Há textos e textos. Uns que tocam nas feridas que sangram, que nos levam a questionar por que razão tudo isto é assim, que razões conduzem a tanto egoísmo, a tanta malvadez, tanta insensibilidade e tanta mentira dita de forma séria; outros, que lemos e ficamos com a ideia de palavras juntas sem qualquer interesse na mensagem. Ontem, li e reli um texto do Padre José Luís Rodrigues que se enquadra em um conjunto de preocupações que interrogam e geram desassossego. Um texto que gostaria que tivesse tido origem no Bispo do Funchal e que fosse lido frente aos mais altos dignitários da Região e do País, em um daqueles momentos que a "corte", hipocritamente, assiste à celebração. Deixo aqui tal texto, para que se multiplique o número de leitores.
"Há desejos que são comuns a todos nós. Obviamente, que pairam no nosso pensamento, mas são tantas vezes desejos que recebemos dos outros que estão à nossa volta. Venham de onde vierem são os belos desejos do senso comum. A urgência por trabalho, salário digno para fazer face às despesas das famílias é o que se deseja, o ser humano não precisa que lhe façam caridade, mas que lhe reconheçam a dignidade. Nada é pior para uma família do que não ter condições económicas para levar para casa dignamente o pão para se alimentar. É, deveras, nojento e indigno, um Estado e um governo, que persiste em manter as coisas tais como elas estão.
Contribui para a crise, para a austeridade, para a fome, para o desemprego, numa palavra contribui para fazer continuar a miséria e mesmo assim proclamam à boca cheia que isto está salvo. Como pode estar salvo, se as pessoas não são tratadas a tempo e horas quando estão doentes? Mais ainda, se nos chegam as notícias hediondas, que chegam grávidas, bebés incluídos e idosos aos hospitais com fome? – Não nos enganem mais. O tempo urge e se salvaram o país economicamente falando, por favor, salvem o seu povo, que bem precisa de salvação.
As elites endinheiradas deste país pensam assim. Vivem como elites prediletas e iluminadas. Acham que a tudo têm direito mesmo que seja à custa da fome e da miséria. Não sabem que há neste país, grávidas com fome. Crianças com fome. Idosos desamparados e com fome. Desempregados desesperados. Famílias sufocadas por causa da carga de impostos, escolas a fechar e as que sobram com falta de material necessário para funcionarem, hospitais convertidos em morgues, porque não há material que os desinfeste e tantas outras situações que fazem mergulhar um povo inteiro no desencanto e na depressão…
E tudo à conta dos desvarios e desvios irresponsáveis destas inconscientes elites. Por isso, a vergonha já não tem limites e o insulto excede tudo o que a normalidade devia tolerar. Não podemos calar esta gente que nasceu em berço de ouro e que acha que pode açambarcar tudo à conta da miséria da maioria do nosso povo? Não se pode aplicar-lhes um corretivo? - Deve ser tomado tudo o que levaram do país indevidamente e restituir até ao último cêntimo ao Estado para que seja depois derramado na economia e nos serviços do bem comum. Os criminosos devem ser chamados a contas e a haver culpas, devem ser presos. Doa a quem doer".
Ilustração: Google Imagens.
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