"(...) Do próximo presidente espera-se uma interpretação mais lata e criativa do teor e abrangência do formalismo constitucional. (...) Pode constituir-se em consciência crítica, atuante, alertando para as situações de mal-estar social. Um presidente capaz de remar contra a maré, alguém habituado à escuta do mundo, com consciência cidadã e um apurado sentido de justiça, de solidariedade e de respeito pelo outro, na raiz das ideias. Os tempos de hoje e de amanhã exigem comprometimento com as grandes questões das pessoas de todos os lugares deste país feito de urbes litorais superlotadas e caóticas, interioridades e insularidades doentes de isolamento, em crescente e inquietante processo de abandono, desertificação e desumanização. (...) O presidente não pode assistir impassível ao crescimento brutal do desemprego, do empobrecimento, dos baixos salários, da precariedade a que estão condenadas esta e as futuras gerações. O presidente não pode encolher os ombros e refugiar-se na cidadela de Belém, quando a fragmentação da sociedade pulveriza a coesão social e a unidade nacional.
(...) É preciso voltar a colocar a cidadania - e não as questões financeiras - no centro do sistema político e restituir direitos inalienáveis de modernidade civilizacional às pessoas. Esta terá de ser a base de qualquer estratégia política de futuro. Não esquecer os 65% de seniores com pensões abaixo de 200 euros - a imagem da falha democrática do país - a maioria deles condenados ao abandono e isolamento; que a idade não é um problema de cronologia, mas de cidadania; que o aumento da esperança de vida é uma virtuosa consequência do desenvolvimento da humanidade à escala mundial e, sim, tem impacto na organização do Estado Social, no acesso aos direitos humanos, de que não podemos abdicar; que tudo no conjunto coloca novos problemas às famílias, à sociedade, à ação política, mas que urge compatibilizar com os valores da liberdade, igualdade e justiça. Ou não haverá democracia. (...) Há presidente para isto? Há. Alguém cujo posicionamento lúcido e crítico sobre o país, cujo percurso de rigor, de construtor de diálogo, congregador de diferenças, inspira confiança. (...) “Só vale a pena ser presidente da República, se for em nome de um conjunto de pessoas, de discussões, de temas, de questões de construção coletiva, em liberdade, sem medo…” De quem falamos? De Sampaio da Nóvoa, o candidato certo para Belém.
NOTA
Excertos de um importante artigo de opinião da Drª Júlia Caré, publicado na edição de hoje do DN-Madeira.
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