Assim é fácil ser governante. O governo da República decide alterar o "Modelo integrado de avaliação externa das aprendizagens no Ensino Básico" e o secretário da Educação do governo autónomo da Madeira vem dizer que é a favor das medidas, porque "(...) no fundo vêm criar condições para podermos avaliar aquilo que são as aquisições de conhecimentos dos nossos alunos". Curiosamente, em Maio passado, aquando dos exames de 2015, o gabinete do titular da pasta regional assumiu que o governante "fez questão de acompanhar pessoalmente o desenvolvimento das provas em diversas escolas" (DN-Madeira 19.05.2015) o que pressupôs o seu interesse, acordo e comprovação das medidas do anterior ministério liderado por Nuno Crato. Mais, ainda: na edição de 17 de Junho de 2015, a propósito dos resultados, novamente o gabinete tornou público: "A SRE tenta perceber a importância da continuidade pedagógica no rendimento dos alunos, uma tese querida a Jorge Carvalho". Que continuidade pedagógica? Aquela que tem conduzido ao insucesso e ao abandono, conforme ditam as estatísticas? Ora, é isto que lamento em um governante, porque dá a entender que governa conforme a onda, por não ter uma opinião consistente e sustentada no que concerne a um caminho a seguir.
Desta vez, assumiu o secretário da Educação que importante "é manter mecanismos que permitam aferir as aquisições de conhecimentos dos alunos ao longo do seu percurso educativo". Que mecanismos, questiono, e através de que sistema organizacional de estabelecimento de ensino? Qual a sua posição sobre a actual dinâmica curricular, programática e pedagógica? Manter tudo como está ou, no quadro de uma Região Autónoma, com Estatuto próprio, partir para uma outra estrutura que, a prazo, ganhe na qualidade e no esbatimento do insucesso e do abandono? Nada disse e nada se sabe. Lisboa que comande, Lisboa que mande o dinheirinho, Lisboa que legisle e ordene. Entendo que é um erro ir por aí.
É possível caminhar para um País com três sistemas educativos: Continental, Madeira e Açores. Porque nunca estará em causa a matriz essencial. O Português, a Matemática, a Geografia, a História, etc., pertencem à matriz de um Portugal do Minho ao Corvo. As questões que se colocam são outras, são as de pensamento e de políticas estratégicas, são as que se prendem com a organização geral do sistema no quadro da Autonomia. E sobre isto, ao longo de 40 anos, existe, por aqui, um ruidoso silêncio. Eu diria mais, uma demissão nas responsabilidades políticas. Das duas, uma: por fragilidade de conhecimento ou por incapacidade na negociação política. Ao contrário do que o secretário da Educação da Madeira referiu: "(...) aquilo que nos parece que seria importante é que estes processos (referia-se à avaliação) pudessem ter consensos alargados (...) e que não ficássemos aqui ao sabor do vento, em que se alteram os actores políticos e alteram-se também as lógicas e estratégias, eu acho que o sistema educativo, pela importância que tem merecia, efectivamente, que tivéssemos uma outra atenção e um outro compromisso"; eu contraponho, precisamos de alguém que, repito, no quadro autonómico, abane, altere, procure caminhos e modifique o sistema educativo. A Suíça tem 26 cantões e pela diferenciação das suas regiões linguísticas e culturais, desenvolve sistemas diferenciados de ensino e nem por isso, todos, deixam de convergir para a Confederação Helvética. A luta e o posicionamento político de um governo regional autónomo e de um secretário da Educação tem de ser nessa via e não no sistemático agachamento às medidas que são tomadas pelo ministério. Neste caso em particular, o dos exames, não deve andar ao "sabor do vento", guiando-se pelas estrelas, quando há tanto a fazer para que esta Região, com menos de 50.000 alunos, possa vir a ser um exemplo nacional e europeu. É o desafio estrutural que este governo tem pela frente, mas que pelo que se vê não chegará lá.
Ilustração: Google Imagens.
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