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sábado, 11 de junho de 2011

ESTAREI EU ERRADO?


A quem fala de "demérito" da oposição e particularmente do PS, eu aconselharia um mês de estágio em uma das estruturas políticas com assento na Assembleia Legislativa. Um mês onde pudessem acompanhar, das 9 às 21 horas, o dia-a-dia político de uma instituição que trabalha para ser poder. Acompanhar a vida dos parlamentares, os estudos, a elaboração das propostas, os constrangimentos, os contactos, as comissões e os chumbos; acompanhar a vida das direcções partidárias, a correria por todos os concelhos, os bloqueios, os contactos infrutíferos, enfim... talvez por aí falassem de merecimento da oposição e não de "demérito".

A lavagem ao cérebro continua!
Ligo a televisão da Madeira, em programas de actualidade política, e oiço falar, quase em exclusivo, dos problemas do Continente. É o governo da República para cá e para lá e pouco ou nada sai desta lengalenga. Passei pela onda da rádio, esta manhã, e zás, mais uma longa história sobre a República e a Constituição. Enfim, em programas locais, de grande importância, o fio condutor dos debates, raramente, muito raramente, se situam aqui, nos gravíssimos problemas que a Região tem de enfrentar. A ideia que fica é que os seus promotores, lamento ter de o dizer, foram colonizados pelas mensagens do presidente do governo, cujo sentido discursivo situa-se sempre ao nível do inimigo externo. A ideia que fica dessa espécie de colonização da consciência é que a Madeira não tem responsáveis, a Madeira tem uma Assembleia virtual, a Madeira tem um governo virtual e a Madeira tem um orçamento virtual. É virtualmente autónoma. Olhar para lá tornou-se mais fácil do que olhar para os dramas que nos rodeiam. Deveria ser ao contrário, isto é, o conhecimento local ser mais apurado, através de uma visão mais felina dos e sobre os dossiers. Porém, não é isso que, genericamente, acontece.
É evidente que admito e aprecio as posições contraditórias ao meu pensamento. Longe de mim a ideia de "colonizar" a consciência dos outros. Nem o conseguiria. Para mim torna-se importante contextualizar e relacionar quando oiço outras posições. É isso que, no meu caso, me faz reflectir, ponderar todas as variáveis e me manter numa interrogação permanente. Portanto, não é o facto de se falar da República que está em causa, mas a permanência e quase obsessão dessa focalização, a certeza ou a fragilidade das certezas que se apregoam ao mesmo tempo que se desloca o centro das preocupações que deveriam, entendo eu assim, serem eminentemente regionais.
O curioso é que se chega, quanto toca à Madeira, a incompreensíveis extremos de análise absolutamente sectários. Sobre os resultados, na Região, das últimas eleições legislativas nacionais, "pimba", lá vem ao de cima o "demérito" da oposição e a exaltação, no fundo, do jardinismo. E dou comigo às voltas à procura dos factores que exemplificam o tal "demérito". Percorro tudo o que foi realizado, as propostas apresentadas, as denúncias, o trabalho sério e empenhado que justificaram a apresentação de documentos e, apesar de alguns erros, globalmente, não encontro esse tal "demérito". Mas os mesmos que defendem esse desmerecimento da oposição e particularmente do PS-M, mostram-se incapazes de olhar para a claustrofobia política regional, para a propaganda realizada por 20.000 exemplares distribuídos gratuitamente, para a acção de 11 câmaras e 47 freguesias da mesma cor política, para todo o associativismo cultural e desportivo, para a capturação da sociedade em termos de pensamento livre e para toda a subsidiodependência. Não olham para aí, tampouco para o "demérito" do governo quando dele depende a estrutura económica e apresenta 20.000 desempregados; o "demérito" do governo quando gastaram à tripa forra e daí a gigantesca dívida de seis mil milhões de euros ao lado de um crescendo de pobreza, que as instituições de solidariedade quase não conseguem satisfazer as necessidades; não há "demérito" do governo quando os empresários estão já num ataque de nervos. O "demérito" é sempre dos outros. Da oposição, melhor dizendo. O epicentro do drama é Lisboa e não o Funchal. 
Bom, e esta manhã, zás, ligo a rádio pública e oiço mais ou menos esta pérola: que ontem o Dr. António Barreto falou da necessidade de uma revisão constitucional, coisa que Alberto João Jardim já diz há muito tempo. Passados uns momentos mudei para outras músicas. Por vezes a paciência esgota-se. Uma vez mais a apologia do "chefe", a vénia perante o "santo", perante o homem providencial. Valeu que um dos interlocutores logo disse que se enganam aqueles que pensam que o problema do País está na revisão Constitucional. Concordo. De facto, não está. A alusão à Constituição é um fait-divers, é tentar criar um alibi quando o nosso problema é outro, é estrutural, é de pensamento, é de política e de políticos sérios, de competência, de rigor, de um novo sentido organizacional da sociedade. Mas além acredita, por exemplo, que está na Constituição o condicionamento de uma sociedade mais educada, mais culta, mais disponível para a conquista do Mundo? É na Constituição que se encontram os impedimentos para que o ensino esteja estruturado nos princípios do rigor, da disciplina e das competências válidas para a vida? É a Constituição que impede o desenho de uma estrutura económico-financeira que nos permita produzir melhor e exportar mais? É a Constituição que impede a existência de rigorosas políticas de família? É a Constituição que impede um novo desenho da organização social? Portanto, uma vez mais, lá vêm com a história que o "chefe" disse, o "chefe" avisou e não vejo que se dêem à "maçada" de verificar o que se esconde por detrás dessa proposta. Podem dar a volta que derem à Constituição da República que o nosso problema, na Madeira (já agora no País), continuará a não ser esse, porque não será através dela Constituição que iremos gerar uma população mais feliz, de pleno emprego e com empresários satisfeitos. 
A quem fala de "demérito" da oposição e particularmente do PS, eu aconselharia um mês de estágio (acompanhamento, não é preciso mais) em uma das estruturas políticas com assento na Assembleia Legislativa. Um mês onde pudessem acompanhar, das nove às 21 horas, o dia-a-dia político de uma instituição que trabalha para ser poder. Acompanhar a vida dos parlamentares da oposição, os estudos, a elaboração das propostas, os constrangimentos, os contactos, as comissões e os chumbos; acompanhar a vida das direcções partidárias, a correria por todos os concelhos, os bloqueios, os contactos infrutíferos, enfim... talvez por aí falassem de merecimento da oposição e não de "demérito". 
Ilustração: Google Imagens.

