A reforma que vai ser apresentada e posta à discussão pública este mês tem esse propósito, segundo o chefe do Executivo: "nós queremos alcançar o entendimento o mais alargado possível, mas não vamos ficar à espera que toda a gente esteja de acordo para poder andar para a frente". Por outras palavras, do meu ponto de vista, isto é claro: o debate está aberto, mas o caminho já está definido. É assim e ponto final. O problema está exactamente aí, isto é, no que significa "andar para a frente". O que sabemos da prática política é a clara tendência para andar para trás, reduzindo direitos, empobrecendo e roubando descaradamente aos reformados e pensionistas. "Andar para a frente" na óptica do primeiro-ministro significa andar para trás na perspectiva dos portugueses em geral. Não tentam nivelar por cima, tudo fazem para que os pobres sejam cada vez mais pobres e os da quase extinta classe média sejam empurrados para os patamares da pobreza. O exercício da política não vai no sentido do bem-estar, antes dirige-se para as dificuldades crescentes, para a escravização e para a desesperança. E tudo com o discurso falacioso que tem de ser assim, que não existe alternativa e porque temos de pagar o tempo que "vivemos acima das nossas possibilidades". Mas quem e quantos viveram? Quem, no nosso País, fez vida de rico sendo pobre? Que responsabilidades têm as famílias em todo este processo maquiavélico em que governos e banca funcionaram?
O primeiro-ministro de Portugal é uma personalidade política que gera repulsa. Mário Soares, com 88 anos parece um jovem nas análises globais e nas convicções; Passos Coelho com 49 anos parece um velho. Mário Soares sabe do que fala, tem uma história de vida, de luta e de contactos em todo o Mundo, é uma personalidade reconhecidamente culta; Passos Coelho, pergunto, o que pode apresentar no seu currículo que ateste um profundo conhecimento do País e deste mundo em convulsão?
Trago Mário Soares à colação porque Passos Coelho comentou, em Vila Pouca de Aguiar, as declarações do ex-Presidente da República que, relativamente à política de austeridade da "troika", disse que está a levar o país ao "desastre" e ao "abismo", defendendo que é urgente demitir o Governo "incompetente" e "agarrado" ao poder. Pelo que assisto deve ser uma minoria os portugueses que não aplaude as palavras de Soares. Porém, para Passos Coelho, não, pois "um Governo que está suportado numa maioria do parlamento em eleições que ocorreram há dois anos só pode ser um Governo legítimo. Mal estaria o país se perante as dificuldades, as pessoas entendessem que era convocando eleições que elas se ultrapassavam ou resolviam, julgo mesmo que parte do povo português tem uma noção muito clara de que é exactamente ao contrário". Bom, sem mais comentários, ou é cego ou toma-nos por parvos. Basta seguir um qualquer serviço de notícias, ter em consideração os empresários, cerca de um milhão de desempregados e os números da crescente emigração, para percebermos que o quadro está negro e que este governo já não tem qualquer legitimidade: as promessas eleitorais foram todas deitadas por terra, os indicadores económicos, financeiros e sociais são desastrosos e o que se passa nas ruas e nas casas das pessoas testemunham que uma esmagadora maioria já não os suporta.
Mas ele, de braço dado com o seu amigo e protector Aníbal Cavaco Silva, sabe o que está a fazer. O tempo esvai-se e necessário se torna "rebentar" com os pilares que enformam as características do Estado português. Há gente de fora que o obriga a andar depressa. A proposta de reforma do Estado, para a qual espera, hipocritamente, uma ampla participação dos partidos e de todos os agentes, vem seguida de um aviso: “Não vamos ficar à espera que toda a gente esteja de acordo” para avançar. A reforma que vai ser apresentada e posta à discussão pública este mês tem esse propósito, segundo o chefe do Executivo: "nós queremos alcançar o entendimento o mais alargado possível, mas não vamos ficar à espera que toda a gente esteja de acordo para poder andar para a frente". Por outras palavras, do meu ponto de vista, isto é claro: o debate está aberto, mas o caminho já está definido. É assim e ponto final.
Pois... o nariz anda a crescer! |
Ilustração: Google Imagens.
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