Mas o mais interessante, por um lado, e penoso, por outro, é ver uma secretaria da Educação, que se agacha a tudo o que o ministério diz para fazer, contrariando a Autonomia Político-Administrativa, ao invés de defender um claro posicionamento contra este tipo de avaliação, vangloriar-se pelos resultados que, bem analisados constituem uma monumental derrota para o sistema: na disciplina de Português, 46,1% dos alunos tiveram uma avaliação negativa e, na Matemática, 33,1% não conseguiram o mínimo. A secretaria não fala dos alunos que ficaram para trás, antes potencia, politicamente, os que tiveram nota positiva, 53,9 e 66,9, respectivamente. Não questiona as insuficiências, divulga uma mensagem como se tudo estivesse bem. E não está. A escola e os professores não podem resolver os dramas que se escondem a montante. E enquanto não caminharem nesse sentido, obviamente que os resultados serão sempre muito semelhantes a estes.
O meu neto Henrique concluiu o 4º ano de escolaridade. Há dias viu-o um pouco ansioso. Até rejeitou parte do almoço quando tudo devora! Percebi o que se passava e dirigi a conversa para aquilo que considerei ser o motivo. Falei-lhe dos resultados dos exames de Português e de Matemática. E disse-lhe, por palavras que entendeu, tudo quanto escrevi num artigo que publiquei no Diário de Notícias no passado dia 01 de Maio: que nada substituía a avaliação feita pela sua professora ao longo de todo o ano (5 nas duas disciplinas - avaliação contínua), que nada substituía a seriedade, a honestidade, os livros que lê e o desejo de querer saber sempre mais. Disse-lhe, ainda: que os exames são uma aberração de um ministro que quer meter um ano de trabalho, de vivências múltiplas e de aprendizagens importantes em hora e meia de pressão; que só nós e Malta é que temos exames destes; que os primeiros seis anos de escola destinam-se, tal como fazer uma casa, a construir o alicerce sobre o qual se edificarão os pilares do conhecimento futuro. Uma casa com um péssimo alicerce cairá. Portanto, não é com aparentes pilares (exames) que se garante uma base sólida. Deixei-o à porta da escola para a sessão da tarde. Dei-lhe um beijinho e perguntei se tinha percebido a analogia. Respondeu que sim. Para ele, hoje, que confirmou os seus conhecimentos nos "exames" presumo que ficou aliviado. Largas centenas, certamente, que permanecem na angústia. Muitos terão de repetir os exames. Um massacre para as crianças e para os professores, cujo objectivo, nestas idades, deveria ser a de "ensiná-las a ver", na expressão do pedagogo Rubem Alves. E ensinar a ver tem muito que se lhe diga, tem muito de rigor, de disciplina e de conhecimento. Nestas idades, muito mais que um exame!
Mas o mais interessante, por um lado, e penoso, por outro, é ver uma secretaria da Educação, que se agacha a tudo o que o ministério diz para fazer, contrariando a Autonomia Político-Administrativa, ao invés de defender um claro posicionamento contra este tipo de avaliação, vangloriar-se pelos resultados que, bem analisados constituem uma monumental derrota para o sistema: na disciplina de Português, 46,1% dos alunos tiveram uma avaliação negativa e, na Matemática, 33,1% não conseguiram o mínimo. A secretaria não fala dos alunos que ficaram para trás, antes potencia, politicamente, os que tiveram nota positiva, 53,9 e 66,9%, respectivamente. Não questiona as insuficiências, divulga uma mensagem como se tudo estivesse bem. E não está. E estes "exames" confirmam.
No plano dos resultados nacionais, as médias constituem uma monumental derrota política do ministro Nuno Crato com 51,3% de negativas no Português e 43,1% na Matemática. Derrota política porque foi ele que criou e insistiu na necessidade dos exames a este nível. Isto apesar do reforço destas duas disciplinas, das preocupações dos professores e do "treino" intensivo a que se subordinaram durante meses em prejuízo de outras aprendizagens. Daí que defenda que não são os professores que estão em causa, mas o sistema educativo em geral e a questão social, em particular. A escola e os professores não podem resolver os dramas que se escondem a montante. E enquanto não caminharem nesse sentido, obviamente que os resultados serão sempre muito semelhantes a estes. Parafraseando, Rubem Alves, Crato não sabe ver! Oxalá que aprenda a ver a vantagem de uma escola exigente e de avaliação contínua.
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário