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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

DR. EDUARDO JESUS, O PROBLEMA NÃO RESIDE NA CONSTITUIÇÃO!


No "Madeira Digital", rubrica "Mercado Global", li e reli um texto do Dr. Eduardo Jesus, presidente da secção regional da Madeira da Ordem dos Economistas. Enfim, trata-se de uma opinião e não mais do que isso. Respeito essa opinião, mas não concordo com a generalidade do texto. Tenho lido outras, de outros economistas, de sentido exactamente contrário. Aquela do Dr. Eduardo Jesus fez-me lembrar a velhinha história da mãe que, no juramento de bandeira do filho, comentou o facto de todos estarem com o passo trocado à excepção do filho. Para o articulista, Victor Gaspar foi uma eminência, o homem que "credibilizou a nossa imagem", tendo elevado "Portugal a um patamar internacional que já não se conhecia há muito e lutou por aquilo que pode salvar este país" (...) "um homem reconhecido, competente e capaz, deixou trabalho feito e que mais cedo ou mais tarde será, obrigatoriamente reconhecido". Ao ler isto, confronto-me com um outro economista, Paul Krugman, Prémio Nobel, que várias vezes contrariou as políticas austeras e pelos vistos sem sentido do ideólogo Victor Gaspar: "(...) Não me digam que Portugal tem tido más políticas no passado e que tem profundos problemas estruturais. Claro que tem, e todos têm, mas, sendo que em Portugal a situação é mais grave do que noutros países, como é que faz sentido que se consiga lidar com estes problemas condenando ao desemprego um grande número de trabalhadores disponíveis?" Repito, palavras do Nobel da Economia (2008).


E o que dizer de dois outros economistas norte-americanos, Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart que, no quadro da austeridade imposta, publicaram, em 2010, um estudo – com o nome de Growth in a Time of Debt (Crescimento num tempo de dívida)? De resto, Victor Gaspar, ele próprio pediu a demissão com este texto: "(...) o incumprimento dos limites originais do programa para o défice e para a  dívida, em 2012 e 2013, foi determinado por uma quebra muito substancial na procura interna e por uma alteração na sua composição que provocaram uma enorme quebra nas receitas tributárias. A repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto Ministro das Finanças". Estou apenas a constatar, sublinho, em oposição ao pensamento do Dr. Eduardo Jesus, o que disseram vários economistas, entre os quais um Prémio Nobel e o próprio Victor Gaspar que confessou a ineficácia do seu projecto de "salvação nacional".
Mas, talvez pior do que a defesa de um homem (Victor Gaspar) que tantos especialistas colocaram em causa (cada macaco no seu galho e eu nada sei de Economia), as suas contundentes declarações sobre a esquerda política, na sua opinião "vazia de ideias" e que, neste pressuposto, Victor Gaspar precisaria de um tempo "proporcional àquele que Sócrates precisou para destruir o País". Ora bem, eu respeito a posição ideológica do Dr. Eduardo Jesus, aceito que, politicamente, não goste de um qualquer socialista por perto, mas quer no plano político quer no plano da economia, quando leio, exijo profundidade e autenticidade no que se afirma, sobretudo às pessoas com responsabilidades. Relembro: não foi José Sócrates que baixou, no primeiro mandato, o défice público de 6,83% para menos de 3,00% (2,86% salvo erro)? Não existiu uma crise internacional que, qual vendaval, levou uma grande parte da Europa, desde a Irlanda, à Espanha, Itália, Grécia e França, entre outros? Não existiu um PEC IV, negociado nas mais altas instâncias europeias (reunião de Berlim), semelhante ao programa espanhol e que foi liquidado internamente? E saberá o Dr. Eduardo Jesus que a redução do défice para valores históricos não colocou em causa as grandes funções sociais do Estado? Portanto, questiono, então, de quem será a  responsabilidade pelas "insolvências, as falências, os leilões e as praças dos bens"? Apenas de um homem ou, porventura, daqueles que desejaram, rapidamente e de forma impreparada, no meio de uma crise sem precedentes, chegar ao poder? E que responsabilidades terá, na estrutura global do País, o actual Presidente da República quando foi Primeiro-Ministro, durante dez anos, num período crucial da nossa recente História?
Mas chocou-me uma outra parte do texto: "(...) vivemos num país em que a lei fundamental permite a falência do território". Essa não, porque é muito grave. Ao contrário do que, sumariamente, defende, os problemas que estamos a enfrentar não se ficam a dever "a estigmas extremistas de esquerda que marcaram, fortemente, a génese constitucional, num enquadramento revolucionário mas desastroso para Portugal". O Dr.  Eduardo Jesus deveria, julgo eu, questionar-se sobre o que escreveu, isto é, no mínimo, se o problema está  na Constituição, se o problema é fruto da incapacidade dos governantes que juraram cumprir a lei fundamental ou se, por detrás de toda esta condenação da Constituição não estará um fortíssimo empenhamento ideológico, no sentido da mais vergonhosa desumanização e perda de direitos do Homem. É que nem todos nasceram "patrões" antes de o serem! Que se questione, que olhe para o Mundo, para os desequilíbrios e para a génese, essa sim, que está a fazer emergir movimentos extremistas de direita que poderão colocar em causa os alicerces da própria democracia. Ainda ontem Manuel Alegre, entrevistado na SIC Notícias, falava da necessidade de muitos possuírem uma "cultura histórica e literária". É essa cultura que nos faz perceber melhor os sinais do Mundo.
Por aqui vou ficar, mas como nota de rodapé, não deixo de dizer que, para mim, enquanto madeirense, melhor teria sido ter lido uma opinião sobre o que se passa na Madeira, na economia e finanças da Madeira, do desastre da política ao nível das empresas e da empregabilidade, dos 25.000 desempregados e sobre a dívida de 6.3 mil milhões de euros fora as PPP (mais de dois mil milhões), numa análise aos responsáveis sobre o dramatismo que nos envolve e consome. Eu sei que sempre foi moda por aqui chutar para longe, mas é aqui que eu vivo. Eu sei que talvez pudesse correr o risco de ler que Alberto João Jardim era intocável e que o secretário das Finanças, Ventura Garcês o homem certo no lugar certo. Mas, pelo menos, ficava a perceber a posição do Presidente da Secção Regional da Ordem dos Economistas. Apenas uma opinião, com toda a consideração.
Ilustração: Google Imagens.

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