O que me levou a escrever, embora num breve apontamento ao correr do pensamento, foi o facto de ler as preocupações substantivas daquelas duas mulheres em contraponto com as eleições para o Comité Olímpico de Portugal que terão lugar hoje. De um lado, um candidato coloca quatro mulheres na sua lista de candidatura; do outro, um candidato esquece, já não digo a paridade, mas o que tem representado e representa hoje o universo das mulheres no cômputo geral dos resultados desportivos. Imperdoável.
Dr. José Manuel Constantino Quatro mulheres fazem parte da sua lista |
Há constatações absolutamente inacreditáveis. Já lá vou. Leio, na edição do Público (Domingo) a luta de duas mulheres (Graça Fonseca e Isabel Coutinho) candidatas à liderança do departamento de mulheres socialistas. Há ali um traço comum consubstanciado na “agenda progressista para a igualdade” e no risco de perda “dos direitos que foram conquistados”. Ambas sublinharam a importância de ser atingida a meta de 40%-60% definida pela ONU no que concerne à paridade no acesso aos cargos ou simplesmente na elaboração de listas eleitorais. É evidente que a paridade não pode constituir um factor absoluto. A competência deve ser determinante. E aqui, questiono, quantos homens de duvidosa competência ocupam lugares perante uma legião de mulheres de mão-cheia que ficam à porta? Por interesses mesquinhos e particulares e porque não fazem parte de núcleos que controlam as instituições, numa lógica de favores que se pagam ou, então, porque agora é a tua vez!
O que me levou a escrever, embora num breve apontamento ao correr do pensamento, foi o facto de ler as preocupações substantivas daquelas duas mulheres em contraponto com as eleições para o Comité Olímpico de Portugal que terão lugar hoje. De um lado, um candidato coloca quatro mulheres na sua lista de candidatura; do outro, um candidato esquece, já não digo a paridade, mas o que tem representado e representa hoje o universo das mulheres no cômputo geral dos resultados desportivos. Imperdoável.
Comandante Marques da Silva, uma candidatura de continuidade e que deixa uma imagem contra os princípios da igualdade. |
O que me leva, inevitavelmente, à leitura que arranjos de natureza eleitoral, de mesquinhos interesses por um lugarzinho, mesmo que discreto seja, acaba por ter mais peso do que os princípios e os valores que devem nortear uma candidatura que respeite a competência e a dignidade de uma instituição que deve oferecer ao País e a todo o sistema desportivo, que o mundo do desporto é de homens e de mulheres. A não ser que um dos candidatos, entre outros aspectos, não sinta roer-lhe a consciência pela significativa diferença na taxa de participação desportiva portuguesa entre homens e mulheres. E até neste particular uma lista de candidatos deve oferecer um sinal de preocupação, até porque o olimpismo não se esgota na representação olímpica. Finalmente, porque tenho presente, no quadro do movimento olímpico internacional, que a defesa da igualdade dos géneros é um dos princípios fundamentais.
Hoje é dia de eleições para a eleição do novo presidente do Comité Olímpico de Portugal. Conheço o meu Amigo Dr. José Manuel Constantino, já lá vão 44 anos, figura de quem fui colega naquela que hoje é a Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa. Apoio-o, incondicionalmente, porque neste processo de candidatura há um ciclo que se fecha e um tempo de esperança que surge no horizonte. Parece-me evidente que essa esperança alia-se a um sentido de mudança a qual terá de nascer de fora para dentro do COP. Quando uma instituição se reproduz a partir dela própria, o sinal que emerge é o da continuidade, é o dos acertos marginais que não alteram as políticas estruturantes. Ora, José Manuel Constantino é a figura que pode trazer ao Comité Olímpico de Portugal, essa necessária mudança, simplesmente porque a sua formação académica filia-se no desporto, existe nele uma enorme experiência gestionária, transporta um mundo de importantes relações com o associativismo, factores que lhe permitem trazer a inovação e a criatividade num quadro de agitação positiva de um movimento que precisa de sair, rapidamente, de muitos anos de rotinas.
Para além de uma necessária mudança, a qual, estou certo, o movimento associativo compreenderá, ela reveste-se de uma grande importância, por um lado, para os atletas, porque podem olhar para o Dr. José Manuel Constantino como a figura que, pela sua formação, melhor posicionado está para interpretar os projectos e as necessidades, por outro, porque a importância do COP não se esgota na representação nacional ao mais alto nível. Os princípios e os valores do olimpismo precisam de ser disseminados e integrados na mentalidade do povo e, nesse aspecto particular e de relevante importância, acredito que o COP possa vir a beneficiar do seu labor.
Não sou dirigente associativo. Apenas fui um treinador que teve o ensejo de qualificar um atleta para os Jogos de Seoul. Conheço, por isso, as necessidades e as angústias, os enquadramentos ou a ausência deles, por isso mesmo, sem qualquer menosprezo pelos dirigentes que pelo COP passaram, está na altura de uma mudança que permita que Portugal, apesar de todas as contingências e fragilidades, possa melhorar a sua respeitabilidade no seio das nações. Pelo que conheço, o Dr. José Manuel Constantino teria o meu incondicional voto. Espero que as eleições ao fim da tarde de hoje resultem na sua vitória.
Ilustração: Google Imagens
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