexão filosófica, tornando-se assim responsável pela "degradação do pensamento, e portanto da educação".
Curiosamente, este lançamento deu-se no mesmo dia que o Secretário Regional da Educação e Cultura anunciou, em jeito de balanço (deve estar de partida), terem sido 5.197 os eventos "culturais" apoiados ao longo dos últimos quatro anos (média de 3,5 eventos por dia). Pergunto, o que restou, se esta Escola continua assente em premissas do passado e não nos caminhos que garantam futuro? Que "cultura" ficou?
Estranhei, digo-o por ironia, não o ter visto sentado na primeira fila, tal como o Senhor Reitor da UMa, Doutor Castanheira da Costa fez questão de estar. Não o vi por lá. Faltou-lhe a coragem, depois do ataque, absolutamente inaudito, que fez quando a Professora Liliana Rodrigues apresentou os dados da sua tese de doutoramento. Na altura escrevi: "absolutamente lamentáveis as declarações produzidas pelo Secretário Regional da Educação a propósito da tese de Doutoramento da Doutora Liliana Rodrigues, docente da Universidade da Madeira. A adjectivação feita ao estudo prova a completa desorientação na política educativa. De uma assentada, o responsável pelo sector educativo reduziu a zero a instituição universitária madeirense e a seriedade dos doutoramentos que ela produz, os orientadores científicos e, neste caso, a autora do estudo remetendo-a para uma situação de fragilidade relativamente à docência. Isto é inaceitável, quando se junta o pressuposto de “arranjo político” para caracterizar e secundarizar um estudo metodologicamente científico. Exigia-se prudência, serenidade, respeito pela UMa e leitura prévia do estudo, mas o governante optou pela via rápida da ofensa gratuita. Se a outros não fica bem, ao Secretário da Educação mais ainda.
Só o Secretário é que não vê e não compreende que o insucesso das políticas educativas da Madeira reflectem uma sociedade profundamente assimétrica, nos planos económico, social e cultural. Que há milhares de jovens que são obrigados a abandonar a Escola por razões de insucesso e até de sobrevivência. Que são milhares as famílias que não conseguem assumir um investimento na educação a vinte anos, porque têm de pensar a vida ao mês e à semana. Só o Secretário é que não compreende que o sistema educativo (regionalizado) falhou na concepção organizativa da escola, nos planos curricular e programático, na oferta educativa profissionalizante, nas políticas integradas a montante do sistema e na acção social escolar. Só o Secretário passa ao lado dos indicadores gerais (INE e Eurostat) que colocam a Região numa situação de atraso muito delicado quanto à estruturação do futuro. Finalmente, fico abismado com tamanha falta de dignidade política, coerência, sensatez e respeito académico. É caso também para pensar o que não seria a investigação em educação caso a “dupla tutela” vingasse". À crítica violenta e sem sentido bem fez a autora do livro agora publicado: como diria Nietzsche, "a melhor maneira de responder a um ignorante é mantermo-nos no silêncio". Resposta que encaixa em muitos, não apenas ao secretário.
Parabéns Professora e, agora, com mais tempo, de forma serena, vou mastigar e saborear as palavras e o conhecimento que este livro oferece à comunidade. Apetece-me continuar a aprender. Um abraço e obrigado pelo convite.

3 comentários:

Ps de ontem disse...

Conversa de 11,5%...

André Escórcio disse...

Percebo a sua desconsideração. Paciência. Nada posso fazer por si.

António Trancoso disse...

Meu Caro André Escórcio
"Lavar a cabeça a burros é perder tempo,água e sabão!",ou,se preferir,"Contra a estupidez,até os Deuses lutam em vão."(Schiller).
Um abraço.