Tomei conhecimento pelo DN do que ressaltou de uma reunião dos candidatos do PSD às próximas eleições autárquicas: "O Porto Santo é uma responsabilidade de todos", pelo que há que recolher opiniões, diagnosticar problemas e ouvir propostas das pessoas que estão no terreno. Repitam lá outra vez porque não atremei bem: "responsabilidade de todos". Questiono, de todos? Seria de todos se, ao longo dos anos tivessem escutado as múltiplas vozes que alertaram para o caminho que estava a ser seguido. Seria de todos se, quem circunstancialmente deteve o poder, manifestasse inteligência política bastante para ser humilde e não arrogante nas posições políticas assumidas. Seria de todos se não tivessem querido controlar o poder, as instituições e as pessoas, instalando os princípios norteadores do medo que advêm do quero, posso e mando. Se assim tivessem feito, pois bem, hoje teriam legitimidade para olhar para a sociedade e solicitar novos contributos susceptíveis de romperem com a crise instalada. Não o fizeram, toda a gente sabe que não o fizeram, que se fecharam na sua concha partidária, esbanjaram e, politicamente, criticaram, perseguiram, silenciaram, que se atiraram a todos aqueles que tiveram a coragem de dizer que o rei ia nu. Todos conhecem as histórias de marcação política cerrada a este e àquele, na conversa de café ou em alto e bom som em cima do palco. Se existem empresas em insolvência, se o desemprego grassa, se a economia não funciona, se a pobreza atingiu valores preocupantes, há responsáveis pelo estado a que chegou o Porto Santo. A culpada não é, certamente, a Arquitecta Fátima Menezes que pegou no leme quando o mar já estava com gigantescas ondas. Há outros culpados, de responsabilidade maior, que vivem na Madeira, governam a partir da Madeira e que utilizam o Porto Santo como colónia de férias, ao jeito das antigas "datchas". Os culpados estão no Porto Santo, mas também por aqui, porque houve necessidade de vender cimento, muito cimento para alimentar grupos que, verdadeiramente, não estiveram interessados no crescimento sustentável, no desenvolvimento equilibrado da ilha no quadro de um conceito de "ecodestino irrepreensível". Estiveram interessados na sua riqueza, no seu bem-estar e não nos direitos que o povo do Porto Santo reclama. Hoje, o povo está a pagar uma tripla austeridade e quem a isso os conduziu deve ser julgado nas urnas.
Dr. Filipe Menezes de Oliveira uma alternativa credível e segura para o Porto Santo. |
Ora, parece-me hipócrita dizer que o Porto Santo é uma "responsabilidade de todos". Simplesmente porque há culpados, há gente que deve ser politicamente responsabilizada pelos erros cometidos. Lembro-me, quando tive responsabilidades políticas, de uma visita que realizei, em Novembro de 2010, no âmbito do Grupo Parlamentar a que pertencia. Nessa altura escrevi: "Estou a chegar do Porto Santo. Venho constrangido, de coração apertado. Chega a ser comovente para quem tem alguma sensibilidade económica e social. O Porto Santo vive um momento de angústia colectiva. Não há qualquer exagero nestas palavras. Não há movimento, a economia está paralisada, o desemprego é aflitivo e, naturalmente, a pobreza cresce. Alguns indicadores mais visíveis: hotéis fechados, outros a 10% (se estiverem) de ocupação, 92% das empresas em insolvência técnica, mais de 13% de desemprego, atrasos significativos nos pagamentos fiscais e de segurança social, problemas judiciais em crescendo resultantes de incumprimentos diversos, habitações devolvidas à banca, enfim, um quadro absolutamente catastrófico. O tempo das vacas gordas, das obras e mais obras, sobretudo as da Sociedade de Desenvolvimento que geraram emprego na construção civil, lá se foram, o tempo das promessas do governo regional da Madeira que geraram expectativas de futuro morreu e, hoje, as gentes do Porto Santo, tem os olhos pregados numa profunda crise, ainda muito antes, de lhes cair em cima