"As palavras são assim, manipuladoras, matreiras e até mal intencionadas"
"(...) E quis partilhar essa boa nova com a turma. Quis, também ela, ser pirata e tomar de assalto os seus colegas, mostrando-lhes que sair da normalidade implica reinventar-nos e, provavelmente, tornarmo-nos melhores. Brilhante lição de vida suportada por outra não menos brilhante exposição em powerpoint a fazer jus às exigentes demandas de qualquer oralidade que se preze. Tudo a postos. Entusiasmo ao rubro e, no abrir do pano, no preciso momento em que anuncia a obra de eleição, a voz cáustica da professora interrompe para manifestar a sua "franca desilusão" pela aluna em causa, ela, ter, nada mais, nada menos, do que escolhido "uma obra para criancinhas". A gargalhada coletiva subiu na mesma proporção do rubor da jovem que, num ápice, se sentiu passar de bestial a besta. E seguiu-se o descalabro... a voz trémula, a gaguez incontrolável, o peso descomunal dos minutos, a branca, a leitura automatizada dos diapositivos e o remate sem qualquer rasgo de brilhantismo. Depois, a procura desesperada pelo colo do pai que, por acaso, é meu amigo e que, numa conversa de café, me contou o sucedido, deixando-me a pensar, a mim que também sou professora e que também tenho comentários infelizes, na força das palavras ou da ausência delas. Lembrei-me de que, numa relação, seja ela entre quem for, o que é dito ou fica por dizer pode destruir ou, simplesmente, deixar de construir. Porque as palavras são assim, manipuladoras, matreiras e até mal intencionadas. Quando pronunciadas, têm sentidos que se perdem pelo caminho, ganhando outros à chegada, sempre piores. (...)"
Depois de ler o texto, que recomendo, lembrei-me de Rubem Alves, escritor, entre outros que há muito sigo, sobre a palavra EDUCAR, essa "capacidade de assombrar diante do banal". E aquela aluna quis sair da "normalidade", do banal, o que implicava "reinventar-se e, provavelmente, tornar-se melhor". Parabéns, Caríssima Eker.
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