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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A ASSEMBLEIA E A NOVA ORDEM DEMOCRÁTICA


Vivi muitas derrotas políticas e senti a atitude dos vencedores que, atacados de uma repelente soberba, não olhavam a meios para os ataques mais indignos, desonestos e insultuosos. Chegavam ao Parlamento com o peito cheio de ar impuro e ali transbordavam, de língua afiada, todos os ódios políticos. Foram anos assim, de manifestações ostensivas de arrogância, de espezinhamento e de atitudes de quero, posso e mando. Não ouviam ninguém, tudo era chumbado. Foi assim na Assembleia e foi assim nas autarquias. As intervenções no período antes da ordem do dia eram profundas ladainhas em nome do poder de Jardim e de permanente ofensa a todos quantos se opunham. Assisti a tudo isso. O povo, diziam, "não quer saber nada de vocês", oposição, o povo sabe "quem põe a Madeira em marcha"! Hoje, coitados, no plano externo, estão reduzidos a quatro câmaras municipais, perderam o Funchal que constitui metade da população da Madeira e o maior centro de poder económico e financeiro e, no plano interno, estão enleados em uma luta que já teve o seu começo bem triste e ninguém sabe como acabará. Basta ler o Fenixdoatlantico de Luís Calisto. Rolam cabeças, há uma autêntica caça às bruxas, uns apresentam-se contra os outros, os golpes e traições sucedem-se, as velhas amizades desfazem-se em complexos azedumes, nos bastidores a intriga é por demais evidente e ressalta para o exterior, há sinais de debandada e de algum desespero, o grupo parlamentar apresenta-se dividido e envolvido em queixas no Tribunal, enfim, eu diria que estão a provar o veneno que distribuíram durante anos. 


No dia 15, na abertura dos trabalhos da Assembleia, é natural que surjam acabrunhados e sem pio. É um momento extremamente importante. Estou certo que a oposição saberá estar à altura, não devolvendo o troco de muitos anos e das atitudes de sucessiva maldade, incivilidade política, sectarismo e prepotência. É que, na Assembleia, ainda estão em maioria, é verdade, mas por pouco tempo, creio. E é preciso continuar a assumir a diferença, continuar o trabalho de combate político, o trabalho propositivo numa demonstração que a oposição é diferente, guia-se por princípios e por valores e não por interesses que extravasam o bem comum. As oposições não estão envolvidas em negócios, nem claros nem escuros, não ajudam a legislar de manhã para beneficiar à tarde e não estão sentadas à mesa do orçamento. Portanto, vivendo-se um momento de viragem onde todas as atitudes serão apercebidas pela população eleitora, impõe-se que as oposições sejam dignas, pois só ganharão espaço se conseguirem demonstrar a diferença. É a maioria que terá de perceber que não é dona nem do edifício da Assembleia, nem dos seus funcionários, nem do hemiciclo, em particular. A Assembleia tem de transformar-se na casa da Democracia e a maioria que se apoderou do primeiro órgão de governo próprio, têm dois anos, até às eleições de 2015, para se preparar para uma nova ordem democrática, simplesmente porque, mesmo a esta distância, parece óbvio que maioria absoluta "Jamais"! Essa adaptação será difícil para muita gente, ora se vai, mas é a vida. Ser-lhes-á difícil perceber que a nova ordem democrática virá para ficar e que isso impõe uma forma de ser e de estar completamente diferentes. 
E neste contexto, atenção oposições, é da vossa atitude, serena mas acutilante, mas sobretudo, superior, que esses senhores, que infernizaram a vida de muita gente, sentirão a dor que, política e intencionalmente, provocaram nos outros ao longo de muitos anos. Ainda ontem passei pelo mercado/feira do Santo da Serra. Um agricultor, a quem comprei produtos da terra, disse-me de forma clara e inequívoca: "isto foi o princípio, a próxima será pior. Mas os senhores que não deitem pelas mãos fora a confiança que o povo depositou". É a voz do povo. Que as oposições percebam essa voz.
Ilustração: Google Imagens.

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