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quinta-feira, 10 de julho de 2014

UM ARTIGO DE RAUL RIBEIRO PARA REFLEXÃO


A consequência natural deste mecanismo de “culpabilização da divergência” em nome duma unidade de fachada, artificial e artificiosa, faz com que se torne penoso o exercício da cidadania dentro dum partido. Muitos optam por sair, desiludidos e desgastados, outros mudam de partido (nunca mais se livrando de epítetos como “vira-casacas e ressabiados”), outros ainda rendem-se à evidência e remetem-se ao silêncio (aguardando serenamente que a “tigela de sopa” lhes chegue à frente), outros ainda persistem até à exaustão e ganham o duvidoso estatuto de mártires…

Deixo aqui, para reflexão, algumas passagens de um artigo de opinião assinado por Raul Ribeiro, na edição de hoje do DN-Madeira.

"(...) Não é novidade a cada vez menor identificação dos cidadãos com os partidos, a crescente recusa das lógicas aparelhísticas, a insatisfação (cada vez menos silenciosa) das próprias bases (desencantadas) relativamente às cúpulas (cristalizadas), e o progressivo alheamento que se traduz em níveis de abstenção assustadores… Assustadores se calhar não, porque às Direcções Partidárias bastam os votos suficientes para manter tudo como está: uma vitória eleitoral (mesmo que relativa) dificilmente é deslustrada pelo número de ausentes, enquanto uma derrota (mesmo que estrondosa) pode sempre resvalar para a conveniente diluição da culpa pelos abstencionistas.
Além disso, quando se ganha há mérito do topo, desse “topo” difuso onde cabem alguns dirigentes, familiares e amiguinhos (as) q.b., tudo gente ordeira, cordata e unida em torno dum ideal comum (leia-se “manter o poleiro”); nas derrotas a culpa é sempre alheia – os maus da fita não são os eleitores que alteraram o seu sentido de voto, não são as outras forças partidárias que apresentaram melhores argumentos, não são as tais cúpulas que persistiram num caminho errado, não…os inimigos dilectos são as temidas “oposições internas”! Esta perversão de conceitos permite transformar em vilões e “personas non gratas” os (ainda) militantes e dirigentes que ousam ter opinião própria (oh heresia!), têm o desplante de exprimi-la (oh infâmia!!), e para cúmulo ainda a difundem nas redes sociais ou através doutros veículos, como a imprensa (oh martírio, oh inclemência!!!).
Ilustração: Google Imagens.

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