"Chamar-se-á Guilherme. É o nosso primeiro neto e esta não é a carta que gostaríamos de lhe escrever. O que desejávamos era poder escrever uma mensagem de boas-vindas a um mundo luminoso, de futuro esperançoso, que não estivesse a ser governado ao ritmo e ao gosto do capital financeiro, cujo poder se encontra plasmado nas siglas que todos conhecemos e nos rostos (sempre os mesmos) que aparecem diariamente nas aberturas dos telejornais, nos debates televisivos e nas redações dos jornais.
Como gostaríamos, Guilherme, de te apresentar a um planeta onde fosse possível anunciar que, finalmente, a fome a pobreza começaram a ser derrotadas; um planeta onde os responsáveis políticos e nós, os cidadãos, havíamos, finalmente,, que não somos os donos dele, mas apenas transitórios habitantes, que partilhamos com as plantas e os restantes animais, o mar, os rios, as montanhas, os desertos, as savanas e o futuro. Gostaríamos de te escrever sobre sociedades onde a democracia seria mesmo o melhor de todos os sistemas, depois de ter sido entendida como o melhor dos males quando o confronto se estabelece com a tirania das ditaduras; sobre como nos deixamos de contentar somente com a possibilidade de votar em eleições que deixaram de ser decididas pela força do marketing e da informação que, nos jornais, na rádio e na televisão, controla e decide qual a realidade que devemos conhecer.
(...)
Apesar de tudo o que está a acontecer, esperamos ansiosos por ti. Queremos-te connosco!
(...)
Por isso, também por tua causa, temos mais um motivo para continuarmos empenhados na construção de uma Escola que deixe de discriminar os alunos pela sua origem social e cultural, étnica e religiosa. Uma Escola onde a palavra inclusão não seja uma palavra vazia de uma ladainha que se invoca em discursos solenes. Uma Escola que seja um espaço culturalmente significativo e não um cemitério de ideias, uma espécie de monstro que a todos parece escapar e sobre o qual ninguém parece entender-se, enredados nas mil e uma armadilhas que não se resolvem e nos jogos de palavras sem sentido onde só ganha quem tem as cartas escondidas na manga. (...)
Bem-vindo, Guilherme!"
NOTA
Excerto de um texto dos Professores Rui Trindade e Ariana Cosme, publicado na edição de Verão da revista A Página da Educação, que ainda não está disponível aos leitores não assinantes. Um artigo onde me deliciei com as palavras sentidas e pela oportunidade em função do mundo que estamos a viver. Também digo, bem-vindo Guilherme. E parabéns aos pais e avós.
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