Ponto alto desta primeira intervenção foi a sua posição relativamente ao Presidente da República. Sócrates tem absoluta razão quando sublinhou: "(...) Não reconheço nenhuma autoridade moral ao Presidente da República para dar lições sobre solidariedade institucional" (...) "O senhor Presidente da República fez-me um ataque pessoal escrito, um ano depois de eu estar fora do Governo e de me ter remetido ao silêncio. Isso diz muito do Presidente da República". E foi mais longe: Em 2009 nasceu na Casa Civil do Presidente da República uma "conspiração" montada para deitar abaixo um Governo e "nunca" Cavaco "se demarcou dela". "Pelo contrário", disse Sócrates: "O senhor presidente da República assumiu-se como um opositor ao Governo". E disse mais: Cavaco Silva podia ter evitado uma crise política, mas "não tinha interesse nisso", tendo feito um "discurso de oposição ao Governo. Fez tudo para uma crise política. Foi a mão atrás do arbusto", acusou. "Isto explica a posição e o comportamento actual do Presidente da República. Vejo muita gente a questionar-se sobre porque o Presidente da República não se pronuncia mais. É que o Presidente da República esteve na origem desta solução política. É patrono desta solução."
Segui a entrevista à RTP do ex-Primeiro-Ministro José Sócrates. Depois de um prolongado silêncio de dois anos, regressou, segundo disse, "para tomar a palavra" e para exercer o "contraditório" em função de um tempo de permanente agressividade e de histórias mal contadas relativamente à sua pessoa. Sentei-me a escutá-lo com os olhos de cidadão e não com o olhar meramente partidário. Sei que não é fácil, porque se conjugam princípios, valores, conhecimentos e muitos outros aspectos que estruturam o pensamento. Todavia, fiz esse esforço de independência e, globalmente, terei de dizer que gostei. Gostei da frontalidade, dos sinais de uma pessoa preparada, com memória e da desmistificação feita com argumentos consistentes. É evidente que não é em cerca de duas horas e perante uma bateria de questões equivalentes a seis anos de governação que tudo fica esclarecido, até porque, a complexidade de alguns dossiês, permitiriam ir muito mais longe. Mas, enfim, na televisão ou na rádio, os minutos passam a correr e compreendo que alguns temas apenas passem pela rama. Com os posteriores comentários por si assinados, as peças do puzzle conjugar-se-ão, certamente.
Já aqui escrevi que há vários âmbitos da sua governação que me deixaram reservas, mas Sócrates disse e bem, que só não erra quem não assume uma responsabilidade. Outra coisa é prometer em campanha e não cumprir. Foi franco quando disse que, porventura, nunca deveria ter aceitado a responsabilidade de liderar um governo minoritário na Assembleia. E mais do que isso, há distância de dois anos ou de cinco, quando a crise despoleta, é fácil dizer que esta ou aquela atitude mereciam outro enquadramento, só que as análises têm de ser feitas em função das contextualizações europeias e nacionais e das próprias variáveis da época. Sócrates referiu e quanto a mim bem, o atraso estrutural do país e daí a aposta no sistema educativo, a luta pela não dependência energética, o significativo esforço financeiro para arrancar as pessoas da pobreza, a redução do défice que se situava nos 6.83%, transitado do tempo do Dr. Durão Barroso/Santana Lopes, para 2,6% (2007 e 2008), as questões derivadas da crise internacional que varreu todo o Mundo e que, inevitavelmente, atingiu, com particular severidade, os países menos preparados, mais pobres e assimétricos, a luta pela abertura de novos mercados externos, a história do PEC IV e a atitude assumida pela oposição, a questão do BPN cuja decisão pela nacionalização só pode ser entendida à luz do conhecimento existente na altura. Hoje, de facto, neste particular, é fácil dizer que o caminho poderia ter sido outro, pois poderia e deveria, digo eu, por exemplo, se a regulação do Banco de Portugal tivesse funcionado em pleno. Só que não funcionou! Da mesma forma que mantenho sérias reservas relativamente às PPP, que já vinham do governo PSD/CDS, como continuo a não entender, por exemplo, a realização do europeu de futebol, entre outros aspectos. Mesmo no campo da Educação muito escrevi contra as posições da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues e que redundou em 120.000 professores numa manifestação. Mas, o saldo desta entrevista é para mim revelador de um político que não merece a atitude feroz e falsa de muitos que por aí andam como comentadores. José Sócrates atirou-se ao "Correio da Manhã" e fez bem, pelas calúnias de que foi vítima, inclusive, relativamente à sua vida particular.
Ponto alto desta primeira intervenção foi a sua posição relativamente ao Presidente da República. Sócrates tem absoluta razão quando sublinhou: "(...) Não reconheço nenhuma autoridade moral ao Presidente da República para dar lições sobre solidariedade institucional" (...) "O senhor Presidente da República fez-me um ataque pessoal escrito, um ano depois de eu estar fora do Governo e de me ter remetido ao silêncio. Isso diz muito do Presidente da República". E foi mais longe: Em 2009 nasceu na Casa Civil do Presidente da República uma "conspiração" montada para deitar abaixo um Governo e "nunca" Cavaco "se demarcou dela". "Pelo contrário", disse Sócrates: "O senhor presidente da República assumiu-se como um opositor ao Governo". E disse mais: Cavaco Silva podia ter evitado uma crise política, mas "não tinha interesse nisso", tendo feito um "discurso de oposição ao Governo. Fez tudo para uma crise política. Foi a mão atrás do arbusto", acusou. "Isto explica a posição e o comportamento actual do Presidente da República. Vejo muita gente a questionar-se sobre porque o Presidente da República não se pronuncia mais. É que o Presidente da República esteve na origem desta solução política. É patrono desta solução." Ele "está politicamente vinculado." Eu diria que nunca assisti a tamanha sova num político. E Cavaco colocou-se a jeito.
Um segundo ponto alto da entrevista teve a ver com a imagem que lhe ocorre quando vê o que se passa "(...) é que o Governo se meteu num buraco e acha que o que deve fazer é começar a escavar. E eu digo: parem de escavar. Parem com a austeridade. Paremos com esta loucura", pois "se continuarmos a cavar não cumprimos nem na dívida nem no défice".
Ora bem, penso que o regresso do Engº José Sócrates, agora, ao comentário político, tal como há dias referi, é de uma importância fulcral. O contraditório será restabelecido e com a pujança de um político experiente e que, ontem, demonstrou ser, como vulgarmente se diz, um animal político. Com todas as reservas, aguardemos.
Ilustração: Google Imagens.
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