Que "grande" democrata, o senhor Roberto Silva, ex-presidente da Câmara Municipal do Porto Santo. A secretária da actual presidente entendeu desvincular-se do PSD e concorrer por uma outra força política. Acedeu candidatar-se, pelo que li, pelo PS como poderia ter optado por uma qualquer outra força política. Trata-se de uma cidadã livre e que deve ser respeitada. O lugar de secretária constitui um desempenho profissional e não um cargo de confiança política. Desde que cumpra a sua função com rigor e qualidade, pessoalmente, quero lá saber da sua opção política! Mas, para o senhor Roberto Silva, deputado, ou são todos do PSD ou temos chatice. Disse: “(...) Quando cheguei à concelhia, o partido tinha 270 militantes. Hoje tem 500 (...)". Perguntar-se-á duas coisas: primeiro, que influência teve no decorrer do desempenho do cargo, para arregimentar pessoas; segundo, terá o senhor Roberto Silva a certeza que todos os "apanhados" à mão votam no PSD? Até porque a Câmara já várias vezes foi de outra cor política!
Bom, mas isso pouco me interessa. Mais preocupado estou com a ausência de sentido democrático, quando se dirige à actual presidente da Câmara para, publicamente, "clarificar a sua posição" pelo facto de ter em funções, no seu gabinete de apoio, uma candidata do Partido Socialista, Ana Marisa Maia. Leio no DN: "o social-democrata não gostou nada de saber que a secretária da autarca do PSD-M vai ser número dois da lista do PS: "Damos um prazo até segunda-feira para que se pronuncie. Depois disso, iremos tomar as nossas providências”, reage quase num tom intimidatório". "A comissão política quer saber se a senhora presidente acha ou não razoável manter a sua confiança política nesse elemento". Questiono: confiança política? Uma cidadã que desempenha a função profissional de secretária? A ser assim, levado ao extremo, todos os chefes de departamento, todos os trabalhadores com grandes ou pequenas responsabilidades no desempenho da autarquia, teriam todos, repito, todos, de ser militantes ou simpatizantes do partido do senhor Roberto Silva. Onde está a lógica, o sentido democrático, o respeito pela liberdade de opção de cada um?
É claro que vem logo ao de cima a acusação rasteira que a cidadã em causa tem "sede de protagonismo e vaidade pessoal" e que "não esteja agarrada ao tacho". Volto a questionar: tacho? Então a função profissional constitui um "tacho". Ora bem, se a dita senhora não tem qualidade profissional há muito deveria ser afastada para o seu lugar de origem. Se não foi, só se pode deduzir que desempenha, cabalmente, as suas funções e daí o dever do senhor Roberto Silva seria o de respeitá-la no quadro da sua cidadania activa. É tão legítimo ao senhor Roberto Silva pertencer ao PSD quanto legítimo é qualquer outro cidadão ter opções completamente distintas. Há em todo este processo um aspecto que é preocupante: há gente que continua a conviver mal com a democracia, gente que ainda não percebeu que há um tempo para estar e um tempo para partir, que a pressão e a perseguição política sobre as pessoas tem contornos ditatorais e que o exercício da política não é um profissão, antes um serviço público à comunidade. Saberá o senhor Roberto Silva o que isto significa? Pressuponho que não, pelo "fanatismo" que evidenciou nas suas declarações. Deveria o senhor deputado estar mais preocupado com a palmeira que caiu, por negligência, que ceifou vidas, do que com uma secretária que, de forma livre, fez uma opção de serviço público à comunidade por um partido político. Ou será que "tacho" é saltar da Câmara para a Assembleia?
Ilustração: Google Imagens.
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