Achei piada e soltei gargalhadas quando li estas duas posições no DN-Madeira de anteontem: nas Secretarias da Educação e da Saúde, lideradas por Jaime Freitas e Francisco Jardim Ramos, há contactos a dizer aos militantes, que são simultaneamente funcionários públicos, para não participarem em determinadas iniciativas políticas. “As pessoas vêm me contar”, disse Miguel Albuquerque. (...) Essa pressão é feita de forma discreta. “São procedimentos mais ou menos subtis” (...) “telefonam de uma instituição a dizer "não vá ao jantar ou ao convívio do Miguel Albuquerque se não deixa de ser nomeado ou a sua carreira está em perigo" (...). Uma outra foi a Dr. Miguel de Sousa, de frontal ataque ao presidente do governo, no quadro das suas últimas iniciativas e declarações. Sobre essas, no habitual artigo de opinião, sublinhou: tais posições "(...) não vão mudar seja o que for, pela simples razão de que não provocam menos desemprego, menos dívida pública, menos impostos, menos gastos públicos". Ora, um e outro parecem estar a tomar consciência do que aconteceu durante quase quarenta anos, no que concerne ao relacionamento entre o poder autocrático do PSD e a oposição. Eu diria que estão a provar o veneno distribuído pelo "chefe", perante o silêncio cúmplice dos próprios e de muitos que nunca tiveram a coragem de dizer basta. A posição do Dr. Miguel Albuquerque não trouxe qualquer novidade e, se ela existe, é apenas porque se deslocou da relação "poder-oposição" para a relação "poder-oposição+vida interna do psd". Quanto ao Dr. Miguel de Sousa, bom, o seu desenho parece-me, politicamente, mais interessante. É que a escrita dele é hoje a de um puro oposicionista apesar de ser vice-presidente da Assembleia Legislativa da Madeira. A espaços, como vulgarmente é dito nos meios políticos, mais parece um "perigoso esquerdista", tal é a sua crítica ou acto de contrição!
Toda esta movimentação de pessoas que dão a entender nunca terem tido nada a ver com o produto vendido durante anos, constitui, do meu ponto de vista, o maior espectáculo político de todos estes anos de democracia e Autonomia. Suplanta tudo, inclusive, os momentos de total desinteligência interna no PS, muitas delas fabricadas, que serviu para alimentar páginas, debates e aproveitamento no sentido da degradação da sua imagem pública. O momento do PSD é, portanto, único porque tem qualquer coisa de fantasmagórico. As cenas de falsa aparência, as ilusões de óptica, os malabarismos, os contorcionismos à mistura com algumas palhaçadas, enfim, todos os dias, quer o "chefe" quer os que caminham para a cadeira, oferecem aos espectadores situações divertidas de uma real irrealidade que diverte e impressiona. E o melhor virá a seguir, lá para o Natal ou após, quando o acto eleitoral acontecer. Será uma noite, agora sim, de "facadas" que se prolongarão semanas afora. O day-after será, presumo eu, muitíssimo mais conturbado do que os tempos de proposta. Alguém sairá presidente da contenda estatutária e ao actual, restar-lhe-á depor as armas, caso não renasça das cinzas e como salvador das hostes. É sempre uma possibilidade, aliás, já avisada.
O que lamento é que este quadro não esteja a ser devidamente equacionado por toda a oposição política. Pelo menos não é sensível o estabelecimento de pontes de convergência no sentido de acabar com esta podridão política a que se chegou após quase quarenta anos de governo de um só partido. A ideia que o cidadão comum fica, a não ser que alguma coisa decorra nos bastidores, é que cada um está voltado para a sua capelinha esquecendo-se dos desígnios da "paróquia". Cuidado, pressinto que teremos eleições antecipadas em Março ou Abril do próximo ano. Começa a ser tarde!
Ilustração: Google Imagens.
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