as medidas de austeridade. Os relatos que escutei foram dramáticos e não há, repito, qualquer exagero. São reais e detectáveis aos olhos de quem conjuga os sinais. E o que mais magoa e entristece é que tudo aquilo que está a acontecer é consequência de uma total ausência de um plano estratégico. O Governo não soube criar e denuncia que não tem um caminho definido, uma estratégia portadora de futuro para aquela ilha. Enquanto o dinheiro circulou, na esteira das obras públicas, a situação real foi esbatida, todavia, hoje, é sensível que esse mesmo dinheiro não se reflectiu nas pessoas. Tratou-se de uma "estratégia" de fumo que se dissipou com o tempo. Do meu ponto de vista foi, politicamente, "criminoso" o que ali se fez. Se antes sabia-se da sazonalidade em termos turísticos, agora nem sazonalidade existe. São as ligações áreas e marítimas que estão por resolver, a vergonhosa política de preços de quem quer ou tem necessidade de sair da ilha, facto que coloca os habitantes do Porto Santo a terem de pagar preços exorbitantes, são os problemas da promoção turística, são os problemas da formação, da revitalização do comércio (e isso é possível), da fixação dos jovens, dos monstros que estão construídos, inacabados ou sem utilização turística, enfim, o Porto Santo é, hoje, um "Deus me acuda". Politicamente, não há perdão para quem permitiu o actual quadro. É indisfarçável a angústia que paira no Porto Santo e, por momentos, senti-me numa cidade fantasma".
Deixo aqui, novamente, este texto, passados dois anos e sete meses, onde os problemas então detectados, globalmente, mantêm-se e, alguns, até, agudizaram-se. Em Março de 2013 recebi uma carta que aqui publiquei (ler aqui), uma carta que falava de castigo e mudança. Já voltei a lê-la, compaginei dados e não me restam quaisquer dúvidas que há uma absoluta necessidade em dizer BASTA ao festim! Este ciclo político mentiroso, feito de peito no ar e de engorda de alguns, vai certamente terminar, dando lugar a uma nova geração de políticas liderada pelo Dr. Filipe Menezes. Não será fácil resolver os gravíssimos problemas herdados, mas há solução, com muito empenho, muita determinação, muita humildade, muita sensatez, aí sim, fazendo da Câmara uma grande mesa de diálogo com todos cidadãos. Mas, antes, os que mal se comportaram na gestão da coisa pública têm de ser postos fora. Se não, no futuro, com os mesmos e com as mesmas políticas, os portosantenses só poderão ter resultados idênticos aos de hoje. Porque causas iguais provocam consequências iguais.
NOTA:
A 24 de Fevereiro de 2012 escrevi um texto ao qual dei o título: "Não destruam o Porto Santo". Um texto a propósito de um artigo publicado no DN pelo Dr. João Welsh que aqui deixo o link para leitura integral. Saliento a seguinte passagem sobre o conceito de "Ecodestino Irrepreensível": "Um conceito cuja marca diferenciadora, à imagem de alguns destinos verdadeiramente "desenvolvidos" passaria por anunciar O QUE A ILHA NÃO TEM (limito-me a copiar conceitos): Somos uma ilha que NÃO TEM: Centros comerciais; cadeias de fast food; mega hotéis, all inclusives, time-sharing - só pequenas unidades - uma ilha que não tem carros (só dos residentes + táxis - todos eléctricos não poluentes). Um destino onde os peões, os ciclistas, as segways e os cavalos seriam os principais meios de transporte, sempre com prioridade sobre os poucos veículos eléctricos. Uma ilha em que, imitando bons exemplos, os sacos de plástico seriam totalmente banidos e seria feita uma aposta na agricultura biológica com vista a maximizar o consumo hoteleiro dos produtos agrícolas da ilha - por pouco expressivos que fossem. A implementação de um conceito desta natureza, só por si, constituir-se-ia numa imagem de brutal força promocional! Constituir-se-ia facilmente numa referência nos mercados gerando procura sustentada."
Ilustração: Google Imagens.
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