Título de hoje Diário de Notícias de Lisboa:
"Em dois meses vão morrer mais 10.000 portugueses, tantos como até agora".
Dramático. Cientificamente, não sei nada de Covid19, ou melhor, apenas sei que o maldito vírus MATA. Comove-me o abnegado esforço, desde quase há um ano, de tantos profissionais de saúde. Gente que chora para dentro e bastas vezes para fora. Levarão alguns anos para recuperar o drama que, todos os dias, estão a viver. Isto deixa marcas. Noto que muitos se apresentam com um fácies marcado pelo sofrimento e pelas horas não dormidas. Imagino o sufoco de terem de decidir entre os que têm hipóteses de ultrapassar a situação face aos mais vulneráveis! Imagino o sofrimento ditado pela consciência de uma morte de sete em sete minutos.
Perante a pandemia e perante tantos que não tendo sido infectados, no entanto, sofrem de outras patologias, e, por isso mesmo, encontram-se entre a vida e a morte, o resultado é, indiscutivelmente, dramático. Por isso, é inaceitável que uma parte da população teime em não respeitar as medidas de confinamento. São duras, problemáticas para quem tem empresas, para todos os que, diariamente têm de lutar, eu diria, pela sobrevivência, mas constitui uma parte da solução enquanto a vacina não chega a todos. Trata-se de uma questão de vida ou de morte. Ao Estado, na medida do possível, exige-se o apoio justo às famílias que as circunstâncias exigem.
Sobre a escola. Julgo que o confinamento, desde a primeira hora, deveria ter abrangido os estabelecimentos de aprendizagem. A Região da Madeira apostou e bem no encerramento dos estabelecimentos. Deveria ter ido mais longe, a todas as idades. Oiço os cientistas e a maioria entende que constitui um erro mantê-los abertos. Podemos estar a cavar uma situação muito complexa.
O argumento que os jovens verão o seu futuro prejudicado, senão beneficiarem de uma aprendizagem presencial, constitui uma falácia, até porque a aprendizagem a distância pode esbater a ausência temporária do presencial.
No quadro do actual sistema o que deve ser acautelado é o estudo, por anos, do que é FUNDAMENTAL ter conhecimento. Há que excluir toda a tralha que nem adianta nem atrasa. É um embuste, nesta situação, querer o melhor dos dois mundos: combater a pandemia ao mesmo tempo que se deseja cumprir os extensos programas escolares.
Por outro lado, indo mais longe, o país deveria aproveitar a situação padémica para começar a alterar toda a ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE e, no âmbito específico da Educação, o formato que configuram os currículos, os programas e, sobretudo, o pensamento pedagógico.
Toda a estrutura em que assenta a organização da sociedade deve ser repensada. Mantê-la constitui um grosseiro erro. O último quartel do Século XX ditou, expressivamente, essa necessidade, a partir do momento que se verificou a crescente tendência da entrada da mulher no mundo laboral em igualdade com o homem.
É um contrasenso manter as lógicas organizacionais anteriores em um tempo que é substancialmente diferente. Da mesma forma que não faz sentido manter a estrutura na qual ainda se funda a escola, relativamente às exigências do conhecimento nos dias de hoje. Mais matéria não significa melhor preparação para o futuro, isto é, "mais escola não significa melhor escola". Tenham presente que, no actual quadro organizacional, ninguém é feliz: nem os professores, nem os estudantes, nem os pais ou encarregados de educação. Se o futuro está comprometido é por aí!
Por isso, a pandemia poderia e deveria constituir uma oportunidade para colocar em causa tudo, para novamente partir. Tarefa que leva muitos anos para consolidar.
Independentemente de tudo, regresso ao princípio: o vírus anda por aí e a morte espreita. Respeitemo-nos, respeitemos os profissionais de saúde e tomemos como certo que não são inesgotáveis os recursos de resposta do Serviço Nacional de Saúde.
Sem comentários:
Enviar um comentário