12 comentários:

Anónimo disse...

Um povo sem educação moral,ética , cívica e sem tradição de intervenção pública terá direitos de reclamar justiça? Um povo que se demite de votar sobre o seu futuro merece ser ajudado? Um povo que se vende por prato de lentilhas?.Será que o povo Madeirense está preparado para uma verdadeira democracia? Haverá um politico com coragem para fazer uma dura crítica ao Zé Povinho Ilhéu? Quem´são os politicos com coragem para criticar o povo????

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Tão bem o compreendo. Só há um aspecto que, permita-me discordar de si: o povo não "se vende por um prato de lentilhas". Ele não é causa é consequência de um sistema e, portanto, é obrigado a cometer tudo o que lhe apresentam, inclusive, as lentilhas. Fizeram-no à imagem do que o "chefe" quer. Daí que, condicionado, a resposta é sempre igual. Estou hoje convencido que tudo isto foi meticulosamente engendrado através de um processo de clara intenção de confundir acesso com sucesso no sistema educativo. Portanto, não se pode esperar muito. Apenas continuar a defender princípios e valores para que o futuro de todos seja melhor.

André Escórcio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Espaço do João disse...

Meu Caro André.
Guardado está o bocado para quem o há-de roer.
A anemia irá atacar dentro em pouco todos aqueles "lambecus" como dizia ( Miguel Esteves Cardoso )e, depois já não haverá sangue que chegue para transfusões. A maMadeira, terá o seu fim. Já vi maior distância.
Um abraço.

Pica-Miolos II disse...

Senhor Professor
Conseguiu picar-me os miolos pois gostaria de conhecer o teor do comentário eliminado! Calculo que deveria ser um rasgado elogio ás "inverdades" que o Senhor escreveu...
Voltando ao tema do seu post,aqui vai uma sugestão a transmitir aos futuros deputados de São Bento: Que venham a esta RAM, delegações dos Partidos, sem aviso prévio, para assistirem, como público, a uma ou mais sessões do parlamento regional, para "aprenderem" o que é "democracia superior"...

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Quanto ao comentário eliminado, trata-se do mesmo texto de resposta a um "anónimo" que, por lapso, integrei de forma repetida.
Aproveito para corrigir a palavra "cometer" que deve ser lida por "comer".
De resto, concordo consigo. Um estágio vinha nuito a calhar. Aliás, não digo uma sessão, mas um mês de vivência desta envergonhada e maltratada Democracia.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário, Amigo João.
Penso que se paroxima o fim, mas terá de haver muito trabalho, muito bom-senso e muita qualidade na intervenção política. A ver vamos o que dá em Outubro.

