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sexta-feira, 1 de maio de 2015

POR ONDE ANDAS 1º DE MAIO?


Faz hoje 129 anos. Tão poucos! Foi em 1886 que cerca de 500 trabalhadores invadiram as ruas de Chicago ao mesmo tempo que os Estados Unidos sentiam o peso de uma greve em todos os seus Estados. Reivindicavam o direito a oito horas de trabalho. A polícia carregou, dispersou e fez mortos. Mas aquele dia ficou para a História enquanto marco das lutas de quem trabalha. Porém, os que sempre tiveram essa obsessão por uma certa escravização, não desistiram e, hoje, é tempo de voltar a questionar: por onde andas 1º de Maio?


Hoje, assiste-se a uma nova e doce escravização. Emprego incerto, despedimento facilitado, mobilidade especial, corte nos salários, horas extraordinárias por um canudo, carreiras profissionais anos a fio congeladas, impostos dolorosos, extensão da idade de aposentação e severo corte nos cálculos após quarenta e mais anos de trabalho, enfim, oito horas de trabalho, oito de descanso e oito de lazer, por onde andas?
Arquivei e aqui deixo um texto (LUSA) com declarações da filha do Capitão de Abril Salgueiro Maia. O tal que Cavaco Silva, enquanto Primeiro-Ministro recusou uma pensão quando aquele se encontrava muito doente e que, hipocritamente, há dias, recordou os capitães de Abril:
"A filha do capitão de Abril Salgueiro Maia, a viver no Luxemburgo há quatro anos, diz que foi "convidada" a sair de Portugal pelo primeiro-ministro Passos Coelho, lamentando a situação actual do país, que compara ao terceiro mundo. Catarina Salgueiro Maia, de 29 anos, deixou Portugal em 2011, ano em que a troika chegou a Portugal e "em que o primeiro-ministro aconselhou as pessoas a ganhar experiência no estrangeiro", ironizou, recordando os apelos do Governo à emigração. Com o marido desempregado e um filho asmático, a filha do Capitão de Abril decidiu procurar trabalho no estrangeiro. "O meu marido esteve seis meses sem trabalho e foi quando decidimos arriscar. Ele tinha cá família e acabámos por vir", contou Catarina Salgueiro Maia à Lusa, durante um jantar de homenagem ao pai, organizado no sábado, 25 de Abril, pelo portal de notícias português Bom Dia, em que também participaram o deputado socialista Paulo Pisco e o cônsul de Portugal no Luxemburgo. "Eu saí do meu país, porque precisava de estabilidade financeira para criar o meu filho, que é asmático, e o medicamento não é comparticipado em Portugal, apesar de ser uma doença crónica", explicou. "Uma consulta de alergologia no hospital público demora cerca de dois anos e meio, e nem vou falar dos idosos que morrem nas salas de espera, é um horror", lamentou, considerando que "Portugal, neste momento, é um país terceiro-mundista".
Com três cadeiras por terminar no curso de Línguas, Literaturas e Culturas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Catarina Salgueiro Maia acabaria por só conseguir emprego como empregada num café português, no Luxemburgo, onde chegou a trabalhar "mais de 17 horas por dia", por um salário de 1300 euros, um valor inferior ao salário mínimo no país, que ronda actualmente os 1900 euros. Há um ano, a família decidiu regressar a Portugal, mas em Fevereiro acabaria por voltar para o Luxemburgo.
"Mais valia termos ficado quietos. Nós aqui temos uma ideia diferente da situação em que Portugal está: sabemos que Portugal não está bem, mas não temos consciência de que está tão mal", lamentou, garantindo que encontrou o país "pior" do que quando emigrou em 2011. No dia em que o pai foi homenageado pela comunidade portuguesa no Luxemburgo, Catarina Salgueiro Maia disse à Lusa que pensa "muitas vezes" no que diria sobre a situação actual do país o Capitão de Abril que comandou a coluna de blindados que forçaria a rendição de Marcello Caetano. "Às vezes digo que o meu pai, lá em baixo, deve estar às voltinhas no caixão. O meu pai lutou por uma democracia, por um país livre, correcto, aberto", recordou, lamentando que hoje haja "pessoas a passar fome, idosos que, ou comem ou tomam medicamentos, e pessoas que são postas na rua, por não poderem pagar a renda". Durante a homenagem a Salgueiro Maia, o deputado socialista Paulo Pisco considerou que o capitão de Abril "é um exemplo para todos os portugueses", recordando ainda a pensão que lhe foi recusada em 1988, sob o governo de Cavaco Silva, tendo sido depois atribuída a dois antigos inspectores da PIDE, um episódio que considerou "indigno da democracia".
Para Catarina Salgueiro Maia, o caso revela a "falta de coerência" do actual Presidente da República. "Ele primeiro deu prémios a ex-inspectores da PIDE que torturavam, que massacravam, que matavam, que prendiam, e recusa prémios a quem lutou realmente pelo país? Onde é que está a coerência dele?", questionou. "Acho ridículo uma pessoa que não deu o mínimo valor a quem lutou pelo país, na altura em que devia ter dado, conseguir subir a um palanque, 41 anos depois e dizer que vivemos em democracia e agradecer a quem fez o 25 de Abril", criticou a filha de Salgueiro Maia. "É bom saber que, fora de Portugal, o meu pai continua a ser lembrado, e que há pessoas que dão valor àquilo que ele e os outros capitães de Abril conseguiram para o país", disse, considerando que os ideais da Revolução dos Cravos deviam ser recordados durante "todo o ano". "É preciso que se vivam os ideais de Abril não só neste dia, mas ao longo do ano. Eu acho que é disso que Portugal também está a precisar: defender os ideais de Abril todos os dias, e não ser só para a fotografia", concluiu.
Ilustração: Google Imagens.

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