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domingo, 17 de maio de 2015

EXAMES NO ENSINO BÁSICO SIGNIFICAM A IGNORÂNCIA DE QUEM OS IMPÕE


Amanhã começam os famigerados exames do 1º Ciclo do Ensino Básico. Os exames que, assumo, caracterizo como os exames da vergonha e da ignorância de quem os decide. Já aqui publiquei, há já algum tempo, um estudo, publicado na revista “Science”, elaborado por Deborah Stipek, da Faculdade de Educação de Standford. Um estudo transversal realizado ao longo de 35 anos. A editorial da revista coloca em título: “A Educação não é uma corrida”. A investigadora é clara: “o sistema de exames produz especialistas em provas enquanto prejudica vidas que poderiam ser promissoras” (…) O sistema actual, baseado no desempenho em testes pode prejudicar muito a formação de grandes pensadores” (…) “Este ensino promove um verdadeiro extermínio de grandes mentes” (…) A maneira como a Educação está estruturada faz com que potenciais vencedores do Prémio Nobel sejam perdidos antes mesmo do final da educação básica”. No entanto, Crato, por um lado, e o governo regional, por outro, continuam a abanar o rabinho como se esta fosse uma grande solução para a qualidade do ensino.


Sou um adversário dos exames em idades que devem prevalecer o conhecimento generalizado e multiplicador e não este empanturrar de um conhecimento que não acrescenta futuro. E tanto assim é que são tantos os investigadores, de diversas áreas, que contra esta paranónia se posicionam, todavia Crato e companhia teimam em pensar que nada melhor do que um "examezinho" para pôr isto na ordem. Só que não tem colocado, pelo contrário, continuamos na cauda segundo múltiplos indicadores.     
O Professor José Pacheco, relativamente ao posicionamento de Deborh Stipek, sentencia: entre milhares ou milhões de homens e mulheres, "Ghandi, Picasso, Einstein, deixaram-nos um legado valiosíssimo, seguindo caminhos muito diferentes". Isto quer dizer que a Educação na escola não constitui a única forma de aprender. E se a Escola é importante, e é, o seu pensamento estratégico não pode quedar-se pelo pensamento que, penosamente, se arrasta desde a Sociedade Industrial.
Entro nas livrarias e até nos balcões dos Correios e vejo escaparates cheios de livros de "preparação para os exames" de Português e de Matemática. E quando lá entro lembro-me sempre de Deborah Stipek e de uma professora, Rosa Santos, que, a este propósito, em 2013, deixou no meu blogue o seguinte comentário: "(...) Permita que faça minhas as suas palavras e grandes verdades! Sou professora do 1º ciclo. Leciono uma turma de pequenos pensadores, grandes futuros sábios, que sempre incitei à reflexão, ao questionamento, à procura de respostas através da pesquisa autónoma. Através das perguntas dos meus Pestinhas, toda a turma aprendeu algo. Será que vão expressar nestes exames toda a aprendizagem significativa que foram abarcando no seu conhecimento? Não sei. E, se quer saber, não sei nem me interessa. Apenas me interessa o percurso de quatro anos recheado de momentos únicos e inesquecíveis! Acredito que, um dia, eles recordarão mais facilmente uma ou outra aula, um ou outro momento vivido nas quatro paredes da sala 9 ou na horta pedagógica ou nas brincadeiras do recreio, do que recordarão estas últimas aulas CHATAS, MONÓTONAS, bombardeadas de modelos de provas de exame! Bem haja pela partilha de seus pensamentos!"
Daqui concluo que só a ignorância de quem propõe este sistema justifica o que fazem. Duas perguntas a terminar: e se se preocupassem com o que se passa a montante, com os níveis de pobreza, com o desemprego, com a degradação da instituição família e com as razões do abandono escolar? E se se preocupassem com a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino, com uma rigorosa avaliação continua conducente ao "conhecimento poderoso" de efeitos multiplicadores?
Ilustração: Google Imagens.

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