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

Maquiavel já dizia que uma das melhores formas de congregar vontades é criar um inimigo externo. Nos tempos de Salazar Portugal tinha a suprema grandeza de ser inimigo da URRS, o que justificava todos os atropelos da sua governação. De igual modo, aqui na Madeira de Jardim, dada a pequenez de Porto Santo, o inimigo terá de ser o "Rectângulo". E assim, duma só cajadada, matam-se dois coelhos: justifica-se a ditadura e transfere-se a culpa para o bode expiatório do costume.

Vilhão Burro disse...

Senhor Professor
Em Outubro!?! Nesse mês, ouviremos o "campeão" anunciar a 45ª vitória, conquistada à custa do povo superior da Madeira Profunda! Bem me tenho esforçado para que os meus compadres arregalem o olho,mas receio que a minha mensagem tenha sido entendida como um apelo, não à face, mas à parte posterior do corpo... Quando derem pelo entalanço, que já começa a sentir-se, se calhar ainda sou corrido à foiçada por os ter "enganado"!!! Realmente, "Lavar a cabeça a burros - a excepção sou quase só eu - é perder tempo, água e sabão!"
Desculpe a imagem produzida, mas começo a desesperar...

André Escórcio disse...

Obrigado pelos vossos comentários.
A questão do "inimigo externo" tem exactamente esse quadro.
Quanto aos compadres, não desespere, continue a influenciar, pois a água e o sabão, apesar do IVA estar alto, vale a pena o esforço... Mas é complicado, se é!

Gaspar disse...

As suas análises são elaboradas. Mas poderão estar a pecar pela base. Na Madeira fez-se tudo mal (aponte algo bom no que foi feito a partir dos seus escritos).
A verdade é que o que defende o PS teve uma óptima experiência no Continente. Óptima pois é reveladora do que é capaz o PS no Governo.
Levou-nos à bancarrota.
E nós, por cá, infelizmente, vamos de arrasto.
PS? Não obrigado.
Será o povo ou o seu grupo de análise quem estará errado?
Já se colocou nessa posição de análise? Nesse ponto de vista?

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Trata-se de uma mensagem muito interessante. Bom, vamos por partes, embora num comentário curto.
Na Madeira não se fez tudo mal. Nunca o disse. Entendo que não podemos é, sistematicamente, desresponsabilizarmo-nos pelos erros que aqui são cometidos. Nós temos uma Assembleia, um Governo e um Orçamento próprio. E mais, temos a AUTONOMIA consagrada em Lei. E, portanto, não me parece de bom senso nem correcto do ponto de vista político, remeter para a República responsabilidades que são locais.
E neste aspecto, enquanto madeirense, creia que me preocupa muito mais o que aqui se faz do que aquilo que acontece no País. Eu sou militante de um partido mas não sou cego. E tanto assim é que não apoiei o Engº José Sócrates no último Congresso. Mas não lhe posso atribuir culpas governativas que ele, efectivamente, não tem. Não foi ele o culpado do desastre financeiro e da crise que se espalhou por todo o Mundo. Eu tento pesar as situações, colocando nos pratos da balança o deve e o haver da governação.
Agora, o que eu sei, como madeirense, é que temos já seis mil milhões de dívidas, 20.000 desempregados, 75.000 pobres e isso preocupa-me, como certamente preocupa a si.
É contra este estado de situações gravosas que me insurjo. Sabe, a partir de 2012 temos de pagar juros e capital das dívidas acumuladas. Mais de 20% do nosso orçamento regional ficará hipotecado ao serviço da dívida. E acresce a isto os problemas dos acordos com a "Troika". Como será o futuro imediato dos madeirenses se, durante trinta e tal anos, gastámos o que não devíamos? Como ficarão as empresas? E a pobreza?
Existe aqui uma claríssima bancarrota, só que não se assume.
Olhe para o sistema de saúde, para o que se está a passar nas escolas sem um cêntimo. Olhemos para os empresários que não conseguem liquidar as facturas...
Isto ainda funciona porque temos uma Segurança Social Nacional que vai esbatendo as dificuldades.
Nós não vamos de arrasto, penso que estamos a ser arrastados por uma governação que não tem tido (e mantém) a responsabilidade de determinar o que é prioritário e o que é acessório. Fizeram-se muitas obras sem retorno económico e social e isto acaba por ser como nas nossas casas... quando se gasta em demasia geramos um problema. Compreenderá que é assim.
Uma vez mais obrigado pelo seu comentário.