Há muito que me é doloroso seguir um telejornal. Angustia-me uma grande parte das notícias e sobretudo aquelas acompanhadas de imagens. Vivemos um mundo em ruptura, em permanente guerra, não apenas com armas convencionais de destruição e matança indiscriminada, mas também de outras situações que ofendem a dignidade do ser humano. Normalmente coincide com a hora de jantar e aí ainda mais penosa se torna a situação. O conflito, a bomba que explode, o negócio das armas, o drama dos refugiados, as crianças famintas e desorientadas, a morte semeada sem piedade, a violência gratuita, a riqueza de uns poucos à custa da extrema pobreza de quase todos os seres humanos, os donos da engrenagem financeira que consideram "lixo" um país quase milenar, a sistemática mentira política, dita sem pejo algum, que ofende, quando estamos a ver o filme da aldrabice, a permanente submissão a "Tratados" pacientemente armadilhados para que, a prazo, não possamos fugir do esmagamento (Berlim já avisou que "as regras são para se cumprir"), enfim, para onde caminhamos, é a pergunta.
Caminhamos, a maioria sem rumo, vivendo o dia-a-dia, enquanto alguns, marcham seguros dos seus passos que a ganância lhes impõe. Tornaram-se insaciáveis e escravos de si próprios. Que lhes interessa saber da morte de tanto inocente, se falta água potável, alimentos e escola para milhões, que só em Portugal, em 2014, 1218 pessoas, por desespero e crise, se suicidaram (números que pecam por defeito, sabe-se, afora os casos de tentativa), isto é, a cada oito horas há um ser humano que põe termo à vida, repito, que lhes interessa as causas desta dura realidade, quando nadam em um oceano de milhões. Um grande Amigo meu, há uns anos, integrou uma missão profissional ao Brasil. Foi recebido e jantou na casa de um magnata. Uma casa de revista, mas de onde se avistava uma das grandes favelas. A páginas tantas, a sensibilidade social desse meu Amigo, levou a questionar, com natural elegância, a situação dos que vivem na margem social. Respondeu-lhe de forma seca: "eu não sei nada de pobreza". E a conversa ficou por ali. Esta narrativa, muito localizada e específica, é certo, diz bem do sentimento de muitos que ainda não perceberam que para estarem bem e seguros, necessitam que todos os demais têm de gozar de um mínimo de dignidade.
Vamos acabar muito mal. É uma mera convicção. Desde logo, esta nossa Europa, cada vez mais doente e desnorteada, sem força e sem soluções, sem lideranças fiáveis, prisioneira dos interesses, submissa aos "mercados" e vergonhosas agências de rating, irá claudicar mais cedo do que se possa pensar. Não há quem aguente tanta incompetência, actos contraditórios e tanta insegurança nas decisões. E por tudo isto e muito mais, o receio invade-me porque da evidente instabilidade e desconfiança generalizada podem resultar indesejáveis situações de conflito. A teia está cada vez mais complexa e cada vez mais preocupante.
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Concordo plenamente. Vamos acabar muito mal. A cegueira de muitos ( de quase todos?) acentuando, aceitando, negando e ignorando a realidade de um mundo, perigosamente cada vez mais desigual, vai dar para o torto.
Obrigado pelo seu comentário.
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