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terça-feira, 24 de novembro de 2015

6.000 PROFESSORES EM SILÊNCIO


Os silêncios sempre me incomodaram, ainda mais os silêncios dos membros das diversas classes profissionais de qualquer sector de actividade. Reclamar à mesa do café, assumir posições à boca pequena, no grupo restrito, pelos corredores, na mesa da sala de professores, manter o silêncio nas reuniões quando apetece o contrário, nunca fez o meu jeito e, defendo, não deveria ser comum na vivência democrática. E se assim me posiciono é porque, no sector a que pertenço, lamentavelmente, assisto a mais de seis mil silêncios. Na Madeira trabalham mais de seis milhares de professores e contam-se aqueles, desde sindicatos até aos estabelecimentos de educação e ensino, que assumem, publicamente, concordâncias ou discordâncias relativamente ao estado do sistema educativo. Ao toque, de acordo com o horário, comparecem, "dão as aulas", assinam os livros de ponto, participam nas reuniões para as quais são convocados, preenchem aquela parafernália de documentos, avaliam, atribuem notas e dizem-se, no pequeno grupo, sempre ao colega do lado, que estão fartos, exaustos e que se pudessem mudariam de profissão.



Conheço como funcionam. Por vezes por medo, outras, porque a instabilidade profissional os "obriga", outras, ainda, porque consideram que entre sofrer e assumir a defesa integral do que gostariam de fazer, neste contexto, optam pelo sofrimento em silêncio. "Engolem" o síndrome de Burnout esse estado de exaustão física, emocional ou mental devido à pressão e responsabilidade, aguentam até ao limite as dores de cabeça, as alterações no sono, os problemas digestivos, mas preferem sofrer do que dizer basta. Os sindicatos que resolvam! "Engolem" todas as provocações, o corte de salários, os exames de acesso à carreira, as avaliações desprovidas de qualquer sentido, o congelamento da carreira, a indisciplina, eu sei lá, aguentam e aguentam e só no pequeno grupo desabafam e choram. Há assustadores níveis de violência no meio familiar e na sociedade, de causas múltiplas, todos condenam essa vergonha, mas não assisto à defesa dos professores que são vítimas de violência, não apenas por parte de alguns alunos, mas daqueles que têm a responsabilidade de governar e de os defender. Há "bullyingpsicológico em estado puro. Demonstrável. E vêm falar de ética, como o secretário regional da Educação o fez ainda há dias, na sede do Sindicato de Professores da Madeira, ignorando que a aplicação do conceito deveria partir e ser substantivo nos serviços que ele próprio dirige.
Poucas vezes vemos os professores dizerem basta. Lembro-me daquela grandiosa e justificada manifestação que reuniu mais de 100.000 professores contra as medidas da ministra Maria de Lurdes Rodrigues. Foi importante, porque o poder foi abalado pelo descontentamento patenteado na rua. E alguma coisa mudou. Pouco, muito pouco, é certo, mas a classe dos professores deu um sinal de vida. Hoje, a sensação que transporto é a de que, pensam, não valer a pena. Há braços caídos e um pavoroso deixa andar. Regressaram ao coma profundo. 
O sistema está morto, não evidencia sinais de mudança, o desrespeito campeia, a incompetência governativa é atroz, no Continente como por aqui o motor está engatado, umas vezes em primeira, outras, claramente, em marcha atrás, e os professores, em silêncio, continuam a dar para este peditório. Esquecem-se que nem o ministro nem o secretário regional são patrões de coisa alguma, apenas desempenham uma função política temporária. Nós somos funcionários públicos, não somos empregados do governo. Eles desandarão daqueles lugares e nós por cá continuaremos. É esta percepção que não existe e que eu lamento. É por isso que os professores têm o dever de se indignarem, de chamarem os bois pelo nome, de serem participativos no processo de construção de um novo sistema que propicie felicidade para quem o frequenta e satisfação plena para quem tem por mister o ensino-aprendizagem. Os professores têm o dever não apenas de cumprir horários, regras e de possibilitar a descoberta, mas a superior obrigação de, ao nível do conselho de turma, de departamento, de escola, formal ou informalmente, de participar, não segundo o que a hierarquia quer e impõe, mas, democraticamente, para gerar as dinâmicas propiciadoras de uma nova Escola. Os professores são sobretudo fermento, não são apenas farinha!
É evidente que há sempre quem não esteja para maçadas, quem goste de despachar o manual e pouco mais, pessoalmente preferiria verificar a existência de duzentos em silêncio e seis mil a ajudar a construção das bases do nosso futuro colectivo. É um erro esperar pelo ministério ou pelas palavras mansas, inócuas e sem futuro da Secretaria Regional da Educação. Por aí, nada feito, porque apenas têm um velho disco de 33 rotações, comprado há 40 anos, que tem passado de mão em mão, mas que toca sempre a mesma música.
Ilustração: Google Imagens.  

3 comentários:

Anónimo disse...

6 mil professores?! 6 mil? E quantos alunos há na Madeira?

André Escórcio disse...

Salvo erro, grosso modo, 47.950 em todos os graus.
http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/539529/destaque/539602-metas-para-atingir-ano-a-ano

Anónimo disse...

Muito obrigado.