FACTO
"Não sou pressionável, não ando nervoso nem histérico (...) se querem um governante que ande ao sabor da opinião pública, não sou eu" - excerto das declarações públicas do Senhor Presidente do Governo Regional, a propósito de algumas petições oriundas, segundo o Dnotícias, de pais, encarregados de educação e dirigentes culturais.
COMENTÁRIO
Uns mais do que outros, dependendo das circunstâncias e dos interesses políticos em jogo, os poderes são sempre pressionáveis. Aliás, o lobismo, isto é, o trabalhinho de lóbi, de corredor, o exercício da influência que visa interferir, subtil e até descaradamente, nas decisões políticas, o que é senão um exercício de pressão? Por cá, a história de dezenas de anos, se fosse contada, com todos os pormenores, daria para um manual de venda assegurada. Portanto, seja qual for o contexto, aquelas são declarações para o exterior que, obviamente, não encontram sustentação na práxis política.
Por outro lado, na política é normal dizer-se que "o que parece é". Ora, o Senhor presidente do governo ao dizer que não é pressionável, pode estar a transmitir, exactamente, o contrário. Adiante.
Aliás, à luz dos princípios e dos valores democráticos, é fundamental que as lideranças políticas saibam escutar a voz que brota das manifestações populares, tenham ou não razão substantiva. Desvalorizá-las, menorizá-las não é próprio de um sistema (democrático) que apenas utiliza os eleitores no dia de eleições. E sendo assim, a uma liderança com credibilidade, compete-lhe, apenas, analisar e comunicar de forma persuasiva.
Nem de propósito. Ainda há pouco, de regresso a casa, ouvi o rapper Carlão no seu "Assobia para o Lado"...
"(...) A maioria não está necessáriamente certa
Questiona o que te dizem, mantém-te alerta (...)
(...) Não percas muito tempo a pensar no que vão dizer
Por aí, na dúvida sorri (...)" e... assobia para o lado!
Talvez esta seja a resposta que uma significativa parte da população dará.
Finalmente, um líder não é um chefe. Para Katzenbach (1996) o líder é uma pessoa que pela sua palavra ou pelo seu exemplo pessoal, influencia os pensamentos, comportamentos e/ou sentimentos de um significativo número de pessoas".
Neste contexto, eu também "assobio para o lado" porque a mesma figura que aparece sentada à mesa, com todo o governo, para almoçar a tradicional sandes de carne de vinho e alhos, infringindo a regra do distanciamento social, é a mesma que ainda ontem declarou: "(Vi) situações perfeitamente absurdas de pessoas a tomar copos em bares, uns em cima dos outros". Katzenbach tem razão quando fala do "exemplo pessoal" como meio de "influenciar os pensamentos, COMPORTAMENTOS e/ou sentimentos de um significativo número de pessoas".
Não se trata, pois, de "andar ao sabor da opinião pública", mas de ter comportamentos irrepreensíveis, saber escutar e saber decidir.
Há, pelo menos, seis constantes no exercício da liderança. Deixo aqui apenas uma: "todos os líderes devem construir e comunicar, convincentemente, uma história clara e persuasiva". Daquela forma, não, quem ouve a história acaba por "assobiar para o lado".
Sem comentários:
Enviar um comentário