É inquestionável a necessidade e o direito de ser oposição, isto é, o dever de propor alternativa no quadro da responsabilidade política de acompanhar e de discordar com as opções de quem, circunstancialmente, exerce o poder. Não é fácil, mas é assim que a democracia funciona e exige. Mas há por aí uma geração de políticos que não nos levam a sério, que nós, os cidadãos, ou somos parvos ou andamos a tirar documentos para estúpidos. A propósito do Orçamento de Estado para 2017, quando oiço "(...) Parece que abriu a época de caça ao contribuinte (...)" - Assunção Cristas (CDS/PP) (...) e que "Cada linha deste orçamento é mais um aumento de impostos" - Duarte Marques (PSD), a ideia que me fica é a do apagão sobre tudo quanto se passou sobretudo entre 2011 e 2015, sobre aquela brutal carga de impostos que a coligação PSD/CDS impôs aos contribuintes portugueses. Assistimos a um saque, directo e indirecto, à substancial diminuição dos direitos sociais, a um compulsivo empobrecimento da população, à desregulação laboral, ao quase desaparecimento da designada classe média, ao aumento da pobreza e da saída de muitos milhares de portugueses para outras paragens, enquanto tentativa de sobrevivência. Alguém pode esquecer-se da severa austeridade que passámos e que ainda aí anda?
De Pedro Passos Coelho já nem falo, porque ali parece-me existir uma permanente angústia ainda por resolver, passados tantos meses, derivada do facto de ter sido apeado do poder através de uma maioria parlamentar e da convivência nos areópagos europeus. As suas declarações estão sempre envolvidas em tons negros, nunca de pendor propositivo mas de ave agoirenta e de subserviência ideológica a essa Europa sempre penalizadora para com os mais vulneráveis e portas escancaradas para quem serve os grandes interesses. Passos Coelho não me aquece nem arrefece, o que me custa aceitar é a falta de memória pelo que fizeram e que, de substancial, de nada valeu. O discurso que a sua via política era a única e imprescindível ao sucesso foi "chão que deu uvas". Meses a dizer que o "diabo" apareceria em Setembro, vamos em Outubro e, ao que parece, o défice vai ficar pelos 2,5%, embora de forma ainda que ténue, aos portugueses está a ser devolvida a parte que lhes sugaram, os pensionistas longe de estarem bem, sentem alguma atenção, os benefícios sociais estão de volta, enfim, a longa lista de compromissos entre os quatro partidos da base parlamentar, caminham com a segurança que nem a Europa consegue beliscar. Parece que alguns ficam aborrecidos por muitos estarem ligeiramente melhores. Que egoísmo!
Uma nota final: o novo hospital para a Madeira. Ah, pois, o cavalo de batalha dos últimos tempos. Uma vez mais assiste-se a um apagão na memória. Mas para que conste: "(...) Em 2001, a ex-Secretária dos Assuntos Sociais e Saúde, Drª Conceição Estudante, declarava que a opção vai para um novo hospital; em 2003, o Presidente do Governo assumiu que o vai construir em sete anos e que é prioritário; em 2004, o presidente do governo disse que, se for eleito, gostaria de inaugurar o novo hospital até 2008; em 2005, o presidente do Conselho de Administração do HCF assumiu que o actual hospital estava fora de prazo e em Dezembro foi anunciado o concurso público e, logo a seguir,que oito consórcios mostraram-se interessados; em 2006 foi dito que a obra avançava no final de 2008; em 2007, o secretário assumiu que a construção do novo hospital estava decidida, definitiva e irrevogavelmente. A partir de 2008, o PSD começou a oferecer sinais de dúvida, com o Deputado Jaime Ramos a dizer que o novo hospital não era uma necessidade urgente e básica; no entanto o presidente do governo continuou a sublinhar que a prioridade era um novo hospital. Daí para cá constatou-se o recuo, todavia, de trapalhada em trabalhada. Entre muitas a das expropriações (...)". Drª Rubina Berardo (PSD), "um jogo de espelhos"? Consulte os documentos e as declarações. Ficará esclarecida sobre os governos do PSD de há dezasseis anos a esta parte. O mesmo peço ao secretário regional da Finanças, personalidade que conhece todo o processo do hospital desde há muitos anos. Embora a construção do novo hospital seja uma prioridade, a par de tantas outras que estão à frente dos nossos olhos e que o governo regional não quer ver, manda a honestidade política que não atirem pedras quando têm telhados de vidro.
Ilustração: Google Imagens.
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