Pois é, mais escola não significa melhor escola, tal como mais trabalho não significa melhor trabalho. O problema é que a ignorância grassa nos sucessivos governos. Uma ignorância altifalante. Precisamos de produzir, logo, mais horas de trabalho, quando o nosso drama é, entre outros, de industrialização, de conhecimento que acrescente e multiplique a produção. Precisamos de nos aproximar da média europeia ao nível dos indicadores do sistema educativo, logo, carrega o Crato em mais horas nesta e naquela disciplina. Não entra a bem, entrará a mal! O drama é que apesar de mais escola não conseguimos descolar para o tal "pelotão da frente".
Tanto assim é que os números da rede europeia de informação sobre educação, a Eurydice, recentemente divulgados, onde são comparados os tempos de leccionação obrigatória em cada um dos 28 estados membros da União Europeia, veio confirmar aquilo que já se sabia: em Portugal, os alunos do 1.º ciclo têm exatamente o mesmo tempo lectivo mínimo de horas dedicadas à matemática e à língua portuguesa: 252 horas anuais. "Comparando com os restantes países europeus, os portugueses surgem como os que têm mais horas de matemática no 1.º ciclo, seguindo-se os franceses e os malteses (180 horas anuais). Isto é, os alunos têm mais setenta e duas horas e nem por isso estão no topo do conhecimento da Matemática. Nem da Matemática nem do Português! "Portugal e a Sérvia são os únicos países europeus onde os alunos mais jovens gastam exatamente o mesmo tempo a trabalhar a leitura, escrita, literatura e a matemática, revela o estudo". Ainda mais curioso é o facto de, ao estabelecer um mínimo de 810 horas de aulas por ano, o currículo do 1.º ciclo em Portugal coloca estes alunos entre os jovens europeus com maior carga horária lectiva. O tempo para ser criança é pura e simplesmente ignorado.
E naquela carga horária não estão contabilizadas as horas suplementares, gratuitamente leccionadas pelos professores, sobretudo de Português e de Matemática, de preparação para os famigerados exames do 1º, 2º e 3º ciclos. E não estos incluídos os "trabalhos para casa" e toda aquela paranóia para satisfação do obcecado Nuno Crato, que conduz milhares de professores a "treinarem" os seus alunos para o exame final, alguns, desde Janeiro. Como se o conhecimento pudesse assentar no treino ou como se o conhecimento se baseasse na formação de "especialistas em provas", como referiu a investigadora Deborah Stipek.
Ilustração: Google Imagens.
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