Não sou jurista, não conheço o processo, não faço juízos de valor, não coloco as mãos no fogo relativamente aos arguidos, mas sou um cidadão, tal como todos os outros, que olha para as situações, analisa e que, naturalmente, se interroga. O Engenheiro José Sócrates vai continuar detido por mais três meses. É suposto que, quando se priva a liberdade de alguém, é porque existem razões substantivas e inequívocas após um longo e estruturado processo de investigação. No caso em apreço, penso que nem estava em causa o perigo de fuga, até porque, estando em Paris, regressou a Portugal sabendo que o investigavam. Ora, prender para investigar tendo por base alegados "indícios" parece-me muito pouco consistente e sobretudo transmite uma imagem muito perigosa para a sociedade. Depois, quando assisto, entre outros casos, a situações de banqueiros com "folha de serviço" negra, que colocaram depositantes/investidores na penúria, políticos de má fama que até são alvo de elogios, assisto, por outro lado, a um ex-primeiro-ministro privado da liberdade, repito, por indícios.
Todos devemos ser iguais perante a lei, obviamente. Todavia, julgo ser defensável que deveria existir um certo cuidado face a todos quantos desempenharam altos cargos na hierarquia do Estado. Em defesa da imagem dessas figuras (julgadas na praça pública antes de serem efectivamente julgadas) e da própria imagem internacional. Pessoalmente, sublinho, não gostaria, tarde ou cedo, de ver um Passos Coelho, um Paulo Portas ou Cavaco Silva, entre outros, presos preventivamente por alegados casos por onde passaram ou por negócios pouco transparentes. Daí que, primeiro, investigue-se (com descrição e sem fugas), julgue-se e, de acordo com irrefutáveis provas, em audiência de julgamento, condene-se ou não em função da lei.
Depois de, segundo foi público, um ano de investigação, e depois de seis meses de prisão preventiva, manter o ex-primeiro-ministro detido, leva-me a questionar as razões do procedimento, a imaginar outros contornos que não apenas as matérias de facto e a concordar com o seu advogado: esta é uma "justiça que me envergonha até ao vómito".
Ilustração: Google Imagens.
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