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domingo, 23 de dezembro de 2012

COM MÁGOA, LHE DIGO...


É bonito falar "dos valores de partilha, união, solidariedade, coesão e humanismo", mas como assumir estes valores quando o poder comporta-se de forma contrária, quando os governos não são inclusivos, antes são abertamente exclusivos através das medidas que toma, desde o poder que o Senhor representa na Madeira até o poder que por aqui inferniza e vegeta há 36 anos? As tradições, ao contrário do que sublinhou, não são um marco da força colectiva que une os madeirenses e porto-santenses", constituindo um "exemplo que deve inspirar, ainda mais, de forma a enfrentar os problemas reais e concretos". As tradições não resolvem problema algum, não aglutinam e não inspiram a fuga da frente do bulldozer político que esmaga e tritura. A tradição cultural vive-se, sente-se, estimula-se quando há esperança, quando existe um mínimo de felicidade estampado no rosto das pessoas. A tradição fica a um canto, embora nunca esquecida, porque é cultura enraizada, quando milhares de famílias sofrem na pele a dor de se encontrarem, ainda, no segundo patamar da pirâmide de Maslow.

 
Senhor Representante da República para a Madeira, quanto o Senhor está enganado! A quadra natalícia não se assemelha ao Carnaval carioca, onde dizem que "a vida são dois dias e o carnaval três". Há, portanto, que aproveitar.
"Esta quadra de convívio fraterno dá-nos força para a travessia do nosso quotidiano, por vezes, difícil e inquietante", disse. Olhe que não dá. Nem para os três dias milhares de pessoas desta nossa terra têm o mínimo, quanto mais para suportar os outros 362 de 2013! Isto não tem nada de exagero, apenas a verdade, dura e crua consubstanciada nos indicadores e na vivência real. O Natal, Senhor Representante, não deve ser construído com palavras bonitas, mas ocas e descontextualizadas da realidade económica, financeira e social. Não é Cristão. Pergunto-lhe, mas como pode um povo ser "engenhoso" e "resiliente" se não tem os instrumentos necessários para sair do sufoco, quando, diariamente, lhe cortam as pernas, subtraindo direitos, salários, subsídios, 13º mês e de Natal, impostos sobre impostos e quando o governo da Madeira, culpado primeiro da situação a que os madeirenses e porto-santenses chegaram, os meteu num colete de forças, melhor dizendo, de desemprego e de pobreza gritante?
É bonito falar "dos valores de partilha, união, solidariedade, coesão e humanismo", mas como assumir estes valores quando o poder comporta-se de forma contrária, quando os governos não são inclusivos, antes são abertamente exclusivos através das medidas que toma, desde o poder que o Senhor representa na Madeira até o poder que por aqui inferniza e vegeta há 36 anos? As tradições, ao contrário do que sublinhou, não são um marco da força colectiva que une os madeirenses e porto-santenses", constituindo um "exemplo que deve inspirar, ainda mais, de forma a enfrentar os problemas reais e concretos". As tradições não resolvem problema algum, não aglutinam e não inspiram a fuga da frente do bulldozer político que esmaga e tritura. A tradição cultural vive-se, sente-se, estimula-se quando há esperança, quando existe um mínimo de dignidade e de felicidade estampado no rosto das pessoas. A tradição fica a um canto, embora nunca esquecida, porque é cultura enraizada, quando milhares de famílias sofrem na pele a dor de se encontrarem, ainda, no segundo patamar da pirâmide de Maslow.
E o Senhor sabe que é assim, pela idade, pela formação, pela cultura e por ser madeirense. Por isso, esperava ler uma mensagem política contextualizada com o momento que se vive. O cargo de Representante da República é POLÍTICO, pelo que qualquer mensagem não deve ser de teor semelhante à do Senhor Bispo, ou de circunstância entre os que a "sorte" na vida bafejou. E podia fazê-la, pois não há nada na Constituição, nem o quadro institucional o impede, delicadamente, de chamar os bois pelo nome, isto é, de tocar nas feridas que sangram, enquanto político distante (não partidário) mas atento, actuante, influente, que levasse as pessoas a acreditar que pode haver um amanhã de esperança. Custa dizê-lo, obviamente que sim, pois eu conheço as teias do sistema. Mas não há alternativa a quem se predispôs ser uma espécie de fiel da balança. Custa muito não estar alinhado com o Presidente do Governo, obviamente que sim. Mas não resta alternativa a quem não confunde amizades pessoais com o dever das instituições pressupostamente democráticas. O problema reside aqui, o que me leva a dizer que os madeirenses e porto-santenses em vez de um, têm dois problemas (para além de todos os outros): o primeiro, o histórico silêncio do Presidente da República, que vê mas não vê, que está em Belém, mas não está, que se diz em reflexão e que actua com prudência, mas que nunca se dirigiu à Assembleia, ao que aqui se passa de desvirtuamento da Democracia; o segundo, é o Senhor Representante da República, nomeado pelo Senhor Presidente da República, que vivendo entre nós e, certamente, conhecendo os problemas do sul ao norte e do Porto-Santo ao Porto Moniz, não assume, através de alguns sinais, a necessidade de corrigir o leme desta desgraçada governação regional. O povo está, assim, entregue a si próprio, sujeito a uma maioria subtilmente déspota, sem ninguém para onde se vire e sinta alguma defesa face às suas angústias.
Tenho pena que assim seja. A nossa terra poderia ser um exemplo europeu, um exemplo nacional, de crescimento e desenvolvimento sustentáveis, de educação exemplar, de cultura, numa saúde, de acesso e sucesso invejáveis, de um tecido empresarial robusto, de emprego baseado nessa pujança, de contas públicas equilibradas. Poderia, mas não é, infelizmente. E isto está aos olhos de todos, que o nosso grande drama foi ter tido pessoas a governar sem qualquer preparação, que fizeram da política um emprego para a vida, e que se mantêm no poder graças a uma engrenagem perfeita que contou com o silêncio e o medo de muita gente. Lamento, mas o que acabo de escrever é o que me vai no coração.
Ilustração: Google Imagens.

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