"Eu acho que não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje" (...) "se se pode votar, decidir e definir (o Presidente da República) no dia 24", por que deixar para depois? Confesso que este tipo de declaração, conjugada com aqueloutra "(...) daqui a semanas sou presidente da República", enquanto cidadão deixa-me, não digo enervado, mas desapontado com a interpretação que Marcelo Rebelo de Sousa faz da Democracia, 40 anos depois de Abril. Para ele a eleição do mais alto Magistrado da Nação é coisa de somenos importância, é assunto de pescada (antes de o ser já o era), politicamente, transmite a ideia de ser adepto do prato à moda de tempos idos, de Américo Tomaz, por exemplo, cujo acto eleitoral constituía, apenas, uma confirmação do previsto na lei. Marcelo transmite o que lhe vai nas entranhas do seu pensamento e resvala, não se coíbe, é a rifa, tal como sublinhou o candidato Sampaio da Nóvoa "(...) votar em Marcelo é o mesmo que escolher uma rifa. Nunca se sabe o que nos irá calhar em sorte". Podia disfarçar, mas nem isso. Uma certa arrogância tolda-lhe a sensatez que deveria, no mínimo, transmitir.
Marcelo não aprendeu nada em quarenta anos de democracia. Ou aprendeu tudo! Conhece a idiossincrasia de uma parte do povo que não domina e não sabe cruzar as realidades envolventes, sabe que uma parte do povo não aprende com as experiências passadas e sabe, também, que há interesses instalados ao mais alto nível, que não fazendo campanha directa, dispõem de instrumentos que conduzem ao comportamento que esperam dos eleitores. "(...) Os senhores da aldeia têm a sua própria agenda política e resistem a quaisquer mudanças económicas e sociais que não se ajustem aos seus interesses financeiros. Juntos eles exercem um poder homogeneizante sobre as ideias (...) presidem à circulação de imagens e informações que determinam as crenças e atitudes e, em última instância, o nosso comportamento (...) tornaram-se gestores das mentes" (Ben H. Baddikian). Marcelo sabe disso, é catedrático nos meandros e bas-fond político, daí que não estranhe esta forma de viver e sentir a democracia. Mas está enganado.
Se há uma parte do povo, por razões diversas, educacionais, culturais, entre muitas outras, anda alheada da realidade, uma outra parte é esclarecida e está a ver o jogo. Que entre esta atitude de quem se sente superior aos demais, que transmite sinais de prepotência e de desprezo pelos outros, e um candidato que coloca a democracia acima de tudo, que transmite ideias e deixa ao povo a decisão soberana de, em liberdade, escolher, estou convencido que optará pelo segundo. Se Marcelo Rebelo de Sousa apresenta, na montra, o que tem apresentado, pergunto, o que não esconderá no armazém?
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