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quarta-feira, 14 de março de 2012

EINSTEIN, O VENTURA E A ESTUPIDEZ HUMANA



Passou-lhe pela cabeça que a fome e o desespero por variadíssimas razões, não podem esperar para amanhã? Que o pagamento das obrigações assumidas com a habitação, com a educação ou com a saúde, não podem aguardar por um dia que não se sabe quando chegará? Terá consciência que ele, como eu, podemos adquirir mais do que o essencial para viver com dignidade e que muito mais de metade da população, neste momento, conta cêntimos para sobreviver? Saberá o secretário o que é ter de viver de ajudas, quando, ainda há pouco, não precisavam de ir bater à porta da paróquia, da sopa do Cardoso e de muitas instituições, virando a cara para o outro lado, com o receio de não serem reconhecidos(as)?


Sinto uma grande revolta, desde ontem, apenas por uma frase dita pelo secretário regional do Plano e Finanças: "a crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e os países, porque a crise traz progressos" (Einstein). Pergunto: este político terá consciência do que disse? Terá noção da monstruosa agressividade da frase junto daqueles que, em sentido lato, andam aí de mão estendida? Passou-lhe pela cabeça que a fome e o desespero por variadíssimas razões, não podem esperar para amanhã? Que o pagamento das obrigações assumidas com a habitação, com a educação ou com a saúde, não podem aguardar por um dia que não se sabe quando chegará? Terá consciência que ele, como eu, podemos adquirir mais do que o essencial para viver com dignidade e que muito mais de metade da população, neste momento, conta cêntimos para sobreviver? Saberá o secretário o que é ter de viver de ajudas, quando, ainda há pouco, não precisavam de ir bater à porta da paróquia, da sopa do Cardoso e de muitas instituições, virando a cara para o outro lado, com o receio de serem reconhecidos(as)?
Ora, esta frase de total insensibilidade, grosseira, ofensiva, que denota um claro encolher de ombros perante os outros, do tipo, desenrasquem-se, façam-se à vida, merece o mais vivo repúdio de toda a população. Um político não pode, em circunstância alguma, dizer uma enormidade daquelas. Porque aquela frase, extraída de um texto de Albert Einstein, foi metida a martelo no seu discurso, tem um contexto e esse contexto não é aquele que se vive na Madeira e que o secretário ajudou a criar ao longo de anos. Porque logo de seguida, para completar o seu raciocínio, apelando a Einstein, podia e devia o secretário falar da crise consequência da incompetência, isto é, que "não podemos querer que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo". Ora, já que o secretário Ventura Garcês terá feito uma busca no Google para procurar encaixar uma frase com alguma profundidade de pensamento, também deveria passar pelo citador das frases emblemáticas de Einstein e confrontar-se-ia com uma muito interessante: "Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta." Se a lesse, certamente, não designaria a crise como benção no caso específico da Região Autónoma da Madeira. Aliás, Einstein também falou da incompetência e esse aspeto deveria ter o secretário em conta. Mas seja como for, quero lá saber de Einstein no debate do Plano e Orçamento. O que eu quero e, certamente, todos os madeirenses querem, é um orçamento de verdade e sobretudo um plano que faça crescer a economia. E isso, pelo que tenho vindo a ler e a perceber, não existe, o secretário não sabe como fazer, pois ali apresentou, a solo, um extenso rol de pagamentos, um pseudoplano que, no essencial, é papel com letras e números! Não é por aí que a crise será superada. E acho muita piada quando o secretário assume de peito cheio de ar que "não vamos esconder os problemas, vamos enfrentá-los". Mas há quantos anos anda a esconder os problemas? Há quantos anos os orçamentos são uma farsa? Há quantos anos o discurso é o da mentira, eu diria até, uma grande aldrabice como facilmente se prova pelos os indicadores que hoje estão à nossa frente?
Diz-se, por aí, que este secretário regional terá pedido para não continuar na governação. Se é verdade, momento houve em que foi clarividente, pois sabia o que se escondia por detrás do discurso político. Teve de ficar e, portanto, reconheço que não lhe resta outro discurso senão o da continuação da farsa. Mas está sempre a tempo. Um político está enquanto quiser, não tem algemas, nem está metido em um colete de forças. Ou terá e está e nós não descortinamos?
Ilustração: Google Imagens.

1 comentário:

Fernando Vouga disse...

Caro André Escórcio

A maior parte das democracias modernas, e a Madeira não é excepção, não passam de ditaduras do partido mais votado. Pelo que não é de estranhar que os respectivos parlamentos sejam meras palhaçadas. Quando muito, são o palco de lutas partidárias em que os que deveriam defender os interessas da comunidade se engalfinham em quezílias que nada beneficiam os cidadãos.
A partir daí, governantes e deputados estão autorizados a dizer o que lhes aprouver. Tanto faz que se virem para um lado como para o outro, porque o objectivo é o prato de lentilhas que têm em vista.