Faz hoje 129 anos. Tão poucos! Foi em 1886 que cerca de 500 trabalhadores invadiram as ruas de Chicago ao mesmo tempo que os Estados Unidos sentiam o peso de uma greve em todos os seus Estados. Reivindicavam o direito a oito horas de trabalho. A polícia carregou, dispersou e fez mortos. Mas aquele dia ficou para a História enquanto marco das lutas de quem trabalha. Porém, os que sempre tiveram essa obsessão por uma certa escravização, não desistiram e, hoje, é tempo de voltar a questionar: por onde andas 1º de Maio?
Hoje, assiste-se a uma nova e doce escravização. Emprego incerto, despedimento facilitado, mobilidade especial, corte nos salários, horas extraordinárias por um canudo, carreiras profissionais anos a fio congeladas, impostos dolorosos, extensão da idade de aposentação e severo corte nos cálculos após quarenta e mais anos de trabalho, enfim, oito horas de trabalho, oito de descanso e oito de lazer, por onde andas?
Arquivei e aqui deixo um texto (LUSA) com declarações da filha do Capitão de Abril Salgueiro Maia. O tal que Cavaco Silva, enquanto Primeiro-Ministro recusou uma pensão quando aquele se encontrava muito doente e que, hipocritamente, há dias, recordou os capitães de Abril:
"A filha do capitão de Abril Salgueiro Maia, a viver no Luxemburgo há quatro anos, diz que foi "convidada" a sair de Portugal pelo primeiro-ministro Passos Coelho, lamentando a situação actual do país, que compara ao terceiro mundo. Catarina Salgueiro Maia, de 29 anos, deixou Portugal em 2011, ano em que a troika chegou a Portugal e "em que o primeiro-ministro aconselhou as pessoas a ganhar experiência no estrangeiro", ironizou, recordando os apelos do Governo à emigração. Com o marido desempregado e um filho asmático, a filha do Capitão de Abril decidiu procurar trabalho no estrangeiro. "O meu marido esteve seis meses sem trabalho e foi quando decidimos arriscar. Ele tinha cá família e acabámos por vir", contou Catarina Salgueiro Maia à Lusa, durante um jantar de homenagem ao pai, organizado no sábado, 25 de Abril, pelo portal de notícias português Bom Dia, em que também participaram o deputado socialista Paulo Pisco e o cônsul de Portugal no Luxemburgo. "Eu saí do meu país, porque precisava de estabilidade financeira para criar o meu filho, que é asmático, e o medicamento não é comparticipado em Portugal, apesar de ser uma doença crónica", explicou. "Uma consulta de alergologia no hospital público demora cerca de dois anos e meio, e nem vou falar dos idosos que morrem nas salas de espera, é um horror", lamentou, considerando que "Portugal, neste momento, é um país terceiro-mundista".
Com três cadeiras por terminar no curso de Línguas, Literaturas e Culturas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Catarina Salgueiro Maia acabaria por só conseguir emprego como empregada num café português, no Luxemburgo, onde chegou a trabalhar "mais de 17 horas por dia", por um salário de 1300 euros, um valor inferior ao salário mínimo no país, que ronda actualmente os 1900 euros. Há um ano, a família decidiu regressar a Portugal, mas em Fevereiro acabaria por voltar para o Luxemburgo.
"Mais valia termos ficado quietos. Nós aqui temos uma ideia diferente da situação em que Portugal está: sabemos que Portugal não está bem, mas não temos consciência de que está tão mal", lamentou, garantindo que encontrou o país "pior" do que quando emigrou em 2011. No dia em que o pai foi homenageado pela comunidade portuguesa no Luxemburgo, Catarina Salgueiro Maia disse à Lusa que pensa "muitas vezes" no que diria sobre a situação actual do país o Capitão de Abril que comandou a coluna de blindados que forçaria a rendição de Marcello Caetano. "Às vezes digo que o meu pai, lá em baixo, deve estar às voltinhas no caixão. O meu pai lutou por uma democracia, por um país livre, correcto, aberto", recordou, lamentando que hoje haja "pessoas a passar fome, idosos que, ou comem ou tomam medicamentos, e pessoas que são postas na rua, por não poderem pagar a renda". Durante a homenagem a Salgueiro Maia, o deputado socialista Paulo Pisco considerou que o capitão de Abril "é um exemplo para todos os portugueses", recordando ainda a pensão que lhe foi recusada em 1988, sob o governo de Cavaco Silva, tendo sido depois atribuída a dois antigos inspectores da PIDE, um episódio que considerou "indigno da democracia".
Para Catarina Salgueiro Maia, o caso revela a "falta de coerência" do actual Presidente da República. "Ele primeiro deu prémios a ex-inspectores da PIDE que torturavam, que massacravam, que matavam, que prendiam, e recusa prémios a quem lutou realmente pelo país? Onde é que está a coerência dele?", questionou. "Acho ridículo uma pessoa que não deu o mínimo valor a quem lutou pelo país, na altura em que devia ter dado, conseguir subir a um palanque, 41 anos depois e dizer que vivemos em democracia e agradecer a quem fez o 25 de Abril", criticou a filha de Salgueiro Maia. "É bom saber que, fora de Portugal, o meu pai continua a ser lembrado, e que há pessoas que dão valor àquilo que ele e os outros capitães de Abril conseguiram para o país", disse, considerando que os ideais da Revolução dos Cravos deviam ser recordados durante "todo o ano". "É preciso que se vivam os ideais de Abril não só neste dia, mas ao longo do ano. Eu acho que é disso que Portugal também está a precisar: defender os ideais de Abril todos os dias, e não ser só para a fotografia", concluiu.
Ilustração: Google Imagens.
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